Qual o real significado do índice Preço / Lucro?

Muitos analistas utilizam esse indicador de forma inadequada, principalmente ao considerarem o lucro histórico em vez do futuro. Para calcular o PL corretamente, é necessário expurgar itens não recorrentes, como créditos de imposto.
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PorSérgio Goldman - 16/09/2024
3 min de leitura

O índice Preço / Lucro, mais conhecido como índice PL, é usado pela grande maioria daqueles que investem e analisam o mercado de ações.

Talvez o principal motivo para sua popularidade é sua simplicidade de cálculo; basta dividir o valor de mercado da empresa pelas expectativas de lucro líquido futuro da empresa em análise.

Apesar dessa aparente simplicidade, muitos utilizam o índice PL de forma inadequada.

Por exemplo, é bastante comum vermos cálculo de PL usando no denominador o lucro líquido histórico.

Gostaria de lembrá-los que, no mercado de ações, o que determina seus movimentos são as expectativas futuras. Portanto, o uso de lucro histórico no denominador do PL pode gerar conclusões distorcidas.

Além disso, é importante que nas expectativas de lucro líquido futuro itens não recorrentes sejam expurgados dos números esperados.

Um item não recorrente bastante comum nas empresas brasileiras é o crédito de imposto de renda, que distorce o cálculo de alíquota de imposto sobre resultados efetivos  da empresa em questão.

Aqueles que acompanham meus artigos já devem saber que considero o fluxo de caixa descontado como o método mais adequado para o cálculo do valor intrínseco de uma empresa.

Entretanto, dada sua simplicidade de cálculo, por que não analisar também o índice PL?

Mas para isso, é importante que se conheça alguns conceitos para o cálculo correto deste indicador.

Para discussão destes conceitos, vamos utilizar a fórmula de Gordon, que calcula o preço justo esperado de uma ação com base nos dividendos a serem distribuídos pela empresa, no crescimento constante desses dividendos e também do custo do capital próprio da empresa analisada.

P = Div1 / (CCP – g) onde:

  • P é o preço-justo da ação,
  • Div1 é o dividendo futuro a ser distribuído,
  • CCP é o custo do capital próprio, calculado através da fórmula:

               CCP = (Taxa Livre de Risco) + (Beta * Prêmio de Risco do Mercado de Ações)

  • G é a taxa de crescimento constante do lucro da empresa.

Mas podemos reescrever Div1 como:

Div1 = LL1 * Pay-out onde:

LL1 é o lucro líquido esperado e Pay-out é o percentual do lucro distribuído como dividendos.

Reescrevendo a fórmula do preço justo, temos:

P = (LL1*Payout) / (CCP – g)

Que pode finalmente ser reescrita como:

P/LL1 = Payout / (CCP – G)

A análise desta fórmula nos dá subsídios para tirar algumas conclusões sobre o que deve determinar qual índice PL justo para determinada ação.

Por exemplo, à primeira vista, quanto maior o Payout, maior deveria ser o índice PL.

Entretanto, o crescimento g pode ser calculado através da multiplicação:

G = RPL * (1 – Payout) onde RPL é o retorno sobre o Patrimônio Líquido.

Daí vemos que aumentando-se o Payout, estamos reduzindo o G.

Portanto, nas decisões de alocação de capital, na busca por gerar uma expansão de seu índice PL, a empresa precisará discutir qual o nível de payout a ser praticado visando não comprometer as expectativas de crescimento futuro.

O cálculo do índice PL justo através da fórmula de Gordon tem algumas limitações. As duas principais são:

  • Assume que os parâmetros usados permanecem constantes e,
  • Assume que G será menor que o CCP da empresa.

Apesar disso, é um exercício interessante para entendermos quais são as principais variáveis que influenciam os movimentos do índice PL. E essas variáveis são:

  • Decisão de distribuição de lucros;
  • Custo do capital próprio;
  • Retorno sobre patrimônio líquido esperado e,
  • Crescimento dos resultados;

Leia também:
A importância do aconselhamento independente

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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