O que é partnership para os escritórios de investimentos?

Especialista em Direito Societário explica o que é partnership no contexto dos escritórios de assessores de investimentos, e comenta as perspectivas para o modelo a partir das mudanças regulatórias que devem ser feitas em breve pela CVM. Ainda, traz dicas para a formatação de um partnership de sucesso. Confira.
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PorGorila - 23/09/2022
Atualizado em 27/09/2022
8 min de leitura

“Um acordo formal entre duas ou mais partes para gerenciar e operar um negócio e compartilhar seus lucros”. Ao recorrer à Investopedia, encontramos essa boa e simples resposta para a pergunta “o que é partnership?”.

Esse modelo de organização que transforma os colaboradores em sócios da empresa já está estabelecido no setor de investimentos, principalmente em grandes instituições financeiras. Basta olharmos para BTG e XP, e para a forma como eles próprios organizam-se internamente ao redor de um partnership, com objetivo de promover alinhamento entre seus líderes e executivos.

 O que é partnership para os escritórios de investimentos

Os escritórios de investimentos também vêm se inspirando nestas instituições e adotando um modelo semelhante. Este segmento, que abrange sociedades de assessores de investimentos, de consultores de valores mobiliários e de gestores de carteira administrada (ou multi-family offices), trabalha de forma complementar às corretoras e vêm crescendo rapidamente nos últimos anos.

Somente o grupo de assessores de investimentos reúne mais de 1.100 empresas utilizando este modelo no Brasil, segundo a Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos (ABAAI).

Com o aumento exponencial do número de assessores de investimentos, o modelo de partnership vem tornando-se uma realidade para cada vez mais profissionais: hoje são mais de 17 mil assessores certificados, o triplo de quatro anos atrás, aponta um levantamento realizado pela Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord).

O partnership vem se mostrando uma estratégia eficaz de retenção de talentos, além de ser um modelo que facilita o desenvolvimento profissional dos sócios e o crescimento dos escritórios de investimentos.

O reconhecimento do valor do partnership entre profissionais de investimentos vem ganhando maior importância nos últimos 2 anos, a partir de quando começaram a ocorrer mais acordos de fusões e aquisições no segmento de escritórios de investimentos. Neste período, aqueles sócios que possuíam uma participação mais relevante na sociedade (equity) realizaram ganhos expressivos com estes eventos de liquidez.

Saiba mais:

A importância da tecnologia para os escritórios de investimentos

A seguir, você confere um conteúdo focado nas especificidades do partnership para escritórios de investimentos, produzido com base nas opiniões de Guilherme Champs, sócio-fundador da Champs Law, em sua participação no videocast do Gorila, o Papo de Advisor.

Assista à entrevista completa:

Como o partnership funciona nos escritórios de investimentos

Partnership é um processo societário que, para ser implementado em um escritório de investimentos, demanda, de partida, uma vontade dos sócios em partilhar e compartilhar os resultados e as informações da empresa.

O primeiro passo para uma empresa implementar uma parceria dessa natureza é entender o que representa o partnership em termos de objetivos, os porquês dessa forma de organização.

E também as regras da relação entre os participantes da sociedade, ou seja, como são tomadas as decisões sobre a organização. Por fim, vem a preparação para esse processo junto aos sócios e acionistas. Depois desses entendimentos, olha-se para o aspecto jurídico.

É preciso criar uma estrutura jurídica para dar sustentação ao partnership. Estabelecer as regras do jogo passa por três grandes tópicos: a liquidez – fator muito importante no mercado financeiro e que deveria ser uma constante em qualquer indústria; a governança; e um pilar chamado de compromissos dos sócios.

Confira:

Investimentos com liquidez diária

Este último é o mais polêmico, pois trata de não competição, não aliciamento de pessoas, não solicitação de clientes. Enfim, apesar dos conceitos, não existem regras pré-estabelecidas. Cada operação tem um DNA e tudo precisa funcionar bem conforme o acordo societário.

Desafios do partnership

Implantar e praticar o partnership são duas etapas desafiadoras. Implantar passa pela cultura, afinal, quem embarca em uma empresa com os processos já muito bem delimitados não questiona muito as regras.

Fazendo um paralelo, é como quando você vai a uma instituição financeira com 50 anos de mercado e ela te dá um calhamaço de papel para assinar. Você não questiona muito os porquês, apenas decide se vai assinar ou não.

Vale destacar que, quanto mais tarde for implementado o partnership, mais difícil é o processo, porque são mais pessoas para negociar o modelo societário. Dessa forma, quando os fundadores se dedicam a estabelecer as regras das parcerias logo no início, melhor elas tendem a se desenvolver.

Gerir é igualmente desafiador. É preciso que os fundadores criem governança e estejam abertos a compartilhar os resultados com os sócios, com total transparência, para que o partnership seja bem-sucedido.

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Como construir um partnership de sucesso

Como definir o que é um partnership de sucesso? O ponto de partida é a transparência. O que faz uma pessoa querer se tornar sócia de uma empresa é a credibilidade da gestão. Em segundo lugar, vem aquilo que é chamado de organismo vivo, que é, em resumo, a análise de performance.

É uma etapa difícil do partnership, porque a partir de uma avaliação negativa, pode ser necessário chamar um sócio que não está performando bem para corrigir sua participação no negócio, e isso não é simples de fazer. O organismo vivo passa anualmente por correções a maior ou a menor, justamente para prestigiar aqueles que têm as melhores performances.

Além disso, para o partnership ser bem-sucedido é preciso:

– Alto engajamento dos sócios, fator que eleva a qualidade das entregas e dos relacionamentos;

– Cultura sólida que priorize relações éticas e facilite a conduta dos profissionais diante dos desafios do dia a dia, dos mais simples aos mais complexos. Estudo da Deloitte sobre capital humano mostra que 51% dos profissionais consideram a cultura um dos pontos mais críticos para o desenvolvimento das organizações.

Juntos, todos esses fatores contribuem para um partnership de sucesso nos escritórios de investimentos.

Recomendações para quem está iniciando o partnership

Em primeiro lugar, o planejamento. É preciso mergulhar na operação e entender a sua complexidade com a simulação de cenários. Nesta etapa, é realizada a análise de risco, que modela os instrumentos e cenários societários para apontar os riscos relacionados à tomada dessa decisão.

Quanto antes for implementado o modelo de partnership, melhor para os sócios e para a empresa, porque o próprio modelo é fruto de uma maturidade. E os profissionais envolvidos no partnership precisam ser comprometidos inclusive com a gestão financeira da companhia.

Ter conhecimento financeiro e uma gestão eficiente é importante tanto para começar a rodar o modelo de partnership como para amadurecê-lo. Quanto antes o programa for estruturado e colocado à prova, corrigindo erros e permitindo a sua maturação, maiores as chances de sucesso da operação.

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Recomendações para evoluir um partnership já maduro

O que é um partnership maduro, afinal? Quanto mais “velho” o partnership, melhor ele tende a ser. Porque já decantou e evoluiu ao longo do tempo, passando por ajustes e correções para manter-se saudável.

Esse processo inclui o alinhamento claro entre os sócios e o estabelecimento de uma cultura forte, conforme já foi abordado. Mas passa ainda por um ótimo planejamento de negócios, além da revisão do Contrato Social e do Acordo dos Sócios e da elaboração de documentos sobre a aquisição de participação societária, tecnicamente chamada de Stock Options.

Para quem já tem um partnership maduro, o desafio é sempre a questão do organismo vivo. Falar em diluição e correção societária é difícil, porque uma vez corrigida a participação societária de um sócio, pode inclusive acarretar sua saída da operação.

Mas as operações mais maduras precisam encarar essas conversas para reciclar o partnership, levando-se em conta que a condição de sócio é temporária – as pessoas estão sócias, não são sócias. Esse é o mercado, ninguém deve acreditar que o equity é uma condição imutável. E esse é um desafio dos partnerships maduros.

A nova regulação da CVM

O mercado financeiro é forjado nos programas de partnership, por isso há uma preocupação em organizá-lo dentro de um ambiente extremamente regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A nova regulação da CVM é esperada para o último trimestre deste ano. É a grande pauta do momento e tem movimentado bastante os escritórios de investimentos. O texto deve trazer alterações como o fim da exclusividade dos escritórios com corretoras, dessa forma, será permitida a distribuição de produtos de diferentes plataformas e bancos.

Outra mudança significativa deve ser a autorização do ingresso de sócios investidores. Hoje, é vetada a entrada de profissionais que não sejam assessores de investimentos nos partnerships.

Com a mudança, sócios não registrados junto à CVM como assessores de investimento poderão fazer parte do negócio, trazendo benefícios na captação de recursos para expansão, bem como crescimento em escala e equidade com outros participantes do mercado.

Por fim, outro tema que deve ser impactado é a transparência da remuneração dos assessores. Com a nova regulação, a comissão que o assessor ganha, que sai da taxa de administração dos fundos que os clientes contratam, será informada aos clientes. Bem como os ganhos das gestoras de fundos e das corretoras.

Mudanças e tendências em partnership

Hoje, os escritórios segregam atividades: tem o core, que é atividade de assessoria, mas tem os produtos não regulados, com atividades mais relacionadas a banking, como câmbio, seguro e previdência.

A evolução do mercado passa por uma organização societária que junte tudo isso de forma harmônica no partnership. Da forma como está estruturado hoje, com tudo segregado, gera insegurança jurídica para o modelo.

A CVM vem ouvindo o mercado e os escritórios de investimentos, e tem sido muito competente nas proposições. E aí entra também o escritório de Direito Societário para desenhar as estruturas de partnership, processo que passa não só por uma organização societária, mas por conceitos voltados à natureza jurídica dessas empresas.

Por exemplo: quando formar uma sociedade anônima ou uma sociedade limitada? Será uma empresa-veículo ou um partnership? Tudo isso deve ser analisado.

Além disso, tem a questão do próprio assessor, em relação ao tipo de vínculo de trabalho. Ou ele continua PJ, ou vai para um modelo de relação de trabalho mais clássico, que pode gerar atrito com o próprio modelo do partnership.

Enfim, não há ainda uma regra pré-estabelecida. Cada operação é única e o mais importante é entender a complexidade de cada caso.

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