Mudemos de stock picking para business picking

Para muitos, não há diferença entre as duas estratégias.
Eu vejo algumas diferenças com consequências relevantes sobre a atitude dos investidores em relação ao mercado de ações, principalmente de investidores que não sejam profissionais de mercado.
De verdade, usei como inspiração para trazer este tema para discussão algo dito recentemente por Warren Buffet (ou talvez por seu sócio Charlie Munger) quando da divulgação dos demonstrativos anuais da Berkshire Hathaway.
Portanto, é uma estratégia que tem pedigree…
Vamos então discutir a diferença entre as estratégias.
Quando um(a) investidor(a) tem um modelo mental onde ele(a) busca as melhores opções de ações, sim, ele(a) também pensa na empresa como um todo onde ele(a) está investindo.
Entretanto, acaba dando importância, a meu ver exagerada, para fatores causadores de ruído tais como:
- Notícias que tenham impacto irrelevante no longo-prazo;
- Movimento das ações causados por ruídos e não por fatores de estruturais;
- Valuation com base em múltiplos que, na minha opinião, está longe de ser o método mais adequado para se definir o valor justo de um negócio;
- Resultados trimestrais. Sim, resultados trimestrais, na grande maioria das vezes, têm pouco impacto no objetivo de uma empresa de criar valor sustentável. Claro que os resultados precisam ser analisados. Mas não se deve tomar decisões precipitadas caso eles venham diferentes do que se esperava;
- Vieses comportamentais;
- Comentários feitos em mídias sociais.
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Já quando decidimos montar uma carteira de ações com o modelo mental de investir para se tornar sócio minoritário de uma empresa que confiamos, focamos nossos esforços em responder 1 pergunta;
A empresa será capaz de criar valor sustentável no longo prazo?
Reconheço que não é uma pergunta simples a ser respondida.
Sugiro começar pensando nas seguintes questões:
A empresa em questão continuará a ser uma empresa relevante em seu setor de atuação no futuro, daqui a 5 anos, 10 anos, 30 anos?
Os gestores da empresa, incluindo a diretoria executiva e o conselho de administração, serão capazes de manter a empresa relevante durante um longo período?
Se um investidor implementar uma estratégia de investimentos em ações onde ele ou ela mesmo(a), ou seus assessores, consigam definir de forma eficiente quais empresas merecem fazer parte desta carteira, a probabilidade de que esta estratégia gere retornos atraentes ao longo do tempo é elevada.
Muitos como eu tentam incutir na cabeça do investidor a filosofia de que investir em ações é um projeto de longo prazo.
Para tentar convencer que isso não é apenas uma desculpa para o gestor, analista ou assessor ser cobrado caso o retorno seja negativo no curto prazo, trago dois argumentos:
- Quando alguém monta uma empresa ou investe estrategicamente em um negócio, a pessoa deve estar ciente de que este tipo de investimento tem um período de maturação. Portanto, ao investir em ações com a cabeça de comprar participações minoritárias em empresas, a mentalidade deve ser a mesma, e,
- Ao investir para o longo prazo e assumindo que a escolha da empresa foi correta, o investidor se beneficia do chamado efeito retornos compostos.
Um breve exemplo para ilustrar esse ponto:
O investidor comprou uma ação e depois de 2 anos ele decide vendê-la. O retorno médio anual foi de 30% ao ano. O retorno total foi de 69%.
Agora um outro investidor comprou a mesma ação, mas segurou ela por 10 anos. O retorno médio anual no período foi de 20% ao ano. O retorno total foi de 519%.
É por isso que escutamos por aí que os juros compostos (ou retornos compostos em ativos que não incorrem juros) são a oitava maravilha do mundo.
Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde 2019 atua como gestor do FIA Esh Prospera. Entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tendo mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.