O caso SVB e algumas lições sobre gestão

É importante discutir que o que levou o banco à atual situação foi a má gestão.
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PorSérgio Goldman - 15/03/2023
3 min de leitura

Na última semana, a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) tem sido de longe o principal assunto no mercado de capitais global.

O mercado Brasileiro não foi exceção à regra. 

O tema continua sendo centro das atenções da fintwit ou mesmo de grupos de conversas sobre mercado; todo mundo tem sua opinião, todos têm soluções milagrosas para o caso e alguns até anteviam que iria acontecer já há algum tempo.

A ideia aqui não é discutir o caso em si, mas argumentar que o que levou o banco à situação que se encontra agora foi, principalmente, MÁ GESTÃO.

Na grande maioria dos comentários e artigos que tenho lido, e aqui uso como fontes principais mídia especializada em negócios, como por exemplo o Financial Times, além de analistas e articulistas internacionais, existe um quase consenso de que a alta da taxa de juros foi o principal acelerador da quebra do banco.

A pergunta que não quer calar é:

Dado que todos os agentes de mercado, inclusive o management de empresas e instituições financeiras, sabiam que a economia global estava passando por um processo de aperto monetário (alta da taxa de juros) o que foi feito para se preparar para este cenário de juros maiores e menor oferta de funding ?

Do ponto de vista estratégico, eu esperaria de uma estrutura de management efetiva que:

  1. Trabalhasse com estudo de cenários e que, dada a importância que mudanças no cenário de juros tem sobre instituições financeiras, os diferentes outcomes para diferentes comportamentos das taxas fossem variáveis-chave nesta análise de cenário;
  2. Houvesse um comitê de riscos estratégicos dentro do Conselho de Administração.

Importante enfatizar que, mesmo que essas duas iniciativas estivessem presentes no top management do SVB, não seria garantia de que o banco estaria incólume a uma crise de liquidez já que:

  1. As orientações estratégicas podem não ter sido passadas de forma transparente e clara para seus executores e,
  2. A estratégia para lidar com os cenários extremos pode não ter sido a mais correta.

Em outras palavras: a alta administração pode ter tomado decisões erradas e, pior, pode ter comunicado decisões certas ou erradas com falta de clareza e transparência.

Com base em artigos dos últimos do Financial Times, vemos que talvez a principal decisão estratégica errada tomada pelo SVB desde sua criação foi focar modelo de negócios em um grupo (startups e fundos de venture capital) com forte presença do efeito manada…

Um outro erro crasso foi aumentar bastante a carteira de títulos de renda fixa de longo prazo em meio a um ambiente de elevada incerteza e baixa visibilidade. 

O tema qualidade de gestão deve ser levado bem mais a sério do que o investidor médio de fato considera. E aqui estamos falando tanto de gestão nas empresas como na gestão de carteiras de investimentos. 

No Brasil, o mercado é cíclico em escolher o “endeusado-da-vez”

O caso Americanas está aí para mostrar que, uma coisa é admirar os feitos profissionais de algumas pessoas. Outra coisa é fechar os olhos e agir como se pessoas bem sucedidas não erram e não possam cometer desvios.

Qualidade de gestão e seus impactos sobre o valor de uma empresa continuarão a ser temas recorrentes em meus artigos.

Leia também:
Mudemos de stock picking para business picking

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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