Número de recuperações judiciais acompanha crescimento do PIB: algo está errado nesta relação

Apesar do PIB em crescimento e da queda no desemprego, o número de RJs aumentou 73% em relação a 2023.
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PorSérgio Goldman - 04/11/2024
3 min de leitura

Em 2016, ano que a economia brasileira vivia o impeachment da presidente Dilma Roussef, com atividade bastante retraída, o número de recuperações judiciais (RJs) no período de janeiro a setembro, medido pela Serasa Experian, havia chegado a 1.500.

Este ano, de janeiro a setembro, o número de RJs foi de 1.700, um crescimento de 73% em relação ao mesmo período de 2023.

A Serasa Experian informa também que há R$149 bilhões de débitos inadimplentes em seus registros.

Em artigo publicado semana passada no “O Estado de São Paulo”, argumentou-se que a alta da taxa de juros foi o principal fator para o aumento da inadimplência. Mas não o único. Alguns outros fatores mencionados foram:

  • Depreciação do Real causando aumento de custos;
  • Inadimplência do consumidor;
  • Empresas tendo dificuldades para acompanhar as transformações tecnológicas e,
  • Impactos das mudanças climáticas afetando especificamente o setor agrícola.

A diferença entre 2016 e 2024 é que neste ano temos um PIB crescendo aproximadamente 3% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Além disso, vemos uma redução dos números de desemprego, com vagas sendo criadas ao longo do período analisado.

Portanto, apesar do aumento da taxa de juros, é surpreendente que tenhamos um aumento tão expressivo nos números de inadimplência.

Um fator não considerado para se analisar o atual aumento do número de RJs é a qualidade de gestão.

Todos os fatores mencionados como catalisadores para o aumento da alavancagem das empresas poderiam ser mitigados com um processo disciplinado de planejamento e análise de cenários onde a administração iria simular qual seria o impacto do aumento de juros ou do aumento da inadimplência do consumidor sobre seu cenário de atuação e sobre os resultados da sua empresa.

Vou repetir aqui o que venho defendendo há algum tempo: pensar no futuro não é tentar acertar o que vai acontecer. É sim refletir como a empresa deve se posicionar no caso de alguns eventos analisados se materializarem.

O mesmo pode ser dito sobre os impactos das mudanças climáticas sobre o desempenho de empresas do setor agro.

Mudanças climáticas são uma realidade e vão continuar a acontecer. Empresas que esperarem elas ocorreram para depois reagir sofrerão os impactos de não terem se preparados antecipadamente.

Transformações tecnológicas fazem parte do ambiente de negócios e da sociedade como um todo. Empresas de qualquer tamanho precisam estar preparadas para não perder relevância por não conseguir se adaptar às mudanças estruturais na economia e nos setores.

Aqui gostaria de reforçar minha mensagem para as médias e pequenas empresas:

Quando falamos em qualidade de gestão, tem que pensar grande. Ser pequeno não pode ser desculpa para não utilizar ferramentas modernas de gestão até porque, não utilizá-las poderá significar perda significativa de mercado ou mesmo o fechamento da empresa.

Voltando à questão de endividamento e inadimplência, dívida não é necessariamente algo negativo. Mas precisa ser bem administrada, com planejamento e uma visão conservadora para o futuro do negócio da empresa.

Leia também:
O que funciona no investimento em renda variável no Brasil?

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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