Temporada de balanços: análise e principais resultados do 3T22
Na quinta-feira (17), foi encerrada a temporada de balanços financeiros do terceiro trimestre. Embora a maior parte das empresas listadas no Ibovespa tiveram um desempenho inferior, se comparado ao mesmo período de 2021, a avaliação dos analistas é que os resultados do 3T22 vieram sólidos. Cerca de 55% das companhias reportaram lucros operacionais acima do esperado e 54% superaram as expectativas quanto à receita.
O terceiro trimestre foi marcado por um sentimento de cautela entre os investidores, frente a um cenário macroeconômico não favorável. Crescentes preocupações de recessão na economia global, principalmente nos EUA e na Zona do Euro, tomaram conta do mercado, intensificando a aversão ao risco dos investidores.
A bolsa brasileira foi negativamente afetada por essa situação, tendo observado fraco desempenho no mês de julho. Segundo a B3, o volume de negociações de ações no 3º trimestre teve queda de 17% em relação a 2021, à medida que os investidores estão buscando ativos de renda fixa, que se tornaram mais atraentes após o cenário de alta inflação global levar os bancos centrais de todo o mundo a subirem os níveis de juros.
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No Brasil, o aperto monetário não elevou o risco de contração na economia, porém trouxe consequências negativas para alguns segmentos. É o caso do setor de varejo, afetado pela queda do consumo em decorrência do encarecimento do crédito, com taxa Selic acima dos dois dígitos. A alta dos juros também prejudicou as empresas com o aumento nas despesas operacionais, causado pela elevação do nível da dívida.
Além das despesas com dívidas, o elevado custo de produção também foi outro desafio enfrentado pelas companhias no trimestre. Com a inflação alta, o custo da matéria-prima foi maior durante o período. Soma-se a isso o aumento do frete, as baixas na economia chinesa e a diminuição do poder de compra da população, que juntos fizeram alguns setores enfrentarem menor volume de vendas e produção.
Apesar disso, dados da XP Research mostram que o lucro por ação do Ibovespa aumentou 3,4% quando comparado ao 2T22, e 20,9% em relação ao mesmo período em 2021. Parte dessa melhora está na melhoria do cenário interno, que, apesar da persistência de juros e inflação alta, verificou deflação nos últimos três meses, e parte está no êxito das empresas em repassar os custos altos ao consumidor.
Quais setores se destacaram nesta temporada de balanços?
Para a maioria dos analistas, o destaque desta temporada foi o setor de Papel e Celulose, com a Suzano (SUZB3) entre os maiores lucros líquidos do trimestre, segundo levantamento do Economática. A Irani (RANI3) também apresentou um bom conjunto de resultados, impulsionados pela recuperação da demanda de papelão ondulado, aumento da capacidade produtiva em Santa Catarina, e estabilidade dos custos.
O desempenho do setor siderúrgico também segue forte, mesmo pressionado pela baixa demanda por metais. A expectativa é que empresas como a Gerdau (GGBR4) se recuperem assim que a China abandonar sua política de covid-zero e retomar a atividade econômica.
As petroleiras também ocuparam papel de destaque no trimestre, com bons resultados atrelados à alta do preço da commodity e à eficiência operacional das companhias, que reduziram custos, mesmo em meio à aquisição de novos campos de extração.
O destaque negativo, como já citado, foi o comércio varejista, afetado pelos juros altos. Como um todo, o lucro do setor caiu 218% no comparativo entre o segundo e o terceiro trimestre. Apesar do revés, o Grupo Soma (SOMA3) e Vivara (VIVA3) apresentaram bons resultados, assim como o Assaí (ASAI3), mesmo diante da pressão de despesas pré-operacionais.
Principais resultados do 3T22
A seguir, confira o desempenho das empresas que se destacaram nesta temporada de balanços:
Suzano (SUZB3)
O setor de papel e celulose também observou crescimento significativo no terceiro trimestre do ano, com destaque para a Suzano, maior produtora mundial de celulose.
A companhia reportou lucro líquido de R$ 5,44 bilhões no período, revertendo o prejuízo de R$ 962 milhões um ano antes e superando o lucro de R$ 175 milhões no segundo trimestre.
A receita da companhia também disparou 32% na comparação anual, aos R$ 14,2 bilhões, sustentada pela alta de preços da commodity. O ciclo da celulose segue forte enquanto a expansão do mercado global impactou positivamente os resultados, com mais de 2,8 milhões de toneladas vendidas.
A controladora da empresa, Suzano Holding (NEMO5), também se destacou entre os balanços, com crescimento de 3.471% do lucro líquido na comparação trimestral (de R$ 42 milhões para R$ 1,51 bilhão). O menor impacto do câmbio sobre a dívida da companhia e o resultado positivo das operações com derivativos ajudaram no resultado.
Irani (RANI3)
Ainda no segmento de papel e celulose, os bons resultados da Irani animaram os investidores, que avaliaram a expansão das receitas e a estabilidade dos custos como favoráveis.
Apesar da queda de 2,1% no lucro líquido, quando comparado ao mesmo período do ano passado, os maiores volumes de vendas de papelão ondulado, em razão do incremento da demanda e do aumento da capacidade produtiva, asseguraram os ganhos de 2,06% das receitas da empresa.
Weg (WEGE3)
Outro destaque positivo da temporada foi o balanço corporativo da empresa de bens de capital WEG. Os lucros da companhia atingiram R$ 1,16 bilhão no trimestre terminado em setembro, alta de 42,5% na comparação anual.
O crescimento sólido das receitas foi outro motivo de entusiasmo (+27,6% na mesma base de comparação), com ênfase para o segmento de geração, transmissão e distribuição (GTD), puxado por projetos de geração eólica no Brasil.
Embora o cenário internacional tenha prejudicado as expectativas em volta dos resultados da companhia, a demanda global por equipamentos industriais se manteve aquecida, principalmente do setor de óleo e gás, em razão da escalada dos preços da energia frente ao conflito do leste europeu.
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Movida (MOVI3)
Os resultados trimestrais da locadora de veículos vieram aquém do esperado pelo mercado, com lucro líquido ajustado de R$ 94 milhões, 64% abaixo do verificado no mesmo período de 2021 e 50% menor que no último trimestre.
Os números ainda ficaram abaixo das projeções dos analistas, que citaram, dentre os principais motivos, a queda do preço médio de carros usados, com impacto direto sobre a margem EBITDA do segmento de Seminovos, e a manutenção dos juros em patamar bastante elevado, comprometendo os resultados financeiros da empresa.
No mais, a divisão de aluguel registrou crescimento, enquanto a rentabilidade da companhia permaneceu estável.
Americanas (AMER3)
O setor varejista tem sido fortemente prejudicado ao longo do ano em razão da disparada das taxas de juros, tanto internas quanto internacionais. O aumento do custo do crédito via taxas de juros mais elevadas desincentivam o consumo e afetam as receitas do setor.
Dentre as varejistas, o balanço da Americanas desanimou os investidores, que observam forte retração das receitas no período, com destaque principalmente para o e-commerce no segmento 1P. A desalavancagem operacional levou a empresa a queimar R$ 2,1 bilhões em caixa.
No trimestre, a Americanas reportou prejuízo de R$ 211,5 milhões, revertendo os lucros verificados no mesmo trimestre de 2021.
Pão de Açúcar (PCAR3)
Os dados fracos do Grupo Pão de Açúcar, divulgados mais cedo no mês, surpreenderam negativamente os investidores, que viram o prejuízo da varejista de alimentos se aprofundar ainda mais no trimestre.
Na comparação com 2021, o prejuízo saltou 221,7%, enquanto avançou 71% diante do prejuízo de R$ 173 milhões do segundo trimestre.
Embora as receitas tenham subido, com destaque para o GPA Brasil e o Grupo Éxito, o resultado fraco da Cnova pesou sobre o balanço do grupo de supermercados e os investidores se veem preocupados pela falta de expectativas para a reversão dos prejuízos no curto prazo.
Soma (SOMA3)
Apesar da queda do setor varejista, o Grupo Soma se destacou entre as empresas de consumo discricionário. As receitas da varejista de moda apresentaram crescimento robusto no 3T22 para todas as marcas, puxadas principalmente pelo canal do atacado. Na comparação anual, as vendas líquidas avançaram 35%.
A Vivara é outra empresa do setor que também observou crescimento consistente no período, superando o consenso do mercado.
Sabesp (SBSP3)
No setor de utilities, a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo foi destaque positivo no trimestre, superando as expectativas de lucro do mercado. O lucro líquido da empresa saltou 130,7% na comparação anual, aos R$ 1,1 bilhão.
Os resultados capturaram principalmente o reajuste tarifário de 12,8%, observado desde maio, além do aumento de 1,6% no volume faturado.
Gerdau (GGBR4)
Embora o lucro da metalúrgica tenha recuado 45,9% no trimestre, aos R$ 3,02 bilhões, os números foram vistos com bons olhos e superaram as expectativas dos investidores.
Diante do cenário macroeconômico mais desafiador e pela baixa demanda por metais, o balanço da companhia se destoou de seus pares, puxado principalmente pelos dados mais fortes da América do Norte.
Ainda, as perspectivas para a empresa são positivas, levando em consideração o encerramento das políticas de “Covid-zero” na China.
Banco do Brasil (BBAS3)
Destoando-se dos demais resultados do setor, os números do Banco do Brasil superaram as projeções dos analistas. O Banco registrou lucro recorde de R$ 8,4 bilhões, alta de 7,1% na comparação trimestral e 62,7% na base anual.
Dentre as razões para os bons ganhos, ressaltam-se o incremento da margem financeira bruta, o crescimento da carteira de crédito e a diversificação nas receitas com serviços, além dos melhores resultados da tesouraria, que somaram R$ 10,15 bilhões.
Embora o setor tenha enfrentado incremento da inadimplência no período, o forte posicionamento da instituição no agronegócio, com linhas de crédito rural para produtores familiares, mantiveram seu índice de inadimplência em patamares reduzidos.
Petrobras (PETR4)
Frente ao bom desempenho do setor petroleiro e a valorização do preço do petróleo, a Petrobras realizou mais um trimestre de bons resultados. O lucro da estatal superou R$ 46 bilhões, abaixo do valor reportado no segundo trimestre, mas 48% acima do terceiro trimestre de 2021.
A menor desvalorização do real contra o dólar também contribuiu para a melhora dos resultados financeiros da companhia. A estatal segue com a forte distribuição de dividendos, enquanto seu caixa atingiu o menor nível dos últimos anos, aos R$ 37 bilhões, possibilitado pela redução da dívida, acesso a linhas de crédito emergenciais e menores contingências.
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Daqui para frente, os investidores devem continuar preocupados com os ruídos políticos relacionados à empresa e o nome que deverá assumir o comando no próximo governo, o que deve limitar os ganhos dos papéis da companhia.
Hypera (HYPE3)
No setor de saúde, a Hypera apresentou resultados sólidos, com lucro líquido de R$ 470 milhões, acima do consenso do mercado e 131% superior ao de 2021. Ainda na comparação anual, a receita líquida avançou ao patamar recorde de R$ 2,35 bilhões, alta de 24,7%.
Em linha com os números positivos da Hypera, a Rede D’Or, comunicou alta de 4,8% nos lucros e de 14,2% nas receitas. Na contramão, a Qualicorp, empresa de planos de saúde, viu seus lucros afundarem 55,4%, diante do reajuste dos preços de seu portfólio, que levaram a alta taxa de cancelamento e perda de 75 mil usuários.
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