Comportamento esperado para o mercado de ações no Brasil

Para que a tendência de alta sustentável se concretize, precisamos observar uma mudança de expectativas com relação a três fatores chave.
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Por Sérgio Goldman - 23/10/2023
3 min de leitura

Semana passada, li um comentário feito pelo CEO de uma das principais gestoras de recursos do país que me deixou intrigado.

Ele dizia: “A bolsa brasileira está prestes a entrar em um círculo virtuoso…”

Aqueles que acompanham meus artigos aqui no Gorila sabem que estou bem cético em relação a capacidade do mercado de ações local entrar em uma tendência de alta sustentável.

Para que a tendência de alta sustentável se concretize, precisamos observar uma mudança de expectativas com relação a três fatores chave:

Esses fatores são:

1 – Taxa de juros de longo prazo

Hoje pela manhã, a taxa de juros do título de 10 anos nos EUA bateu 5,0% ao ano. Esse patamar não era atingido desde março de 2007.

Essa alta das taxas longas no mercado norte americano pode reduzir a probabilidade de os juros longos no Brasil caiam de forma significativa no curto prazo.

Os juros pré-fixados de 10 anos no Brasil fecharam na 6ª feira em 11,7% ao ano.

Para que eles caiam de forma consistente, o que reduziria a taxa livre de risco e, portanto, impactaria positivamente os preços das ações no Brasil, é necessário que:

  1. As taxas longas nos EUA não subam muito mais;
  2. Haja confiança na execução da política fiscal no Brasil e principalmente,
  3. Aumente a visibilidade do cenário macroeconômico de médio prazo;

2 – Expectativas para o crescimento econômico de médio e longo prazo no Brasil

Bato muito nessa tecla.

O crescimento econômico no Brasil tem sido medíocre há pelo menos 30 anos.

Se for mantido o modelo de usar gastos público como indutor de crescimento, com compensação via aumento de carga tributária, não acredito que a economia brasileira conseguirá reagir de forma sustentável.

Sugiro a leitura de um artigo publicado no Valor Econômico na semana passada.

Seu título é “Chegou a hora do crescimento”, e foi escrito por 4 professoras da Faculdade de Economia e Administração da USP.

Acredito que o título deveria ter um ponto de interrogação no final.

Chamo a atenção para o antepenúltimo parágrafo do artigo.

Ele fala sobre a necessidade de se ter um plano estratégico de longo prazo para fazer o país crescer a taxas elevadas de forma sustentável.

Concordo plenamente com isso.

3 – Falta de urgência

Tenho dúvidas se a sociedade brasileira tem noção dos malefícios que o baixo crescimento traz.

Digo isso porque minha percepção é que pouco está sendo feito em algumas das avenidas de crescimento que o país teria.

Por exemplo: muito se fala que o Brasil está bem-posicionado para ser uma potência da economia verde.

O que falta? Vejo muita conversa e pouca ação.

Em outra área fundamental: Educação.

Posso ter perdido alguma coisa, mas nos últimos 10 meses, houve alguma mudança estrutural que sinalize para uma melhora significativa da qualidade da educação no Brasil?

Uma pergunta recorrente: qual deve ser o impacto da queda da Selic e da temporada de resultados do 3T23 no mercado de ações?

A tendência de queda da Selic para algo ao redor de 10% ao ano parece estar incorporada no mercado. Se a taxa ao final do ciclo de queda for muito diferente de 10% ao ano, aí pode haver um impacto sobre mercado de ações. Ainda assim, um impacto transitório. Impacto sustentável acontece pelo canal dos juros longos, como mencionado no início deste artigo.

Com relação à temporada de resultados, minha expectativa é que haja influência apenas sobre determinadas ações. Não acredito que haverá uma influência no mercado como um todo.

Leia também:
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Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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