Como mitigar frustrações na migração de private equity para a Bolsa de Valores?
Recentemente tive oportunidade de conversar com gestores de fundos de private equity e alguns mencionaram a necessidade de implementar de forma mais eficiente o processo de migração de suas investidas para a B3.
Essa questão é bastante interessante, estratégica e vale algum tempo de reflexão.
Antes de iniciarmos propriamente a reflexão, sugiro olhar para o desempenho dos IPOs da safra 2020/2021 do início da negociação das ações em bolsa até hoje.
Com base no relatório “Strategy Monitor”, do BTG Pactual, publicado em 6 de junho de 2024, dos 41 IPOs que ocorreram desde 2021:
- Apenas 9 apresentaram desempenho superior ao do Ibovespa entre a data do IPO e o início de junho de 2024;
- 31 apresentaram quedas de mais de 20% no mesmo período enquanto 21 registraram quedas no período de mais de 50%.
Realmente é um desempenho preocupante que prejudica as gestoras de private equity (muitas das empresas que fizeram IPOs em 2021 eram de investidas de fundos de private equity) de duas maneiras:
- Mesmo que o IPO tenha sido precificado em um patamar atraente para os detentores das ações da empresa no pré-IPO, as gestoras de private equity geralmente mantêm ainda uma parte da sua posição na empresa. Portanto, se a ação despenca depois do IPO, vai acabar impactando negativamente o desempenho do fundo que ainda detém as ações, e
- Desempenhos muito negativos de IPOs de empresas que foram trazidas a mercado por fundos de private equity podem impactar negativamente a reputação da gestora.
Visando melhorar o processo de migração de empresas do mercado privado, onde um número limitado de investidores interage com a empresa, para a Bolsa, onde milhares de investidores precificam as ações da empresa, gostaria de deixar algumas ideias e sugestões:
Deixe um pouco de upside na mesa
Algumas vezes o processo de venda do IPO é extremamente bem-sucedido e um grupo importante de investidores está disposto a pagar um preço próximo ou até maior que o valor intrínseco da ação. Ainda assim, eu pensaria em precificar abaixo do valor intrínseco para que o desempenho da ação no pós-IPO seja positivo.
Tese de investimentos precisa ser crível e realizável
Não prometa algo que tenha baixa probabilidade de materialização. Uma vez que a empresa não consiga entregar o que foi prometido, haverá perda de confiança e depois para recuperar fica bem complicado.
Aponte alguém sênior para liderar a área de relações com investidores
O responsável pelo RI em uma empresa recém-listada precisa ser capaz de transmitir ao mercado todos os aspectos relevantes ligados à estratégia da empresa. Precisa pensar no longo prazo e não apenas focar no resultado do próximo trimestre. Precisa também liderar um esforço de todos os executivos-chave da empresa para educar os investidores sobre a empresa e muitas vezes sobre seu setor de atuação.
Escute as mensagens que o mercado está dando
Eu gosto de dizer que um dos motivos para uma empresa abrir seu capital é poder ter um feedback em tempo real sobre o que um grupo grande e diverso de investidores acha sobre as decisões da empresa. Mas para que isso seja uma vantagem, a empresa precisa estar aberta para considerar o que o mercado está falando.
Não se esconda quando tiver que transmitir notícias negativas
Vou enfatizar: credibilidade é um dos principais drivers de valor de uma ação. Quando a empresa perde credibilidade, a ação sofre e a recuperação é muito difícil e longa.
Leia também:
Sua empresa está preparada para o futuro?
Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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