Por que usar o EBITDA na tomada de decisões financeiras é inadequado

Se alguém estiver realmente interessado em analisar um indicador correto para o desempenho financeiro de uma empresa, deve olhar a geração do fluxo de caixa livre que subtrai do fluxo de caixa operacional, o pagamento de impostos e os investimentos em capital de giro, ativos fixos e intangíveis.
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PorSérgio Goldman - 03/02/2025
3 min de leitura

Neste fim de semana, estava eu navegando pela internet, quando me deparo com um post de sócios de uma dessas escolas que prometem transformar reles mortais em super-executivos. O post dizia:

“Métrica de vaidade: faturamento alto; métrica de realidade: EBITDA e geração de fluxo de caixa”

Quem acompanha minhas opiniões já deve ter visto eu argumentar que usar o faturamento como base para o valuation de uma empresa é uma distorção gigantesca do conceito de valor. Mas não podemos negar que o desempenho de um negócio depende totalmente da capacidade da empresa gerar faturamento. Portanto, está longe de ser uma métrica de vaidade apenas.

Mas é no EBITDA onde eu gostaria de concentrar a análise neste artigo.

Muito profissional de mercado com anos de experiência, boa formação e sucesso comprovado continua a usar e abusar do uso do EBITDA como métrica de desempenho e como principal input para o valuation de uma empresa.

Muitos desses profissionais repetem sem pensar que o EBITDA é a geração de caixa operacional de um negócio.

Mas não é….

O cálculo do EBITDA (Receita Líquida – custos – despesas operacionais + depreciação) não incorpora o investimento em capital de giro que, em muitos casos, acaba se tornando o maior item de saída de caixa de um negócio, principalmente se a empresa estiver em um período de crescimento acelerado.

Quando se diz que o EBITDA é a geração de caixa da empresa, peca-se por não considerar, além do investimento em capital de giro, também o investimento em ativos fixos, ativos intangíveis ou mesmo o investimento para adquirir novas empresas.

Além disso, o EBITDA não considera as saídas de caixa decorrentes do pagamento de impostos. Será que alguém aqui vai discordar se eu disser que no Brasil, pagamento de impostos é uma saída de caixa relevante de qualquer empresa?

Se alguém estiver realmente interessado em analisar um indicador correto para o desempenho financeiro de uma empresa, deve olhar a geração do fluxo de caixa livre que subtrai do fluxo de caixa operacional, o pagamento de impostos e os investimentos em capital de giro, ativos fixos e intangíveis.

Vamos dar uma olhada no desempenho financeiro da Tesla no período de 2020 a 2024. Vejam na tabela abaixo a diferença entre o EBITDA e o fluxo de caixa livre na empresa no período:

20202021202220232024
EBITDA Ajustado5.81711.62119.18616.63116.646
Fluxo de Caixa Livre2.7865.0157.5664.3583.584
FCF/EBITDA47,9%43,2%39,4%26,2%21,5%

Fonte: Tesla e Sérgio Goldman

Como vemos nesta tabela, as diferenças entre EBITDA e fluxo de caixa livre da Tesla no período analisado são significativas.

Você deve estar pensando: entendo teus argumentos, mas então porque tanta gente “boa” usa e abusa do uso do EBITDA?

Tenho minhas teorias:

Primeira: efeito manada. Se muita gente usa então deve estar correto. Além disso, tem aquela necessidade de pertencimento e de usar a linguagem que os pares usam sem se questionar se o que falam está correto ou não.

Segunda teoria é que o conceito e o cálculo do EBITDA são mais simples do que os do fluxo de caixa livre. Com isso, pessoas que não são especialistas em finanças acabam preferindo usar o mais simples.

Para concluir gostaria de deixar bem claro: quem continua a tomar decisões com base no EBITDA, não conhece os conceitos básicos de finanças corporativas e tem grandes chances de tomar decisões equivocadas.  

Leia também:
Inovação é risco e oportunidade

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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