O portfólio eterno

Estava passando os olhos nos meus livros de finanças este fim de semana quando me deparei com The Forever Portfolio, livro escrito por James Altucher em 2008. O autor é gestor de fundos de investimentos e colunista do Financial Times.
O subtítulo do livro dá uma boa ideia do que o autor buscou atingir ao publicá-lo: “How to pick stocks that you can hold for the long run (como escolher ações que você possa manter em carteira no longo prazo)”.
Confesso que tenho um interesse especial no tema investimentos em ações para o longo prazo.
Esse interesse advém do fato de acreditar que a única estratégia vencedora no mercado de ações do Brasil é investir para o longo prazo.
Essa estratégia não isenta o investidor de avaliar suas posições em períodos mais curtos.
Não estamos falando aqui de algo caricato tal como “compra e esquece”.
Pelo contrário; como mencionei acima, a avaliação do investimento em cada posição precisa ser feita mensalmente ou, na pior das hipóteses, trimestralmente.
E aqui quando falamos de avaliar as posições não estamos falando de apenas calcular o desempenho das ações no período analisado, mas sim de respondermos à seguinte pergunta:
O que mudou na nossa tese de investimentos original desde a montagem da posição?
- Se nada mudou, mantemos a posição mesmo que o desempenho das ações não tenha sido satisfatório.
- Se algo mudou, reavaliamos e decidimos se faz sentido manter a posição.
Voltando ao livro de Altucher, ele usa duas questões principais para desenvolver sua estratégia:
- Quais as tendências demográficas que estão acontecendo no mundo e que possam oferecer oportunidades de investimentos com retornos atraentes e,
- Quais as empresas mais bem posicionadas para se beneficiar dessas tendências.
Na época (2008), Altucher levanta 4 candidatas a fazerem parte do “portfólio eterno”:
- Empresa de proteção a computadores (contra vírus, riscos cibernéticos, etc.);
- Empresa fabricante de armas não letais;
- Empresa de apostas pela internet e,
- Empresa de produtos de luxo e design de joias.
Usando como inspiração o livro de Altucher, me parece bem interessante, ao criarmos uma carteira de ações brasileiras com visão de longo prazo, nos perguntarmos se estamos confortáveis em afirmar que a empresa em análise é forte candidata a fazer parte de uma hipotética “carteira eterna”.
Digo a vocês que, infelizmente, vejo pouquíssimas empresas que poderiam se qualificar ao status de fazer parte da carteira eterna.
Os dois nomes que me vem à mente no primeiro momento são WEG e Gerdau.
Coincidentemente, as duas têm histórico longo no mercado de capitais, vêm sobrevivendo ao ambiente extremamente volátil da economia brasileira e, muito importante, têm operações internacionais que as expõe a competitividade necessária para se tornarem jogadores eficientes em suas respectivas arenas de atuação.
E os grandes bancos brasileiros não seriam candidatos à carteira eterna?
Nesse momento minha resposta é NÃO.
Me preocupa bastante a falta de padrão de qualidade dos serviços prestados pelos bancos, principalmente para o cliente pessoa física.
Esse é um aspecto pouco discutido pelo mercado, que prefere focar apenas nos resultados financeiros.
Mas a baixa qualidade do serviço oferece uma oportunidade a um possível novo entrante que perceba uma estratégia eficiente de se beneficiar dessa fraqueza nos bancos incumbentes.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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