Passado e futuro se encontram no presente no universo de investimentos

Não se engane com este título.
Ele parece filosófico, mas tem tudo a ver com o dia a dia de um investidor ou profissional de investimentos.
Recentemente, em uma entrevista, o neurocientista Miguel Nicolelis comentou que um dos riscos para o sucesso de um algoritmo de inteligência artificial é que a grande maioria deles se baseia em comportamentos do passado que, não necessariamente, irão permanecer inalterados no futuro.
Na tomada de decisão em investimentos, o mesmo tipo de risco também é relevante; decisões são tomadas assumindo que o passado se repetirá.
Desde já antecipo: defendo que tomada de decisões de investimentos aconteçam com base em análise de pelo menos 3 cenários.
Um desses cenário pode até usar como premissas básicas o comportamento passado das diversas variáveis-chave.
Mas dificilmente este cenário será considerado o cenário base.
Muitos dizem que antecipar o futuro é impossível.
Concordo, mas ainda assim defendo que é fundamental para um tomador de decisões financeiras buscar pensar em análises de cenários onde ele ou ela poderá realizar análise de sensibilidade das variáveis mais relevantes para a tomada de decisão.
Além disso, em um mundo onde empresas, incumbentes e novas entrantes, investem recursos relevantes, gerenciais e financeiros, na busca por inovação que crie valor, é imperioso que se tenha pensamento estratégico e se analise profundamente as macro e micro tendências na sociedade, na economia como um todo e no setor.
Gostaria de apresentar alguns exemplos de tomadas de decisão com base no passado que muito provavelmente não funcionarão no futuro, bem como de macrotendências que irão impactar setores e empresas listadas na Bolsa brasileira:
O governo que assumiu o país no início do ano já deixou claro que acredita que o aumento do gasto público é sua principal ferramenta para fazer o país acelerar seu ritmo de crescimento econômico. Entretanto, experiências do período 2012 a 2016 no Brasil, além da mesma política em outros países da América Latina, demonstraram que não só essa política não funciona como, pior, deixa “sequelas” cujos efeitos serão sentidos por um bom tempo. Por que a insistência de se repetir algo que não deu certo?
Ainda no universo macroeconômico, é muito provável que nos próximos anos o Brasil finalmente aumente a abertura de sua economia para o comércio mundial. Não é novidade que o Brasil é um dos países mais fechados do mundo e esta é uma das razões de termos pouca competição em diversos setores, produtos e serviços caros e de baixa qualidade. A exposição de nossas empresas à maior competição internacional trará impactos relevantes para o futuro de diversos setores e da economia como um todo.
Uma macrotendência global muito importante, e que terá consequências relevantes para sociedade, macroeconomia e empresas, é o envelhecimento da população.
Hoje, no Brasil, a expectativa de vida é de 76 anos. Na Região Sudeste, já é de 78 anos. Esse número vem subindo e acho razoável considerar que uma parte não desprezível da população está vivendo até além dos 80 anos.
Este fato impacta de forma relevante a economia e setores tais como saúde e financeiro.
Além disso, tem impacto social desafiador dado que o Brasileiro, por não pensar no longo prazo, tende a não se preparar para viver além dos seus 70 anos.
Uma outra macrotendência é a gradual redução do papel do intermediador.
Quanto mais a tecnologia avança, menor será a necessidade de haver um ou dois níveis intermediários entre o produtor do produto ou serviço, e o consumidor final.
Isso gerará consequências para setores, tais como intermediação financeira, seguros, turismo, além de outros, onde o papel de intermediário ainda é importante.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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