A obsessão do investidor brasileiro com renda passiva

Em boa parte, o desalento do brasileiro médio com o futuro do país, que não cresce de forma robusta e sustentável há pelo menos 30 anos, faz com que ele/ela procure por soluções mágicas para atingir uma estabilidade financeira.
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Por Sérgio Goldman - 14/02/2024
4 min de leitura

Navegando na internet ou lendo o material nos principais veículos de mídia financeira no Brasil, notamos uma enorme quantidade de artigos sugerindo estratégia para ganhar dinheiro via renda passiva.

Li recentemente uma definição de renda passiva que é simples, e explica de forma objetiva o que é o conceito:

“…renda passiva se refere a ganhos financeiros gerados com um mínimo de esforço…”

Como diria o narrador esportivo Milton Leite: “Que Beleza…”

O dinheiro pinga mensalmente em sua conta, sem esforço e “sem risco” (só que não).

O aumento da popularidade da renda passiva tem como raiz o desejo de ficar rico rapidamente e mais ainda, sem fazer muito esforço.

Em boa parte, o desalento do brasileiro médio com o futuro do país, que não cresce de forma robusta e sustentável há pelo menos 30 anos, faz com que ele/ela procure por soluções mágicas para atingir uma estabilidade financeira.

Quais são os tipos mais comuns de exposição a renda passiva?

  1. Dividendos de empresas listadas em Bolsa;
  2. Dividendos de fundos imobiliários;
  3. Aluguel de imóveis e,
  4. Juros de instrumentos de renda fixa.

Desculpas se vou decepcioná-los, mas nenhum desses instrumentos é livre de risco.

Em todas as 4 opções acima, o investidor se expõe a dois tipos de risco:

  1. Risco de perda do principal e,
  2. Risco de retorno abaixo do retorno esperado.

O risco de perda do principal é bem direto; é quando o preço de mercado do ativo gerador de renda cai abaixo do preço de compra original do ativo.

Exemplo: Você compra ações de uma empresa boa pagadora de dividendos em 29 de dezembro de 2022. Passados um pouco mais de 1 ano, você decide vender as ações. Elas estão abaixo do preço de compra. Se realmente decidir vender, você incorrerá em perda do principal.

O risco de retorno abaixo do esperado é menos direto, mas fundamental na dinâmica de qualquer investimento, principalmente para investimentos em renda variável.

Quando investimos em uma ação, um fundo imobiliário ou compramos um imóvel para gerar renda de aluguel, esperamos auferir um retorno mínimo com este investimento.

Muitos comparam esses retornos com o retorno do CDI.

Esta comparação é inadequada.

Dado que o risco do investimento em renda variável é maior que o do CDI, o retorno esperado nesses ativos precisa ser maior.

Vamos a um exemplo:

Um investidor compra ações de uma empresa percebida como boa pagadora de dividendos.

Historicamente, essa empresa gerou um retorno com dividendos (dividend yield) de 8% ao ano.

Parece bom …8% ao ano sem esforço.

Mas…

Sabemos que o retorno total para um acionista deve ser calculado como a soma do retorno com proventos (dividendos + recompras) mais o ganho de capital (variação no preço da ação ajustada pelo pagamento de proventos).

O que aconteceria com a estratégia de renda passiva do investidor se o ganho de capital for 0% no período do investimento?

O retorno total para o acionista seria de apenas 8%, abaixo da expectativa de retorno com o CDI e bem abaixo do retorno esperado que o investidor tinha na decisão inicial pelo investimento.

O mercado usa o método do Capital Asset Pricing Model (CAPM) para medir retorno esperado de uma ação. Existem outros métodos, mas o CAPM é o mais usado.

O que diz o CAPM?

Retorno Esperado de Uma Ação = Taxa Livre de Risco + (Beta*Prêmio de Risco do Mercado de Ações).

Vamos assumir os seguintes valores:

Taxa Livre de Risco = Taxa de Título de Longo Prazo do Tesouro Nacional: 10,5% ao ano;

Beta = Mede o risco relativo entre a ação sendo analisada e o mercado como um todo; vamos assumir que no nosso caso a ação tem risco igual ao do mercado, portanto Beta = 1.

Prêmio de Risco do Mercado de Ações = uso 6% ao ano.

Portanto, o retorno esperado para investir na ação do nosso exercício deveria ser:

Retorno Esperado = (10,5% + (1*6,0%) = 16,5%

Bem acima do CDI e bem acima do dividend yield de 8%.

Conclusão bem direta:

Cuidado com a implementação da sua estratégia de renda passiva

Leia também:
Atividade de M&A esquentando no Brasil: implicações para empresas e mercado

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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