Qual a relevância do ambiente político e institucional para o retorno de investimentos em renda variável no Brasil?
Uma das discussões mais interessantes observada nos fóruns de debates nas mídias sociais em 2024 foi sobre a relevância do ambiente macro, econômico e político, sobre o desempenho das ações de empresas Brasileiras.
Havia um número grande de participantes do mercado que defendiam que o macro tem uma importância reduzida sobre o desempenho das ações.
Por outro lado, havia um grupo que se posicionava no lado oposto; acreditavam que o cenário macro era o fator determinante para o desempenho das ações.
Na minha visão, se olharmos para a expectativa de retorno no curto prazo, isto é, em um período de até 3 anos por exemplo, o cenário macro realmente tem uma relevância significativa.
Entretanto, para um período maior, o chamado longo prazo, os fundamentos da empresa, principalmente a qualidade da sua gestão é que determinarão o retorno total que as ações da empresa darão a seus investidores.
Dito isso, gostaria de focar a análise agora sobre a questão de como o ambiente político e institucional afeta o retorno dos ativos Brasileiros.
Há alguns anos existia uma máxima que era lembrada sempre que havia uma crise política no país:
“No Brasil, as instituições funcionam”
E realmente, até um certo ponto, as instituições pareciam sólidas e, portanto, a máxima acima não era questionada.
Nos últimos anos, os seguintes fatores passaram a levantar dúvidas em relação a solidez das instituições no país:
- Polarização política;
- Fragmentação do Congresso e sua Incapacidade de tocar uma agenda de modernização do país;
- Falta de harmonia entre os 3 poderes;
- Insegurança jurídica;
- Discussões acaloradas nas mídias sociais;
- Falta de renovação de lideranças políticas e,
- Incapacidade de aparecer um nome de centro que aglutine o país ao redor de uma agenda de modernização e redução dos problemas sociais.
Será que os fatores listados aqui não são relevantes para o ambiente de investimentos e para a economia real do Brasil?
Por acreditar que esses fatores são muito relevantes para o ambiente de negócios do Brasil, erram profundamente aqueles que não consideram o ambiente político e institucional em suas análises sobre o retorno esperado para ações e demais ativos no país.
Podemos aqui buscar quais são os “vasos comunicantes” que ligam incertezas no cenário político e institucional com o retorno esperado para ativos de renda variável no Brasil.
Ao usarmos o CAPM (Capital Asset Princing Model) para determinar o retorno esperado para um ativo de renda variável, temos a seguinte relação:
Retorno Esperado = Taxa Livre de Risco + (Beta * (Prêmio de Risco do Mercado de Renda Variável))
Para facilitar o raciocínio, vamos considerar que estamos analisando o mercado de renda variável como um todo; portanto o beta, que é uma medida do risco relativo entre o ativo em análise e o mercado como um todo será 1,0 (pois o risco do mercado como um todo é igual ao risco do próprio mercado).
Com isso o retorno esperado é a soma da Taxa Livre de Risco e do Prêmio de Risco.
Na minha visão, quanto maiores as incertezas políticas e institucionais, maiores serão tanto a Taxa Livre de Risco quanto Prêmio de Risco e, portanto, maior será o retorno esperado e por isso, a tendência é o preço dos ativos cair para que o investidor acredite ser capaz de atingir o retorno esperado através de investimento naquele ativo.
Conclusão: negligenciar o ambiente político e institucional na hora de decidir investir no Brasil vai levar a erros na tomada de decisão de investimentos no país.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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