Valuation é pop
Vocês se lembram das Organizações Tabajara, empresa fictícia criada pelo grupo de humor Casseta e Planeta nos anos 80 e 90?
Os comerciais dos variados produtos das Organizações Tabajara começavam sempre com a frase:
“Seus problemas acabaram…”
A partir daí, um dos humoristas do grupo aparecia anunciando um produto com nome engraçado para resolver algum problema complicado.
Será que as Organizações Tabajara já pensaram em lançar um produto que faça valuation em segundos com índice de acerto de 99%?
Hoje em dia vejo anúncios de diversas ferramentas que prometem calcular o valor de uma empresa de forma rápida e confiável.
Esta semana me deparei com um desses anúncios que, além de diversas outras promessas, dizia que a metodologia tinha…
“… taxa de acerto de 90% em relação às expectativas de valuation dos que a aplicam”
Taxa de acerto de 90% em relação às expectativas? Sério? E os vieses envolvidos? E se as expectativas estiverem fora da realidade?
O que eu penso sobre ferramentas de valuation?
No lado positivo, vejo que as diversas ferramentas anunciadas ajudam a operacionalizar o processo de valuation.
Ajudam também a rodar análises de sensibilidade até que os envolvidos se sintam confortáveis com o valor final a ser atribuído ao negócio em questão.
Por outro lado, existem alguns riscos na “automação” do processo de valuation.
O primeiro risco é inerente a qualquer atividade de projeção financeira; é o famoso “garbage in, garbage out”
Se premissas erradas forem usadas, os resultados do modelo serão incorretos.
Uma outra questão é que a definição do valor intrínseco de uma empresa precisa levar em consideração aspectos quantitativos e qualitativos, e eu diria que os qualitativos têm um peso mais relevante.
Quem estiver envolvido nesta definição, precisa ser capaz de analisar como os aspectos qualitativos estão sendo refletidos no modelo de avaliação.
Trabalhando com valuation desde 1989, eu defendo 4 requisitos que me parecem fundamentais para que o processo de valuation seja bem-sucedido:
- Experiência dos profissionais envolvidos. Principalmente ter experiência em aplicar o valuation em operações de verdade, seja de M&A ou na definição de compra ou venda de ações no mercado;
- Entender os diversos conceitos por trás dos passos do processo de avaliação. Receitas de bolo funcionam apenas em situações excepcionais. O normal é termos que adaptar algum conceito para a situação em questão.
- Premissas conservadoras. Pequenas variações em algumas das variáveis do modelo de avaliação causam mudanças relevantes no resultado. Exemplo disso é a taxa de desconto. Na dúvida, seja conservador;
- Flexibilidade do modelo de avaliação. Objetivo é não perder muito tempo na revisão ou na atualização do modelo.
De maneira alguma estou negando a utilidade de ferramentas que facilitem a modelagem no valuation. Mas sugiro fortemente que alguma pessoa com experiência de fato na determinação do valor de um negócio seja envolvida.
Leia também:
Mãe Dinah e o ofício de gerir investimentos
Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
Este artigo foi útil?