O país das balas de prata
Era uma vez um país grande e bastante complexo, localizado nas Américas, ao sul do Equador.
Esse país acumulava mais de 40 anos com crescimento do PIB baixo; em média nesse período seu PIB cresceu menos de 2,5% ao ano.
De tempos em tempos, a sociedade como um todo, influenciada por economistas de renome e pela mídia especializada, elegia um grande evento que seria o catalizador para que a economia do país passasse a crescer de maneira sustentável, as taxas bem mais elevadas do que o patamar das várias décadas anteriores.
A esses eventos-catalisadores dou a denominação de balas de prata.
É óbvio que o país em questão é o nosso querido “Brasilsão”.
Vamos concentrar nossa análise do período que começa em 2019, e vem até os dias de hoje.
Ao assumir a presidência em 2019, o presidente Bolsonaro elegeu a reforma da previdência como a sua bala de prata.
Antes de prosseguir, vale uma contextualização: a percepção da maior parte da sociedade, de novo bastante influenciada pelos “especialistas”, é de que, se resolvermos a questão da falta de equilíbrio fiscal, a almejada aceleração da economia acontecerá naturalmente.
Neste contexto, como as contas da previdência são uma das principais ameaças ao equilíbrio fiscal, e como a aprovação da reforma melhoraria seus resultados ao longo do tempo, a reforma daria ao país o ticket para a jornada do maior crescimento.
A reforma foi aprovada com várias modificações, veio a pandemia que impactou a economia, mas hoje já se fale da necessidade de uma nova reforma da previdência.
Em 2023 começou a administração do presidente Lula e apresenta-se duas novas balas de prata: reforma tributária e arcabouço fiscal.
Passados quase 2 anos de governo, ambas as balas de prata foram aprovadas, mas permanece elevado ceticismo de que: a) o equilíbrio das contas fiscais está próximo de ser alcançado e b) estamos perto de entrar em rota de crescimento sustentável a taxas elevadas.
Nas últimas 3 semanas, o foco do mercado tem sido a aprovação do ajuste das contas fiscais para os próximos 2 a 3 anos. Observando o comportamento dos preços dos ativos temos a impressão de que o mercado acredita que o ajuste é a bala de prata da vez.
Está mais do que na hora de a sociedade brasileira (não só o mercado) cair na real; balas de prata não serão suficientes para resolver os problemas complexos da economia brasileira.
Precisamos de um conjunto de medidas que precisam ser tomadas de forma sincronizada.
O equilíbrio fiscal é uma dessas medidas, de fato muito importante.
Outras medidas a serem consideradas são:
- Abertura comercial da economia brasileira;
- Redução gradual da carga tributária;
- Incentivo para crescimento significativo dos investimentos de qualidade em inovação;
- Choque de eficiência e qualidade na educação em todos os níveis;
- Maior solidez nas regras jurídicas e institucionais;
Essas são apenas algumas das medidas. Muitas outras são necessárias.
Está mais do que na hora também que as agendas macro e microeconômicas sejam qualificadas através da inclusão no debate de novos formadores de opinião, que tragam ideias diferentes das ideias consensuais.
A estreia de novos canais de mídia especializada em negócios e economia, CNN Money e CNBC Brasil, pode ser uma excelente oportunidade para a discussão de novas ideias.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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