Você realmente achava que a Selic iria permanecer em 2,0% ao ano?

Se sua resposta para essa pergunta for sim, desculpas, mas sua empresa precisa de mudanças profundas de pessoas e práticas de gestão.
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Por Sérgio Goldman - 30/10/2023
3 min de leitura

Várias ações brasileiras registram fortes quedas nos últimos 12 meses ou mais, com desempenhos bem piores do que os do Ibovespa e do SMLL11 nos mesmos períodos.

Em alguns desses casos, o management responsabiliza a alta dos juros pelo péssimo desempenho das ações.

Aqui, algumas considerações se fazem necessárias:

  • Juros de 2,0% ao ano no Brasil é exceção, não regra;
  • O ciclo recente de alta de juros se deu de forma gradual; foi de 2,0% em fevereiro de 2021 e terminou em 13,75% em agosto de 2022. Portanto, um ciclo de alta de 18 meses;
  • Entre agosto de 2022 e julho de 2023 o nível da taxa Selic permaneceu inalterado.

Bottom-line: as empresas tiveram tempo mais do que suficiente para se preparar para operar em um ambiente de negócios com altas taxas de juros.

Por sinal, na história recente do Brasil, o país passou muito mais tempo com juros altos do que com juros baixos.

Considerando os pontos aqui levantados, uma empresa com boa gestão deveria ter simulado e definido uma estratégia para operar com juros mais altos e queda na demanda.

No setor de varejo vemos várias empresas reclamando dos juros altos.

Claro que é mais saudável para uma economia e principalmente para o setor de varejo operar com juros baixos.

Mas repito: juros altos no Brasil é regra e não exceção.

Por exemplo, vamos olhar rapidamente para as ações de Magazine Luiza…

Nos últimos 12 meses, elas acumulam uma queda de 67%. No mesmo período o Ibovespa ficou praticamente inalterado. Pior ainda, em 5/11/2020, o preço da ação era de R$27,39. Hoje está em R$1,45, uma queda de 95%.

Os juros aqui são um detalhe de uma estória bem mais complexa de deterioração do posicionamento competitivo, uma série de resultados fracos e incapacidade de antecipar mudanças de mercado e demandas do consumidor.

Eu insisto aqui com a minha “tese”:

Qualidade de gestão é o principal fator que me faz comprar uma determinada ação.

No caso de Magazine Luiza, gostaria de pontuar que, com base em seu site de RI, dos 7 Conselheiros de Administração do atual Conselho, 1 entrou esse ano e os outros estão há pelo menos 6 anos no Conselho. Portanto, tiveram participação direta no péssimo desempenho da empresa e das ações nos últimos anos. Esperaria mudanças profundas na composição do Conselho como sinalização de comprometimento com um turnaround profundo da empresa.

Reconheço que é difícil para um investidor com pouco acesso ao alto escalão de uma empresa chegar à conclusão se o time de gestão vai conseguir entregar resultados no curto e no longo prazo.

Olhar para o desempenho histórico é insuficiente.

Precisamos entender como Conselho e Diretoria Executiva estão preparando a empresa para criar valor sustentável para seus stakeholders.

Para a gestão, é importante reconhecer que o preço da ação pode ser uma sinalização relevante de problemas que o mercado está vendo na empresa.

Ignorar esta sinalização é arrogância e pode ser uma oportunidade perdida de ajustar aspectos que precisam ser ajustados.

Leia também:
Comportamento esperado para o mercado de ações no Brasil

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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