O que são green bonds e porque você deve ficar de olho neles

Quer investir e ainda fazer a diferença na sociedade? Saiba mais sobre o que são green bonds, títulos de dívida que rendem juros.
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PorSamira Oliveira - 14/06/2022
Atualizado em 08/09/2022
9 min de leitura

Também chamados de Títulos Verdes, os green bonds são instrumentos de dívida que podem ser emitidos por empresas, governos ou entidades multilaterais. Esses papéis rendem juros que são comprados pelos investidores que optaram por investir nessa modalidade.

Dessa forma, os green bonds são títulos de dívida que foram emitidos com um objetivo e, o que os caracteriza é a sua finalidade. Green bonds são emitidos para financiar iniciativas que beneficiam o meio ambiente e a sociedade. Sendo assim, o dinheiro captado via títulos verdes é carimbado, ou seja, só pode ser utilizado para iniciativas com essa temática.

Os projetos que são comumente associados à emissão de títulos verdes são: energia renovável, prevenção e controle da poluição, eficiência energética, logística reversa, reciclagem, transporte limpo, agricultura e pecuária sustentável.

Nesse artigo você vai ler sobre:

Quando surgiram os green bonds

Os green bonds tiveram sua primeira emissão em 2008 pelo Banco Mundial e deram origem ao mercado de dívida ESG. Traduzida para o português, ESG vem de Ambiental (environmental), Social e Governança (governance). Essa sigla é a chave para entender o movimento do mercado em direção aos títulos verdes e fundos ESG. 

O termo foi criado oficialmente em 2005 por seu idealizador Kofi Annan, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), resultando em um relatório intitulado Who Cares Win (Quem se importa, ganha).

Com as práticas ESG busca-se englobar os 17 macrotemas que representam os desafios e vulnerabilidades que precisam ser enfrentados e cumpridos por todos até 2030 a fim de caminharmos para um desenvolvimento sustentável.

Segundo a Global Sustainable Investment Alliance, o segmento de ESG já chega a US$ 31 trilhões, o que representa 36% de todos os ativos financeiros totais sob gestão no mundo.

Em terras brasileiras, o tema ganhou mais espaço em 2020 após a XP Investimentos lançar três fundos sustentáveis. Dois desses com a possibilidade de aplicação mínima de R$100. 

Uma série de instrumentos financeiros de dívida podem receber o “selo verde” no país. São eles: debêntures, debêntures de infraestrutura, Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).

O que são fundos ESG

Amparados pelos pilares ambientais, sociais e de governança, iniciativas ESG devem priorizar a coletividade e fazer a diferença na sociedade. Atualmente, várias empresas têm buscado implantar uma agenda ESG – mesmo as que não possuem capital aberto – para serem bem vistas pelos stakeholders, e também, atuarem como agentes da mudança no planeta.

Essa importância de colaborar com a sociedade está diretamente ligada ao capitalismo de stakeholders, que significa a união da geração de valor econômico e lucro com a preocupação com questões ambientais, sociais e de governança corporativa. Dessa forma, o desenvolvimento empresarial visa contribuir com o crescimento da sociedade 

Com uma política ESG dentro de uma instituição, os discursos de preocupação com meio ambiente e com a sociedade são transformados em ações e concretizados através de metas a serem cumpridas. Assim, ações que podem ser adotadas de acordo com cada um dos três pilares são:

  • Ambiental: implantação de logística reversa, compensação de carbono, busca por fonte de energia renovável, reciclagem, redução do uso de recursos naturais não renováveis, conservação ambiental, não poluição, entre outros.

 

  • Social: diz respeito às ações tomadas pela companhia para atuação com a comunidade e projetos sociais visando o desenvolvimento de pessoas prezando pela saúde e pela segurança.

 

  • Governança: neste tópico estão incluídas ações que devem ser tomadas pelas instituições para construção de um ambiente saudável, trata-se de políticas anticorrupção, bem-estar dos funcionários, fornecedores e comunidade atuante. Conta com  incentivos à contratação, inclusive para altos cargos, de minorias de modo a se tornar inclusiva e diversa. Há também a preocupação com a transparência da companhia, bem como o respeito a códigos de conduta e ética.

 

É cada vez mais evidente os benefícios corporativos que uma agenda ESG pode trazer. Uma pesquisa realizada entre os meses de setembro e outubro de 2021 pela PwC com gestores de ativos e analistas de grandes empresas de investimentos, bancos e corretoras nacionais e internacionais comprova isso.

Segundo a pesquisa, 79% dos 325 investidores entrevistados afirmaram que as práticas ESG de uma empresa têm impacto na decisão de investir nela ou não. E mostrou ainda que cerca de 49% afirmaram ter a intenção de retirar recursos de companhias que não tenham ações ESG concretas.

O que são Social Bonds e Sustainable Bonds

No caso dos social bonds, os títulos também são carimbados e devem ser usados para objetivos sociais. Correspondem ao “S” do ESG e, apesar de existirem desde 2010, só se popularizaram com o advento da pandemia da Covid-19.

Segundo a B3 (Bolsa de Valores Brasileira), os social bonds podem ser usados para:

  • Garantir acesso à infraestrutura básica, como água, esgoto e saneamento. 
  • Assegurar transporte e energia. 
  • Possibilitar o acesso a serviços essenciais de saúde e educação. 
  • Promover a habitação  a preços acessíveis. 
  • Aliviar o desemprego decorrente de crises (econômicas e pandemia, por exemplo). 
  • Assegurar segurança alimentar e sistemas alimentares sustentáveis – como o combate a desperdícios.

 

Já os Sustainable Bonds unem a “sustentabilidade” com o “social” do ESG financiando projetos sociais e ambientais.

O que são Sustainability-Linked-Bonds

Neles, diferentemente dos green bonds e social bonds, o dinheiro não é carimbado, o que dá mais liberdade no uso dos recursos. Mas, ao emitir um Sustainability-Linked Bonds (SLB), a empresa tem que se comprometer com metas ambientais e/ou sociais dentro de determinado prazo.  Os SLB também são títulos de dívidas que têm como objetivo fazer com que o emissor alcance suas metas previstas de ESG.

Esses títulos podem ter suas características financeiras e estruturais alteradas dependendo do atingimento ou não das metas de sustentabilidade pré-estabelecidas. Essas metas por sua vez são calibradas de acordo com os indicadores-chave de desempenho (KPI).

Caso o emissor falhe em atingi-las, ele sofre uma penalidade em que há um prêmio sobre a taxa de juro, encarecendo o custo de crédito. Esse mecanismo de controle se chama “step up” de taxa. 

No Brasil vem crescendo a variedade de emissões de SLBs depois que a fabricante de celulose Suzano iniciou suas emissões Outras companhias que já acessaram esse mercado externo com esse tipo de dívida são: Rumo, B3, Movida, Simpar, Natura e Klabin.

Quem são os emissores de Green Bonds

Bancos de investimentos são responsáveis pelas operações de títulos ESG. São eles que identificam oportunidades de rotular emissões de social e green bonds, entram em contato com as companhias e levam esses títulos aos investidores. Isso porque green bonds e demais títulos sustentáveis não possuem regulamentação própria, de forma que o mercado se baseia em regras de autorregulação para que eles possam ser emitidos. 

Empresas e investidores aceitam mais amplamente os padrões estabelecidos pela International Capital Markets Association (ICMA) – organização de autorregulação do mercado de capitais.

As empresas também devem apresentar o parecer de uma segunda opinião sempre que quiserem emitir títulos verdes. Assim, devem criar um documento chamado Second Party Opinion (SPO), elaborado por instituições independentes como a Sustainalytics, ISS, Bureau Veritas, Vigeo Eiris, Sitawi e Resultante. 

O papel dessas empresas emissoras de SPO é analisar os projetos com base nos princípios estabelecidos pela ICMA visando o impacto social e ambiental previsto. O parecer é enfim divulgado assim que a oferta dos bonds é lançada e pode até mesmo conter ressalvas, caso seja necessário.

Como participar dessa modalidade de investimentos

Ao contrário do que muita gente pensa, o investimento em green bons é bem fácil e ocorre da mesma forma que qualquer outro título de renda fixa. Entretanto, é importante verificar a existência de um certificado de título verde para o ativo que você está pesquisando.

Assim, antes de comprar green bonds, é de suma importância que o investidor analise os principais documentos da empresa emissora e verifique aporte mínimo, prazo de vencimento, como se dá a rentabilidade, entre outros dados.

Para facilitar e identificar algumas empresas focadas em sustentabilidade, você pode utilizar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) criado pela B3. Além disso, é necessário avaliar os riscos do investimento para poder escolher uma opção assertiva e coerente com o seu perfil de investidor. 

Quais os produtos verdes disponíveis no mercado?

Como você pôde perceber anteriormente, há várias empresas brasileiras emitindo green bonds para financiar projetos verdes ou sociais. No Brasil, essas alternativas podem ser encontradas na renda fixa.

  • CRA: corresponde aos Certificados de Recebíveis do Agronegócio e são títulos de crédito privado vinculados a este ramo. É comum em empresas rurais, cooperativas e produtores que trocam seus recebíveis futuros por dinheiro à vista. Assim, esses recebíveis lastreiam títulos que são negociados no mercado de investimentos.

 

  • CRI: são os Certificados de Recebíveis Imobiliários que têm um funcionamento semelhante ao do CRA. Porém, neste caso, o título tem lastro em recebíveis do mercado imobiliário.

 

  • Debêntures: são títulos de crédito privado emitidos por empresas que buscam  captação de recursos para seu caixa. Nas debêntures é apontado o valor, prazo e juros que serão pagos de acordo com o estabelecido pela companhia.

 

  • FIDC: são os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, ou seja, uma modalidade coletiva que reúne vários investidores sob a gestão de um profissional que destina grande parte do capital para aplicações de direitos creditórios.

Quais as opções sustentáveis fora da renda fixa?

Os green bonds não te interessam, mas você ainda quer opções de investimentos sustentáveis? Então conheça algumas sugestões de investimentos na renda variável! Elas são encontradas em empresas que adotam uma agenda ESG e, portanto, se comprometem com o meio ambiente, a sociedade e a governança.

  • Ações: você pode optar por adquirir ações de uma empresa que atende aos critérios de ESG e contribuir com a sustentabilidade.
  • Fundos de Investimentos ESG: esses fundos obrigatoriamente incluem apenas emissores que possuem critérios ESG. Porém, vale ressaltar que cada gestor de fundo tem sua estratégia e critérios, então vale a pena entender como funciona essa averiguação.
  • ETFs: são os Fundos de Índice, ou seja, fundos de investimento que buscam replicar a performance de índices do mercado que, neste caso, podem ter relação com a sustentabilidade. Um exemplo de ETF é o ISUS11, que possui como referência o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
  • Créditos de Carbono: Atualmente existem várias plataformas que vendem créditos de carbono tokenizado. Assim, você pode investir em créditos de carbono de projetos ambientais certificados e armazenar os ativos em uma carteira digital.


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Potencial do mercado de títulos verdes no Brasil

O movimento mundial em direção a um desenvolvimento sustentável não tem mais volta. O mercado brasileiro de títulos verdes movimentou US$ 1,2 bilhão em 2019, quase seis vezes mais do que foi registrado no ano anterior (US$ 209 milhões). 

A Abdib realizou em 2019 um webinário sobre o potencial dos green bonds no mercado brasileiro. Na ocasião, a head da área de energia e infraestrutura do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados, Paula Padilha Cabral Falbo, destacou que o Brasil tem um cenário especialmente interessante para este tipo de investimento “verde”, já que sua matriz produtiva é compatível com projetos sustentáveis de grande potencial de expansão, como energias renováveis. Ela também acrescentou que essa forma de investimento deveria se estender a outros setores importantes da economia brasileira.

Um case interessante que comprova essa expansão é o da Raízen (RAIZ4), que concluiu emissão de Sustainability-Linked Debêntures (SLD) atrelada às suas metas ESG. No total foram captados R$1.196.685.000,00 com rentabilidade atrelada ao IPCA + 5,9%. 

A emissão está vinculada ao compromisso da Raízen em ampliar para 94% a certificação Bonsucro – que atesta as boas práticas sociais e ambientais nos Parques de Bioenergia em operação. Além disso, visa elevar a participação de mulheres em posições de liderança de 19% para 30% até 2026.

Essa operação foi certificada pela Sustainalytics que atestou as iniciativas da empresa como adequadas às práticas e princípios ESG e de que os títulos e empréstimos são considerados “sustainability-linked”.

 

E aí, tudo pronto para investir em green bonds?

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esg

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