Reflexões sobre a criação de uma nova bolsa de valores no Brasil

Se por um lado acredito que exista espaço sim para uma segunda bolsa no Brasil, por outro lado, é fundamental que a nova bolsa traga produtos e práticas intensivas em inovação e que materialize algumas oportunidades que há tempo estão se apresentando, mas que por algum motivo a B3 não está conseguindo colocá-las em prática.
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Por Sérgio Goldman - 08/07/2024
3 min de leitura

No fim da semana passada, foi confirmado que o fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala, planeja criar uma bolsa no Brasil, com início de operação estimado para o ano que vem.

Não é a primeira vez que a operação de uma nova bolsa, concorrente da B3, é anunciada.

Mas como sabemos, até hoje os anúncios não se concretizaram.

Aparentemente, dessa vez a possibilidade é alta, considerando que o Mubadala tem um bolso bem fundo para investir quantias elevadas para montar um negócio que consiga competir com a B3 e gerar retornos atraentes para todos stakeholders: acionistas, clientes, empresas listadas, governo, funcionários etc.

Se por um lado acredito que exista espaço sim para uma segunda bolsa no Brasil, por outro lado, é fundamental que a nova bolsa traga produtos e práticas intensivas em inovação e que materialize algumas oportunidades que há tempo estão se apresentando, mas que por algum motivo a B3 não está conseguindo colocá-las em prática.

Uma dessas oportunidades é a criação de um mercado de acesso que consiga listar um número significativo de médias empresas brasileiras.

A B3, desde os tempos de Bovespa, buscar criar um mercado de acesso para médias empresas, aos moldes dos que existem ao redor do mundo tais como Toronto e Londres.

As tentativas não lograram sucesso e a grande maioria dos agentes argumentam que os custos de listagem eram elevados e, portanto, as empresas não se sentiam atraídas por listarem suas ações.

Entretanto, a listagem no mercado de acesso pode trazer benefícios importantes para uma empresa com faturamento entre R$50-500 milhões por exemplo.

Primeiro benefício seria a redução do custo de capital através de uma melhora significativa nos controles financeiros da empresa e com a produção de relatórios mais eficientes para a comunicação com o mercado.

Além disso, a listagem cria um acesso mais abrangente a investidores que poderão ajudar a financiar o crescimento futuro dessas empresas.

E um terceiro benefício seria poder se relacionar com investidores que poderão produzir insights relevantes para o crescimento e rentabilidade da empresa.

Uma segunda oportunidade é oferecer um serviço de qualidade a um preço menor do que a B3 oferece no momento.

Não estou sugerindo aqui uma guerra de preços, mas sim buscar ser muito mais eficiente que a incumbente e conseguir rentabilizar suas operações a um nível de preço menor que a B3.

Neste tópico deve ser mencionado em destaque o custo de listagem.

Sabemos o número de empresas litadas no Brasil hoje (de 445 em janeiro de 2024) é pequeno em relação ao tamanho de sua economia.

Um dos principais motivos dado pelas empresas é o elevado custo de listagem e de manutenção como empresa de capital aberto.

Tão importante quanto atrair novos investidores para a Bolsa é aumentar o número de empresas listadas.

A estratégia de entrada da nova Bolsa irá determinar seu sucesso no longo prazo.

Acredito que essa estratégia deverá estar alicerçada em inovação e diferenciação e não em apenas replicar o que é feito hoje pela B3.

Leia também:
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Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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