O Valor Presente das Oportunidades de Crescimento

Em essência, o Valor Presente das Oportunidades de Crescimento (PVGO) quantifica quanto do valor de uma empresa é atribuído à expectativa de crescimento futuro.
Foto de perfil do autor
PorSérgio Goldman - 05/08/2024
3 min de leitura

Quem conhece o conceito está mais familiarizado com a sigla em inglês que é PVGO: Present Value of Growth Opportunities.

Podemos quebrar o valor de uma empresa em dois componentes:

Valor de Empresa (VE) = Valor da Empresa como ela é hoje (VEH) + PVGO,

O cálculo do VEH assume crescimento zero.

Portanto, com base no conhecido modelo de Gordon, teríamos:

VEH = Lucro Líquido (LL) / Custo de Capital Próprio (CCP)

Essa fórmula assume que:

  • Payout de 100% do lucro líquido;
  • Crescimento de 0%.

Com isso, teremos que o valor da empresa (VE) pode ser reescrito como:

VE = (LL / CCP) + PVGO

Como essa quebra em dois componentes pode ajudar a analisar se o preço de mercado de empresas de capital aberto está atraente ou não?

Vamos considerar uma empresa com expectativas de rápido crescimento por alguns anos pelo menos.

Neste caso, deveríamos esperar que o componente do PVGO correspondesse à maior parte do seu preço de mercado.

Ao calcular o VEH, notamos que ele representa mais de 50% do preço da ação naquele momento.

Portanto, dado que esperávamos um maior peso do PVGO, teríamos nesta análise uma indicação que o preço da ação estaria depreciado.

Dois exemplos concretos:

1- WEG, empresa considerada premium na bolsa brasileira.

A empresa divulgou no início desta semana seus resultados no 2º trimestre de 2024 (2T24).

Nos 12 meses até o fim do 2T24, seu lucro líquido acumulado foi de R$5,8 bilhões.

Para o cálculo do CCP, usamos como premissas: uma taxa livre de risco de 11% ao ano, um betab de 0,8 e um prêmio de risco do mercado de ações de 6%.

Com base nestas premissas, temos um CCP de 15,8% ao ano.

Portanto:

VEH = LL / CCP = 5,8 / 0,158 = R$37 bilhões.

Com base no preço de fechamento da ação em 1/08/24, o valor de mercado da WEG era de R$212,5 bilhões

Então, vemos que nesta cotação (R$52,84/ação) o valor de mercado da WEG pode ser decomposto em:

Valor de Mercado da WEG em 1/08/24 = 17% VEH e 83% PVGO

2- Mercado Livre, exemplo de ação de growth

Com base nos resultados do 2T24 divulgados recentemente, Mercado Livre acumula um lucro líquido de US$1,4 bilhões nos 12 meses anteriores.

Seu valor de mercado no dia 1/08/24 era de US$90,1 bilhões;

Usando como fonte o Yahoo Finance, o beta da ação é de 1,6x.

Já tendo como fonte o site do Professor Aswath Damodaran, o prêmio de risco do mercado de ações norte americana está atualmente perto de 4,1%.

Como taxa livre de risco, usamos 4% ao ano.

Com isso, CCP de Mercado Livre é de 10,6% ao ano em dólares e o VEH é de (1,4 / 0,106) totalizando US$10,3 Bilhões.

Portanto, o VEH representa 15% do atual valor de mercado e o PVGO representa os restantes 85%.

Para que o preço de mercado não sofra uma correção forte, as duas empresas precisam manter uma sólida trajetória de crescimento.

Uma questão que pode estar sendo levantada:

Empresas não listadas podem se beneficiar da análise dos 2 componentes do valor?

Sim, podem.

Primeiro benefício é poder ter uma melhor visibilidade do impacto do crescimento no valor do negócio.

E as expectativas de crescimento vão influenciar diretamente as decisões de alocação de capital da empresa.

Se existe intenção de abrir o capital, oferece mais uma ferramenta na busca da determinação do valor intrínseco da empresa.

Vejam a fórmula completa de Gordon:

VE = LL / (CCP – g) onde g é o crescimento sustentável do lucro líquido da empresa.

No caso do cálculo do VEH, o g é zero pois queremos chegar ao valor do negócio como ele é hoje, portanto sem crescimento.

A empresa de capital fechado pode fazer análises de sensibilidade com diferentes níveis de g. O PVGO será a diferença entre o valor da empresa com g diferente de 0% e o valor da empresa sem crescimento.

Leia também:
O que tira o sono do brasileiro em julho de 2024?

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

Compartilhe

Este artigo foi útil?

Artigos Relacionados

Compartilhe