Política, instituições e o preço dos ativos brasileiros

Se me perguntarem como podemos caracterizar o atual momento da política no Brasil, eu respondo: polarização excessiva que dificulta muito a implementação de políticas que visem acelerar o crescimento econômico, e reduzir as demandas sociais.
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PorSérgio Goldman - 29/04/2024
3 min de leitura

Ao contrário da opinião de alguns agentes do mercado brasileiro que defendem nas mídias sociais que o investidor deva ignorar o que acontece na política brasileira, eu acredito que existe sim um impacto negativo tanto do cenário político quanto da percepção de que as instituições não são tão sólidas como se acreditava até recentemente.

Se me perguntarem como podemos caracterizar o atual momento da política no Brasil, eu respondo:

Polarização excessiva que dificulta muito a implementação de políticas que visem acelerar o crescimento econômico, e reduzir as demandas sociais.

A importância desse ambiente político pode ser melhor entendido quando refletimos sobre a seguinte questão:

Brasil, qual é a sua tese de investimentos?

Não existe uma resposta única para essa questão. Não existe resposta certa ou errada.

Na minha visão, quem investe no Brasil busca crescimento acima da média e upside potencial elevado já que crescimento e upside dependem da implementação de reformas estruturais.

Em outras palavras, a tese de investimentos do Brasil continua sendo uma tese que depende da aprovação de reformas estruturais que tenham como consequência:

  • a) melhoras significativas do ambiente de negócios,
  • b) crescimento econômico sustentável a taxas significativamente maiores do que aquelas observadas nos últimos 30 anos e,
  • c) redução da pobreza e demais demandas sociais.

Por ser uma tese que depende da aprovação de boas reformas, o cenário político é fundamental.

Quanto mais polarizada estiver a sociedade, mais lenta e complicada será a aprovação de reformas que impactem a economia e sociedade.

Neste ambiente polarizado, vejo 3 possíveis cenários para a aprovação de reformas necessárias e urgentes, mas controversas:

  1. Depois de um longo período de negociação, reforma é aprovada conforme proposta pelo executivo;
  2. Depois de longo período de negociação, reforma é aprovada com mudanças significativas. Impactos sobre economia e sociedade são menores do que no caso da versão original e,
  3. Após longo período de negociação, reformas não são aprovadas;

Acredito que o cenário 2 é aquele que tem caracterizado as aprovações de reformas estruturais pelo Congresso.

Um exemplo atual:

A reforma da previdência foi aprovada em 2019. Dizia-se que sua aprovação inauguraria um período de crescimento sustentável a taxas elevadas.

Hoje já se discute a necessidade de uma nova reforma da previdência.

Quando olhamos para as instituições, gostaria de concentrar a análise em dois componentes: independência dos poderes e segurança pública.

Nesses 2 casos vemos razões para cautela quando pensamos em investir no país.

Pensem no investidor estrangeiro, que tem dezenas de possíveis destinos onde alocar seus investimentos.

Com certeza ele irá olhar com melhores olhos países onde ele/ela tenha percepção mais positiva do funcionamento das instituições.

Por tudo isso, eu afirmo que sim, política e instituições têm impacto relevante sobre a precificação de ativos brasileiros.

Quando a percepção em relação a esses 2 fatores é negativa, o impacto sobre preço de ativos é negativo, já que:

  1. Há um aumento no risco país;
  2. Investidor requer um maior prêmio de risco;
  3. Juros tendem a aumentar já que a percepção de continuidade do risco fiscal permanece e pode até crescer;
  4. Menor investimento estrangeiro no país, principalmente investimento em portfolio cujo retorno esperado depende muito de sua visão de curto prazo.

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Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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