O que tira o sono do brasileiro em julho de 2024?
Este artigo não é endereçado apenas às pessoas envolvidas com administração de empresas, investimentos e negócios em geral.
Ao pensar nas questões que causam stress e dificultam o sono para o mundo dos negócios vi que a maioria delas se aplica a qualquer brasileiro.
Não tenho a pretensão de conhecer a “cabeça do brasileiro”. Os pontos levantados nos próximos parágrafos são influenciados por questões que tiram o meu sono.
Mas tenho certeza de que muitas delas também impactam aqueles que estiverem lendo este artigo.
Vamos lá.
Baixíssima visibilidade do cenário macroeconômico
Incertezas de médio e longo prazos fazem parte do jogo. Principalmente em um país onde a população não acredita em pensamento de longo prazo. Existem várias técnicas para se preparar para diferentes cenários no futuro. Foresight estratégico é uma delas.
Mas muita gente prefere dizer que não é vidente e prefere não pensar no futuro. Se existem técnicas que são usadas por profissionais bastante sofisticados no mundo inteiro, por que nós brasileiros devemos ignorá-las?
Mas vamos deixar o médio/longo prazos de lado por um momento.
O cenário de curto prazo está claro para você? Para mim não.
Isso faz com que a ansiedade aumente ainda mais.
Expectativa de crescimento de longo prazo baixo, juros na ponta elevados, câmbio sempre volátil; haja capacidade de se adaptar a mudanças bruscas no ambiente econômico.
Desde que lançou o Plano Real, o PIB cresceu em média apenas 2,4% ao ano. Crescimento pífio para lidar com as demandas sociais. Não há indicação de que haverá uma aceleração do crescimento econômico no futuro próximo.
Enquanto o mercado discute onde estará a Selic no fim do ano, as taxas de juros para o consumidor permanecem absurdas. Na 6ª feira, o Banco Central divulgou que a taxa anual do crédito rotativo no cartão estava em 429,5% em junho. A taxa do cheque especial estava 135% no mesmo mês.
E o câmbio? No início do ano, muitos achavam que a taxa de câmbio se estabilizaria abaixo de R$5,00 por dólar. Hoje está em R$5,60. Haja volatilidade…
Insegurança jurídica e insegurança com a violência nas cidades
As regras e leis mudam constantemente e para qualquer negócio essas mudanças geram riscos.
Mesmo quando as mudanças estão na direção correta, pelo menos no primeiro instante, acaba introduzindo incertezas.
Vamos pegar o exemplo da reforma da previdência aprovada em 2019. Hoje, apenas 5 anos após sua aprovação, já se fala da necessidade de nova reforma.
Temos a reforma tributária, em vias de aprovação final. Mas na real, pouca gente sabe exatamente como as empresas, e a economia como um todo, irão se ajustar às novas regras.
Com relação à insegurança nas nossas cidades, somos exemplos vivos que de ela tira e muito o sono do brasileiro.
Desesperança com o futuro do país
Se você tem filho ou filha jovem, provavelmente já escutou que ele/ela gostaria de mudar de país. E a busca por maior estabilidade fora do Brasil está ocorrendo, fato. Nesse processo, o país está perdendo muitos profissionais competentes, que poderiam ajudar a implementar as mudanças que o país tanto necessita.
Vou parar por aqui. Mas poderia continuar elencando outras questões que fazem o brasileiro médio perder algumas horas do seu sono.
Como as empresas podem tentar se proteger de todas essas incertezas?
Tenho 4 sugestões:
- Definição de um cenário base e duas variações; uma mais otimista e outra mais pessimista;
- Acompanhamento mensal do desempenho dos 3 cenários e reunião trimestral para revisão de cenário base;
- Utilização das técnicas mais modernas de gestão e análise de cenários. Exemplos: foresight estratégico, future-readiness etc;
- Criar um grupo interno de gestão de risco que deverá monitorar além do risco de cenário, também o risco de mudanças competitivas relevantes no setor de atuação da empresa;
- Criação de um conselho, seja ele consultivo ou de administração, com membros que tenham capacitação nas competências-chave para colocar a empresa na trajetória de longevidade.
Leia também:
O impacto da reforma tributária sobre o valor das empresas brasileiras
Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
Este artigo foi útil?