Senna e a falta de uma cultura de resultados no Brasil

A cultura da busca por resultados positivos requer definição de metas claras, visão de médio e longo prazos, acompanhamento de desempenho e mudança de rota quando necessário.
Foto de perfil do autor
PorSérgio Goldman - 23/12/2024
3 min de leitura

Neste final de semana assisti à série Senna na Netflix.

Nunca fui um grande fã de Fórmula 1, mas como a maioria dos brasileiros que gostam de esportes, acompanhei de perto as conquistas de Ayrton Senna nos domingos pela manhã.

À medida que a história de Senna se desenrolava, passei a refletir sobre vários aspectos ligados a cultura e maneira de pensar da sociedade e do ambiente de negócios do país.

Senna era obstinado por resultados.

Essa obstinação, que muitas vezes aparecia na série como algo negativo, se tornou na verdade o principal diferencial competitivo do piloto Ayrton Senna.

Ele não se contentava em ser o 2º colocado; precisava vencer sempre. Queria ser campeão do mundo todos os anos.

Esse fome de conquistas causou problemas para ele tais como problemas mecânicos resultando em perdas de corridas próximas de vitórias além de conflitos com autoridades e demais pilotos.

Mas ele era respeitado exatamente por este comprometimento com as vitórias.

Sinto falta deste compromisso por resultados nas empresas brasileiras e no ambiente de negócios como um todo.

Dentro das empresas, é muito comum escutarmos desculpas esfarrapadas depois da divulgação de resultados aquém do esperado.

Além disso, vemos também muita passagem de pano do mercado e de outros stakeholders para resultados catastróficos em empresas lideradas por empresários e/ou executivos populares. No mundo dos negócios o ditado “Quem é rei nunca perde a majestade” muitas vezes não espelha a realidade.

A cultura da busca por resultados positivos requer definição de metas claras, visão de médio e longo prazos, acompanhamento de desempenho e mudança de rota quando necessário.

Para empresas de capital aberto, o desempenho de médio/longo prazo do preço da ação não pode ser desconsiderado como métrica de desempenho. No Brasil temos empresas cujas ações despencaram 60/70/80/90% em poucos anos e seus controladores e principais executivos seguem cultuados pelo mercado.

Na minha visão, a melhor métrica para se medir qualidade de resultado de uma empresa é a criação de valor; e aqui acredito ser necessário definir metas de criação de valor não só para acionistas, mas também para os demais stakeholders.

A definição das métricas explícitas para medição da criação de valor para os demais stakeholders e o monitoramento do desempenho permitirá analisar se empresas que se dizem comprometidas com as temáticas de sustentabilidade, ESG etc. realmente o são.

Do ponto de vista financeiro, a empresa pode e deve continuar a analisar métricas tradicionais de desempenho. Entretanto, o veredito final virá da capacidade da empresa gerar retornos sobre capital investido acima do seu custo de capital médio ponderado.

É muito importante se desconstruir a ideia de que pessoas comprometidas com resultados são pessoas que necessariamente, colocam em segundo plano os interesses da sociedade. Cada vez mais fica claro que é possível sim aliar resultados financeiros positivos e colaboração com o bem-estar da população.

Estudos recentes sobre qualidade de gestão mostram que empresas que conseguem deixar claro para seus stakeholders os principais aspectos de sua cultura organizacional tem maior probabilidade de crescer de forma sustentável com rentabilidade.

E uma das características mais presentes em culturas de empresas bem-sucedidas é a busca equilibrada por resultados positivos.


Leia também:
Non-deal valuation: o dever de saber como aumentar o valor de sua empresa

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

Compartilhe

Este artigo foi útil?

Artigos Relacionados

Compartilhe