Porque a temporada de resultados do 1T23 é diferente?

Nesta semana se inicia de verdade a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) das empresas brasileiras de capital aberto.
Várias empresas com volumes negociados relevantes na B3 estão agendadas para soltar seus números neste período, dentre elas: Neoenergia, Vale, WEG, Cielo, Azul, Gol etc.
Eu tenho uma opinião bem diferente do consenso em relação à divulgação de resultados trimestrais.
Considero que a atenção dada pelos agentes de mercado a eles é superestimada, apesar de reconhecer que os resultados podem influenciar a variação de preço das ações no curto prazo após a divulgação.
No médio/longo prazo, dado que acredito que o valor da empresa é função de sua geração de caixa perpétua, a partir da data base da análise, um trimestre não influencia significativamente o valor de um negócio.
Isso não quer dizer que se deva ignorar os resultados trimestrais divulgados. A análise deve ser feita sim.
O que não deve ser feito é mudar a visão de toda uma tese de investimentos em função dos números de um trimestre.
Mas a temporada de resultados do 1T23 terá alguns apelos especiais.
Em primeiro lugar, dado que o 1T23 foi um período marcado por elevadas incertezas macroeconômicas, crescimento baixo com inflação, será importante medir como as empresas desempenharam em cenário de maior dificuldade.
Em segundo lugar, houve um aumento na aversão do risco de crédito no período.
Vamos precisar analisar com lupa a alavancagem das empresas e, coisa pouco explorada pelo mercado, a gestão do capital de giro.
Gostaria de chamar a atenção para três setores onde a estrutura de capital das empresas e algumas características de seu modus operandi poderão determinar quem serão os vencedores no curto e médio prazo:
- Varejo. Depois do que ocorreu com Americanas, as empresas do setor serão foco do mercado. Níveis de alavancagem, custo do capital de terceiros e gestão de capital de giro se tornaram fatores de risco para o setor, em alguns casos, risco até de solvência;
- Bancos. Aqui o principal aspecto a ser analisado é o nível de inadimplência. Esta é uma informação relevante não só para o setor em si, mas para a economia como um todo. Além disso, percentual de cobertura a créditos de baixa qualidade e crescimento recente da carteira de crédito, em seus diversos segmentos, também devem ser bem analisados;
- Saúde. Empresas do setor tem apresentado resultados operacionais abaixo do esperado e em alguns casos, alavancagem excessiva. Por isso, Hapvida e Dasa fizeram follow-ons recentes visando melhorar suas estruturas de capital. No lado operacional, para o setor todo, será importante focar no crescimento de vendas e principalmente nos níveis de margens operacionais.
No final da temporada de resultados, teremos um Raio X detalhado de quais setores e empresas estão lidando bem com as incertezas do momento e quais precisam de mudanças, sejam elas operacionais ou mesmo estratégicas.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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