Mãe Dinah e o ofício de gerir investimentos
Para quem não sabe, Mãe Dinah, falecida em 2014, foi uma vidente que ganhou notoriedade na década de 1990 por algumas de suas previsões do cenário político.
Seu nome se tornou uma metáfora para descrever aqueles que buscam antecipar eventos futuros.
No universo de investimentos, tanto em tomadas de decisão no mercado como nas empresas, é necessário pensar no futuro.
Mas será que todo mundo concorda com isso?
Não.
É bem comum escutarmos atores relevantes do mercado afirmando que é impossível saber o que vai acontecer no futuro.
Portanto, para que devemos nos preocupar com o que vai ainda acontecer?
Howard Marks, o lendário fundador da Oaktree Investments e famoso por suas cartas sobre investimentos, já afirmou que: a) investe com foco no longo prazo e b) não se preocupa em “prever” o futuro.
Admiro muito Howard Marks, mas estas duas afirmações me parecem contraditórias. Como investir no longo prazo sem PENSAR no futuro?
Me parece que existe uma diferença entre prever o futuro e pensar no futuro.
Para pensar no futuro existem ferramentas bastante pesquisadas e usadas por gente bastante séria.
Por exemplo, planejamento estratégico, foresight estratégico, criação de cenários alternativos, “future-readiness” etc.
Eu fico assustado quando escuto algum gestor de fundo de ações concordando e até reforçando essa mensagem de que é inútil pensar no futuro.
Como é possível tomar boas decisões de investimentos apenas olhando para trás?
Mais um argumento de que não pensar no futuro leva a tomada de decisões erradas é a conhecida frase que deve estar presente nos materiais de divulgação de fundos de investimentos:
“Rentabilidade passada não é garantia de retornos futuros”
A frase é simples, mas contém mensagem importante.
Ela deveria ser atribuída a outros produtos de investimentos e a empresas.
O desempenho histórico superior de uma empresa no passado, não é garantia que essa empresa continuará com a mesma relevância nos próximos anos.
Alguns exemplos recentes de empresas cujas posições nos seus mercados de atuação sofreram um forte baque são: Lojas Americanas, Magazine Luíza, Natura e Polishop (capital fechado).
Empresas que não criam a prática de construir e discutir cenários futuros estão propensas a enfrentar situações difíceis em casos de mudanças que ocorram em seus setores de atuação e na economia como um todo.
Recentemente, vimos isso acontecer quando começou o processo de alta de juros no mercado doméstico.
Várias empresas começaram a sentir o tranco e muitas registraram perdas relevantes.
Mas será que era tão difícil antecipar que mais cedo que mais tarde, com Selic a 2% ao ano, a taxa de juros iria subir no Brasil?
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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