Vamos falar sério sobre educação?

Faz todo sentido investir recursos financeiros e gerenciais para aumentar o nível de alfabetização financeira no Brasil. Entretanto, precisamos de um questionamento de quais tema são prioritários, quais podem ficar para um segundo momento e principalmente, quem deve ter a responsabilidade de transmitir os ensinamentos para a população.
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PorSérgio Goldman - 16/05/2023
3 min de leitura

O tema educação financeira ganhou espaço nos últimos anos, impulsionado principalmente pela popularização e diversificação da oferta de produtos financeiros que ocorreu com o crescimento das grandes plataformas de investimentos.

As próprias plataformas buscam oferecer produtos de educação financeira como parte de suas estratégias de fidelização de seus clientes. 

Dez entre dez influenciadores em finanças nas mídias sociais se posicionam como defensores de educação financeira.

Quem sou eu para criticar esta postura?

Educação financeira, como qualquer avanço em educação, deve ser comemorado. 

Entretanto, acho que vale a pena entendermos exatamente como deve ser abordado o tema, quais são as reais necessidades da sociedade e, como melhorar a oferta de conteúdo para aqueles interessados no tema.

Para isso, vou usar como referência uma pesquisa global realizada em 2014 pela S&P Rating Services que buscou medir o nível de “alfabetização financeira” (financial literacy) nos diversos países no mundo.

Na pesquisa, o conceito de “alfabetização financeira” foi definido como: “…pessoas alfabetizadas em finanças têm a capacidade de fazer escolhas em temas relacionados a poupança, investimentos, financiamentos, além de outros…”

Na pesquisa, 150.000 adultos de 140 países foram entrevistados e as perguntas foram divididas nos seguintes 4 grupos:

  1. Diversificação de risco;
  2. Inflação;
  3. Entendimento da função dos juros e,
  4. Juros compostos.

Não deve ser surpresa para ninguém que o Brasil não obteve uma boa colocação no ranking da pesquisa.

Os resultados da pesquisa mostraram que, no Brasil, apenas 35% dos entrevistados poderiam ser considerados alfabetizados em finanças, número que se compara a uma média global bastante baixa também de 33%.

Dinamarca, Noruega e Suécia, com 71%, foram os países mais bem colocados na pesquisa, seguidos de perto por Canadá e Israel com 68%. 

Como curiosidade, nos Estados Unidos, 57% dos entrevistados foram considerados alfabetizados em finanças.

Pensando nos dados desta pesquisa, faz todo sentido pensarmos em algumas sugestões ligadas ao tema educação financeira no Brasil:

Faz todo sentido investir recursos financeiros e gerenciais para aumentar o nível de alfabetização financeira no Brasil. Entretanto, precisamos de um questionamento de quais tema são prioritários, quais podem ficar para um segundo momento e principalmente, quem deve ter a responsabilidade de transmitir os ensinamentos para a população;

Conteúdo básico deveria incluir prioritariamente os tópicos abordados na pesquisa da S&P: diversificação de risco, inflação, juros e juros compostos;

Eu complementaria esses tópicos com discussões específicas sobre equilíbrio orçamentário e planejamento financeiro de longo prazo. O tema planejamento financeiro se torna urgente, considerando o envelhecimento da população e as precariedades do sistema previdenciário brasileiro e,

A capacidade do indivíduo escolher sozinho os produtos financeiros que vai consumir não deveria ser prioridade. Prioridade seria treiná-lo a escolher seu assessor financeiro e como ser capaz de decidir se este está prestando um serviço de valor agregado. 

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Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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