Panorama da indústria brasileira de fundos em maio de 2023

Muito se fala da saída de recursos dos fundos de ações no Brasil desde que os juros começaram a subir.
Realmente a saída foi relevante.
Nos últimos 12 meses até 29/05, houve saída líquida de R$18 bilhões. Apenas em 2023, a saída foi ainda mais forte, de R$32 Bilhões.
Os fundos de ações, que já representaram próximo a 15% de toda indústria de fundos, hoje representam apenas 6,7%.
Vale lembrar que a indústria de fundos acumulava, em 29/05/23, R$7,7 trilhões, aproximadamente 70% do PIB do país.
Os fundos multimercados, que representavam 21,4% da indústria em maio, também vêm sofrendo com intensificação de resgates.
Nos últimos 12 meses, o resgate líquido nesta classe de ativos chegou a R$78 bilhões. Apenas em 2023 até maio, o volume líquido resgatado foi de R$48 bilhões.
Mas o que realmente me surpreende é a forte saída de recursos de fundos de renda fixa.
No ano, houve um resgate líquido de R$63 bilhões.
Nos últimos 12 meses, o líquido resgatado chegou a R$224 bilhões.
Mesmo considerando esta saída de recursos, a classe de ativos representa 38,2% da indústria de fundos.
Surpreende a saída de fundos de renda fixa. O que pode estar causando este movimento?
Um dos potenciais motivos é a marcação a mercado que, ao gerar rentabilidades negativas, acaba assustando o investidor e gera resgates.
O segundo potencial motivo é a necessidade de resgatar para usar em gastos do dia a dia.
Dado que a maior parte dos investimentos do brasileiro está em renda fixa, e considerando que o brasileiro tende a resgatar aplicações onde não há perdas, o investidor acaba saindo da renda fixa quando aparece a necessidade de cobrir gastos correntes.
O leitor deve estar se perguntando quais as classes de ativos que tiveram captação positiva nos últimos 12 meses.
A primeira classe de ativos com captação positiva foi a de fundos de previdência, que representa 16,1% da indústria de fundos no Brasil.
Nos últimos 12 meses, a captação foi positiva em R$10 bilhões.
A segunda classe de ativos com captação positiva em 12 meses foi a dos ETFs (fundos passivos) que representa apenas 0,5% do total da indústria de fundos. A captação no período analisado foi de R$3,8 bilhões.
As movimentações na indústria de fundos no Brasil possibilitam entender o que o brasileiro está pensando em relação às suas posições de investimentos.
A posição atual por classe de ativo mostra uma visão negativa em relação a ativos de maior risco e uma preferência por renda fixa, 38% do total, apesar da surpreendente saída de recursos também observada nesta classe de ativos.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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