Sobre o crescimento econômico no Brasil: Como disse Einstein, insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes…

O cenário econômico brasileiro é desenhado por períodos de crescimento curto e insuficientes para o aumento da renda per capita da população. Quais aspectos estruturais devem ser revistos para que isso mude?
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PorSérgio Goldman - 14/02/2023
3 min de leitura

Não sou muito fã de rotular mercados, mas gosto de reforçar que investidores estrangeiros buscam principalmente histórias de crescimento quando decidem investir no Brasil. 

Isso se aplica à maioria dos investidores locais também.

Mas não é de hoje que o crescimento econômico brasileiro decepciona. 

Sim, é possível acharmos histórias de crescimento em empresas durante períodos de crescimento econômico medíocre ou até negativo. Mas certamente é uma tarefa mais difícil.

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Vamos observar como foi o crescimento do PIB brasileiro desde 1993, ano anterior ao lançamento do Plano Real, evento emblemático para a história econômica do Brasil:

  • Entre 1993 e 2022, o crescimento médio anual do PIB (CAGR) foi de 2,4%;
  • Considerando o crescimento populacional anual médio de 1,04% no mesmo período, o PIB per capita cresceu a uma média de apenas 1,39% ao ano, nível bastante baixo para reduzir as demandas sociais da população;
  • Se olharmos subperíodos dentro dos 30 anos analisados, notamos que: 
    • entre 1993 e 1995, o CAGR do PIB foi de 5,0%, impactado positivamente pelos preparativos e lançamento do Plano Real;
    • No período de 2004 a 2008, o crescimento médio do PIB foi de 4,8% ao ano, com o país sendo beneficiado pela forte alta dos preços de commodities;

Vemos que os períodos de alto crescimento foram relativamente curtos e, portanto, insuficientes para que houvesse um aumento significativo na renda per capita da população.

O diagnóstico para colocar o país na trajetória de crescimento alto por um longo período tem se concentrado no debate de gastos públicos, participação do estado na economia e necessidade de reformas.

No passado recente, tem sido difícil haver concordância sobre esses três temas.

Agora mesmo, com a mudança de governo, voltamos a discutir o arcabouço fiscal e tamanho do déficit público.

Sobre reformas, se por um lado fala-se de reforma tributária, por outro se sugere a possibilidade de se rever a reforma trabalhista, a independência do Banco Central e o marco regulatório do saneamento.

Me parece ser necessário adicionar alguns outros aspectos estruturais para que finalmente o país consiga ter um período longo de elevado crescimento.

Vou dar alguns pitacos sobre o que deveria ser feito:

  1. Maior abertura comercial do país, com aumento da competitividade externa e maior concorrências nos diversos segmento do mercado local;
  2. Privatização de tudo que pode ser privatizado nos níveis federal, estadual e municipal;
  3. Elaboração de um plano estratégico de 10 anos, que fosse independente do governo de plantão e que buscasse tornar o país relevante nas pesquisas internacionais de competitividade;
  4. Redução da carga tributária dos atuais 34% para a média dos emergente, algo como 24%;
  5. Reforma administrativa que visasse aumento da qualidade do serviço prestado e redução significativa do custo da máquina pública.

O governo já declarou que pretende apresentar ainda no primeiro semestre sua proposta de reforma tributária.

O principal objetivo desta reforma será a simplificação da estrutura tributária que sabemos ser cara e confusa, gerando enormes ineficiências nas empresas.

Sim, esse objetivo é relevante.

Entretanto, é necessário termos em mente a necessidade de se reduzir a carga tributária sobre o setor privado.

Economistas vão contra-argumentar que o impacto fiscal de se reduzir a carga tributária torna o objetivo inviável.

Então temos que reduzir significativamente os gastos públicos para possibilitar a redução de carga tributária.

Equilíbrio fiscal com carga de 34/35% não é equilíbrio.

Ah Sérgio, mas isso não é realista…

Concordo, não é realista.

Então concluo esse artigo com a seguinte mensagem:

  1. Sem expandirmos a abrangência das mudanças necessárias para colocar o Brasil no caminho do crescimento auto sustentável, teremos extrema dificuldade para mitigar as demandas sociais da população; e
  2. Será difícil termos um re-rating sustentável do mercado de ações brasileiro. 

Sobre o colunista

Sérgio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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