IPOs voltarão em 2025. Será?
Semana passada, estava lendo um artigo no Valor Econômico no qual o principal executivo do banco de investimentos de um dos principais conglomerados financeiros do país dizia que esperava a volta dos IPOs no segundo semestre de 2025.
A leitura do artigo me gerou algumas reflexões sobre IPOs e como as empresas brasileiras se preparam para eles. Segue algumas dessas reflexões:
IPOs viraram atividade pop no Brasil
Na minha carreira no mercado financeiro trabalhei em algo como 30 IPOs e posso dizer sem pestanejar: é bastante motivador. Sinto que em períodos em que acontecem mais operações de abertura de capital, muitas pessoas de fora do mercado passam a se interessar por essas operações e pelo mercado como um todo. Algumas possíveis alavancas para esse maior interesse são:
a) o sucesso e o fracasso de alguns dos IPOs;
b) estreia no mercado de capitais de empresas conhecidas da sociedade como um todo e,
c) listagem de empresas de setores relevantes no Brasil que até então não eram representados no mercado de capitais.
Seria possível antecipar quando haverá a retomada da atividade de IPOs?
Vamos pensar o seguinte: o que é necessário haver para que tenhamos um novo ciclo de IPOs no Brasil? No lado do ambiente econômico, precisamos ter crescimento robusto, juros baixos ou em queda e alguma visibilidade do que acontecerá na economia no curto e médio prazo pelo menos. Nas empresas, é preciso que haja projetos de investimentos com retornos esperados acima do custo de capital que justifiquem a tomada de recursos via equity. Além das condições macro acima citadas, as empresas precisam de segurança jurídica e institucional para levar a cabo novos projetos relevantes de investimentos. Temos isso no agora no Brasil? Não. Quando teremos? Muito difícil antecipar. É possível dizer que teremos esse ambiente no 2º semestre de 2025 como mencionou o executivo do banco de investimentos? Acho que não dá para antecipar.
O que determina o sucesso de um IPO?
Para maioria dos agentes de mercado, um IPO de sucesso é aquele no qual o preço inicial está próximo ou até além do topo da faixa indicativa de preço determinada inicialmente. Ou aquele no qual a ação sobe forte quando começa a ser negociada. Para mim esses são sucessos efêmeros. Na minha visão, para reconhecermos um sucesso de verdade precisaremos observar se as seguintes características estarão presentes após um período mais longo de mercado (1 ano ou mais):
- Alta consistente no preço da ação e no volume negociado;
- Interesse das áreas de research do sell side e do buy side em conhecer a tese de investimentos da empresa e,
- Comunicação transparente, de duas mãos, entre empresa e mercado.
O que você acha de empresas que fazem IPO para melhorar sua estrutura de capital?
Em geral, o mercado não gosta muito de IPO cujo objetivo principal é reduzir a alavancagem da empresa. Eu não vejo problema algum, desde que a menor alavancagem permita à empresa voltar a crescer de maneira sustentável. Para isso, é preciso que o investidor esteja bastante confiante na capacidade gerencial do time a cargo da administração da empresa.
Para concluir, gostaria de dizer que não acredito em uma receita única para IPOs de sucesso. Cada caso será um caso diferente e o caminho para o IPO será diferente em cada um.
Entretanto, afirmo que:
- O IPO é uma jornada que precisa ser iniciada alguns anos antes da efetiva negociação da ação em bolsa e,
- A operação de IPO não é o clímax desta jornada, apesar de ser um marco importante. O clímax da jornada só acontecerá no pós-IPO, quando a empresa estará implementando uma estratégia para se tornar relevante no mercado de capitais.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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