Otimismo, pessimismo e o tomador racional de decisões

O investidor leigo ou aquele investidor que foi educado acompanhando as mídias sociais são influenciados por esse clima de otimismo, o que é perigoso.
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PorSérgio Goldman - 18/07/2023
3 min de leitura

Muitos justificam o sucesso de famosos investidores pelo fato de serem otimistas.

Alguns desses investidores possuem frases famosas sobre o assunto.

Por exemplo, Jorge Paulo Lemann proferiu a seguinte frase, que ficou famosa entre os agentes do mercado financeiro:

“Prefiro ser otimista; nunca conheci pessimista bem-sucedido”

Warren Buffett também é conhecido por seu otimismo. Mas em seu caso esse otimismo não é tão consensual. Muitos o rotulam como um otimista realista e outros apenas como realista.

Para aqueles que, como eu, acompanham de perto as manifestações dos diversos agentes de mercado, e com a presença de debates nas mídias sociais essas manifestações se multiplicaram, não parece difícil perceber que um pensamento otimista prevalece.

Alguns exemplos:

“A Bolsa caiu muito; é excelente oportunidade de compra”

Pode até ser que seja oportunidade de compra, mas não pelo fato dos preços das ações terem caído.

“A Bolsa está barata. Basta olhar o índice PL do Ibovespa e compará-lo com sua média histórica. Existe um desconto e esse desconto tende a desaparecer”

Uma análise do que está causando o desconto em relação à sua média histórica precisa ser feita antes de confirmarmos se a Bolsa está realmente barata. Como mencionado acima, pode até ser que a Bolsa esteja realmente barata, mas o desconto apenas não é suficiente para dizermos isso.

“As aprovações do arcabouço fiscal e da reforma tributária vão impactar positivamente o preço dos ativos brasileiros”

Aparentemente esta afirmação está correta. Mas além das respectivas aprovações, será necessário observar a implementação das mudanças aprovadas. No primeiro instante o mercado deve reagir positivamente, mas a sustentabilidade destas reações irá depender de como estas mudanças ocorrerão na prática. 

O investidor leigo ou aquele investidor que foi educado acompanhando as mídias sociais são influenciados por esse clima de otimismo, o que é perigoso.

Estamos vivendo em tempos em que facilmente as ideias são polarizadas.

Sobre o mercado financeiro parece haver apenas 2 tipos de pensamentos: o otimista e o pessimista.

Eu me posiciono em uma categoria diferente: eu posso ser otimista ou pessimista em diferentes situações dependendo da minha análise.

Um exemplo simplificado do meu modus pensante:

Vamos supor que eu precise decidir agora se devo comprar ou não o BOVA11 (ETF do Ibovespa):

Existem principalmente 4 forças que irão determinar o comportamento futuro do índice:

  1. Fundamentos da economia brasileira;
  2. Fundamentos das empresas componentes do índice principalmente aquelas 10 ações que representam grande parte do índice;
  3. Cenário internacional, com ênfase em juros e risco de recessão nos EUA, crescimento econômico na China e aspectos geopolíticos e,
  4. Fluxo do investidor estrangeiros e de fundos locais para a Bolsa; 

Quais seriam os highlights dos aspectos que me fariam comprar o BOVA11 no momento?

  • Expectativa de queda dos juros longos à medida que a Selic seja reduzida e que o arcabouço fiscal seja aprovado e colocado em prática;
  • Algumas ações estão na minha visão, excessivamente descontadas e dentre elas estão ações com elevada representação no BOVA11;
  • À medida que os juros caiam, espero que haja fluxo de investidores locais para bolsa.

Na direção oposta, os seguintes fatores me fazem estar preocupado com o comportamento do BOVA11:

  • Não vejo a economia brasileira aumentando sua taxa de crescimento anual, de forma sustentável, nos próximos 3 ou 5 anos. Esse é meu horizonte de investimento;
  • A visibilidade da economia brasileira para o médio e longo prazo continua bastante limitada.

Conclusão:

Não compraria o BOVA11. Por outro lado, estaria buscando oportunidades em ações específicas onde minha análise racional, nem otimista nem pessimista, aponte uma expectativa de retorno bem acima do que eu considero o retorno mínimo para investir nas respectivas ações. 

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Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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