O Ibovespa é um bom benchmark?

Nos últimos meses o debate sobre o índice S&P500 aumentou. Afinal, a alta de 2023 se deve basicamente aos poucos papéis de tecnologia que impulsionaram o benchmark americano. O agregado das 495 empresas restantes ficou praticamente perto de zero.
Com isso, a turma voltou os olhos para o SP de Igual Peso, que tem inclusive um ETF com boa liquidez para isso, o RSP.
Olhando o longo prazo e fazendo uma média em muitos mercados, o índice de peso igual ganha 1% em termos anualizados do índice market cap weight, com a mesma volatilidade.
Parece pouco, mas em 20 anos isso dá um delta de 22%. Para investidores de longo prazo, como fundos de pensão e endowment, faz todo sentido.
A racional disso é que no índice por market cap o índice vai comprando mais e mais quanto mais o papel sobe. Tipo efeito retrovisor de pessoa física, que faz investimentos olhando a janela mais recente e compra/vende o que foi bem/mal.
Recentemente, nas carteiras internacionais, troquei a exposição ao índice americano tradicional pelo índice de peso igual, que ficou bem defasado e mais defensivo em relação à uma correção acentuada em tecnologia, que me parece cara no momento.
Isso tudo me deu vontade de revisitar o índice Bovespa. Apenas para ilustrar, o índice Bovespa tem um critério ruim de construção, ele usa o tal índice de negociabilidade. Empresas pequenas, ruins, como OGX ou IRB, se negociarem muito e tiverem muitos negócios ou liquidez ampla (especulação) acabam indo para o índice. Ao contrário do S&P500 que é market cap.
O S&P500 é um índice que tem viés de sobrevivência e os mais fortes ficam maiores no índice.
O Bovespa permite “lixões” com peso no índice, desde que tenham muitos negócios.
Por isso o S&P500 é muito difícil de bater com gestão ativa e o Bovespa é bem mais fácil. Por isso gestão ativa no Brasil é uma coisa, nos EUA é outra.
Se por um acaso fôssemos criar um índice B3 Market Cap aos moldes do S&P500, desconfio que os gestores ativos aqui teriam a vida bem mais difícil.
Um pequeno exemplo, boas empresas, com bom market cap, não estão presentes no Bovespa, como Caixa Seguridade, Porto Seguro, Neo Energia e DASA.
Olhando no longo prazo, e assumindo que ações são ativos reais, creio que índices como IPCA + 6% ao ano seriam benchmarks mais justos para cobrança de performance, do que um índice não tão bem desenhado.
Fica o debate para melhorarmos e popularizarmos o investimento em bolsa no Brasil.
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Sobre o colunista
André Leite possui mais de 25 anos de experiência como portfolio manager e trader para diversos bancos e assets. Passou por instituições como Banco Bozano, Simonsen, Banco Modal, Banco Santander, Maxima Asset Management, J. Safra Asset Management, Kairós Capital e Torana Investimentos. Hoje é Chief of Investment Officer da TAG Investimentos. Já recebeu prêmios como “Best Hedge Fund Manager – 1998” (Revista Exame e Lipper) e “Best Fixed Income Portfolio Manager – 2002” (Revista Investidor Institucional). É formado em Engenharia Elétrica pela UFRJ e possui MBA pela University of Michigan Business School.
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