Para onde vai o Ibovespa?

Acredito que para termos uma visão de médio prazo sobre o comportamento das ações é necessário analisarmos quatro fatores que são determinantes para a análise de tendências mais longas de preço de ações.
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PorSérgio Goldman - 31/05/2023
3 min de leitura

Até o dia 26, o Ibovespa acumula alta de 6,2% em maio. 

A pergunta que os agentes de mercado estão fazendo é se esta recuperação é sustentável ou se é apenas uma movimentação técnica, muito focada no desempenho fraco das ações brasileiras nos primeiros meses de 2023.

O primeiro comentário que precisamos fazer é que a bolsa no Brasil em maio acabou seguindo um comportamento parecido com diversas Bolsas ao redor do mundo.

Por exemplo, nos Estados Unidos, o S&P 500 acumula uma alta de 0,9% em maio, enquanto o Nasdaq subiu 6,2% no mesmo período.

No caso do Ibovespa, a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara também ajudou a melhorar o humor dos investidores em maio.

Muitos mencionam também o elevado desconto que o atual índice Preço/Lucro (PL) do mercado se encontra em relação a sua média histórica. 

O índice PL atual está em aproximadamente 7,0x enquanto a média histórica é de aproximadamente 11,0x.

Entretanto, acredito que para termos uma visão de médio prazo sobre o comportamento das ações brasileiras, e mesmo para acessar a probabilidade do PL do mercado retornar à média histórica no curto/médio prazo, é necessário analisarmos quatro fatores que, na minha visão, são determinantes para a análise de tendências mais longas de preço de ações, principalmente quando estamos buscando a tendência agregada do mercado como um todo.

Vamos apresentar uma análise para cada um dos quatro fatores mencionados:

1. Crescimento de médio/longo prazo do lucro por ação agregado:

É pouco provável que nos próximos 2 ou 3 anos a economia brasileira cresça mais do que 2,0/2,5% ao ano. Esse patamar inclusive é considerado como um cenário otimista por boa parte dos agentes de mercado. Portanto, ao pensarmos nos resultados consolidados das empresas listadas em Bolsa, o mais provável é que não haja uma aceleração significativa de seu crescimento.

2. Retorno agregado do capital investido das empresas listadas

Com crescimento baixo, inflação incomodando e taxas de juros ainda elevadas, não esperamos uma melhora dos retornos sobre capital investidor, no agregado. Individualmente, algumas empresas podem sim melhorar seus retornos, mas dado o cenário macro esperado, no agregado pode haver até uma ligeira queda.

3. Previsibilidade de cenário

Mesmo com a aprovação do arcabouço fiscal, considero a previsibilidade do cenário macro para os próximos ano ainda baixa. Portanto, para aumentar suas exposições no mercado de ações, o investidor irá requerer preços baixos de ações a fim de aumentar suas expectativas de retorno. 

4. Taxas de juros de longo prazo

O mercado de ações no Brasil é bastante sensível à taxa de juros de longo prazo (10 anos) que é a chamada taxa livre de risco, componente importante do custo de capital de terceiros e próprio. Hoje a taxa de 10 anos está próxima a 12,5% ao ano. A aprovação do arcabouço fiscal pode fazer as taxas longas caírem um pouco mas vai ser o desempenho fiscal ao longo dos próximos meses que vai definir se haverá queda sustentável ou não das taxas longas no Brasil.

CONCLUSÃO

Analisando os 4 fatores, considero ser prematuro afirmar que a bolsa Brasileira iniciou em maio uma recuperação sustentável.

Claro que se as bolsas continuarem a subir no mundo e/ ou se houver uma queda, mesmo que pequena na taxa de juros de 10 anos, os preços das ações vão reagir positivamente. Mas não acredito que será uma recuperação sustentável.

Dito isso, sugiro aos investidores manterem os olhos bem abertos para descobrir oportunidades individuais interessantes em Bolsa, dado que muitas ações acabaram caindo excessivamente como parte do processo de saques que a maioria dos fundos de ações vivenciaram nos últimos meses. 

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Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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