O G do ESG
O conceito de governança corporativa no Brasil passou por diferentes fases.
Em 2000, foi criado o Mercado na Bovespa (hoje B3), segmento de listagem que incluía empresas que se comprometessem a adotar uma série de práticas consideradas de mais elevada governança corporativa.
Dentre as empresas listadas em Bolsa, fazer parte do Novo Mercado significava ser olhada como uma empresa com melhores práticas de Governança.
Depois de alguns anos de existência, para ser considerada uma empresa com melhores práticas de Governança, além de estar no Novo Mercado, se tornava necessário que a empresa tivesse um compromisso com tratamento igualitário aos acionistas minoritários.
Entretanto, ao longo do tempo, várias das empresas listadas no Novo Mercado tomaram decisões que prejudicaram os minoritários e, portanto, respeito explícito esse grupo ganhou relevância.
Mais recentemente, vimos uma nova evolução: governança é uma das 3 letras de um dos conceitos mais relevantes da gestão moderna das empresas: ESG.
Valho-me da definição de Governança Corporativa incluída no novo código lançado ano passado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC):
“Governança corporativa é um sistema formado por princípios, regras, estruturas e processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral”
Uma forma de se olhar esta definição é pensar que a Governança visa a criação de valor sustentável para acionistas e demais partes relacionadas, a saber: funcionários, clientes, fornecedores, governo e comunidade.
Essa busca por criação de valor sustentável traz algumas consequências importantes para o funcionamento do Conselho de Administração, que deve ser o guardião final das melhores práticas de Governança.
A principal consequência é a necessidade de que a composição do Conselho esteja alinhada com o objetivo de criação de valor sustentável.
Por exemplo, me parece fundamental que hoje em dia, o Conselho de Administração de qualquer empresa tenha entre os seus membros alguém que conheça a fundo o tema inovação.
Parece óbvio, mas no Brasil isso ainda não está disseminado.
O Conselho precisa se preocupar também com a reputação das marcas de sua empresa.
Para isso, qualidade dos produtos e serviços e a estratégia de comunicação com seus stakeholders são atividades que precisam ser discutidas no âmbito do Conselho.
Vejo 3 tópicos onde o Conselho precisa dedicar atenção especial para monitorar como eles estão impactando a reputação da empresa:
- As práticas ambientais e sociais, o E, e o S do ESG;
- A qualidade dos produtos e serviços disponibilizados pela empresa e,
- Como a empresa está se comunicando com seus principais stakeholders.
Para concluir, gostaria de deixar quatro mensagens principais:
- Para quem quer se relacionar com empresas que apliquem as melhores práticas de ESG, a primeira coisa a ser analisada é sua estrutura de governança, em particular se a composição do Conselho está em linha com a estratégia de criação de valor para todos os seus stakeholders;
- Empresas de todos os tamanhos devem buscar implementar boas práticas de governança corporativa e,
- Dentre as empresas listadas na B3, existe espaço de melhora significativa na implementação de estratégias que busquem colocar a empresa no caminho da criação sustentável de valor para acionistas e demais stakeholders;
- Empresas listadas com melhor governança merecem negociar com prêmio em relação a seus pares.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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