Duas visões sobre a bolsa brasileira: uma tática e uma estratégica

Um exercício que acredito possa ajudar em tomadas de decisões no mercado brasileiro, que é um mercado com baixa visibilidade de futuro, é olhar para ele com um olhar tático e outro estratégico.
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Por Sérgio Goldman - 26/02/2024
3 min de leitura

Existe um forte consenso circulando pelos agentes do mercado de ações do Brasil de que a bolsa está barata.

O principal argumento é:

Se olharmos o indicador Preço/Lucro (PL) do Ibovespa, considerando as expectativas de resultado e não os resultados passados, ele está em um nível abaixo da sua média histórica; na verdade está negociando abaixo da média histórica menos dois desvios padrão.

À primeira vista é realmente um nível baixo.

Entretanto é importante mencionar que a negociação está abaixo da média menos dois desvios padrão DESDE 2021.

Eu insisto:

Basear decisões de investimentos no mercado de ações em um, ou poucos, indicadores é muito arriscado.

Um exercício que acredito possa ajudar em tomadas de decisões no mercado brasileiro, que é um mercado com baixa visibilidade de futuro, é olhar para ele com um olhar tático e outro estratégico.

Olhar tático:

Buscamos levantar quais fatores do cenário macro e de empresas irá influenciar o mercado de ações:

  1. Inflação em queda: deve fechar 2024 em por volta de 4%;
  2. Queda da taxa de juros de curto prazo: Selic deve estar em 9,5% ou até um pouco menos no final de 2024;
  3. Juros longos não estão acompanhando a queda da Selic. Incertezas com o comportamento dos juros nos EUA e falta de confiança na política fiscal local mantém taxas domésticas de juros longas elevadas;
  4. Contas externas bastante confortáveis deixam pouco espaço para o real se desvalorizar de forma significativa;
  5. No ambiente de empresas, a expectativa é de termos um aquecimento na atividade de M&A;
  6. Algumas small caps estão realmente negociando em níveis bastante atraentes.

No olhar estratégico, penso em quais fatores deverão impactar o mercado brasileiro em prazos mais largos, pelo menos cinco anos. Meus principais pontos são:

  1. Em um cenário mais provável, não deveremos ter um aumento significativo da produtividade da economia brasileira…
  2. …com isso, devemos permanecer com um patamar de crescimento econômico medíocre nos próximos anos; na média, é pouco provável que a economia brasileira cresça mais que 2,5% ao ano na média dos próximos 10 anos;
  3. Ceticismo permanecerá elevado em relação ao comprometimento do setor público com o equilíbrio fiscal;
  4. Busca por equilíbrio fiscal continuará a privilegiar aumento de carga tributária com pouco esforço em redução de despesas;
  5. Reformas estruturais feitas no passado precisarão ser complementadas ou mesmo refeitas;
  6. Polarização política dificultando muito a implementação de programas de mitigação das demandas sociais;
  7. Atividade de M&A permanecerá elevada com empresas tendo que buscar parceiros e investidores na busca por melhorar suas posições competitivas.

Considerando o olhar tático, vejo razões para estar posicionado de forma seletiva no mercado de ações no curto prazo.

Mas considerando o olhar estratégico, me preocupa bastante a baixa capacidade que o país vem demonstrando em enfrentar seus problemas estruturais.

Leia também:
Confiança como alavanca de crescimento e criação de valor

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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