A modelagem do fluxo de caixa descontado como uma poderosa ferramenta gerencial

O uso do modelo de fluxo de caixa descontado (FCD) não é apenas uma metodologia para valuation de empresas, mas também uma ferramenta gerencial para auxiliar na tomada de decisões estratégicas.
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PorSérgio Goldman - 10/02/2025
4 min de leitura

Recentemente concluí um projeto de consultoria cujo objetivo era determinar o valuation de uma empresa de tecnologia com base em 3 cenários para uma decisão estratégica que a empresa precisa tomar nas próximas semanas.

O projeto serviu para abrir meus olhos para 2 questões que valem à pena trazer para vocês:

1.Tem muita empresa de tecnologia fora dos holofotes da mídia e do “clube do ecossistema de startups” que cria valor de forma sustentável, gera caixa e tem produtos realmente inovadores e,

2. O modelo do fluxo de caixa descontado, cujo objetivo principal é determinar o valor intrínseco de uma empresa, também deve ser usado como uma ferramenta gerencial para tomada de decisões estratégicas.

Sei que muita gente considera a metodologia do fluxo de caixa descontado uma ferramenta pouco confiável, dadas as incertezas de se projetar os resultados de uma empresa no longo prazo.

Para mitigar essas incertezas, podemos utilizar de 2 práticas que me ajudam a questionar as premissas que estou usando nas projeções:

Primeira prática é, comparar os múltiplos gerados pelo modelo de projeção com os múltiplos atuais de mercado de uma série de empresas comparáveis.

Dada a relevância do valor presente da perpetuidade no valor total do equity de uma empresa, é fundamental calcularmos os múltiplos de lucro líquido e EBITDA em relação aos resultados esperados no ano final de projeção.

A segunda prática é manter o conservadorismo das projeções, principalmente no cenário básico da modelagem.

Nesta altura do artigo, o leitor deve estar se preguntando quais informações gerenciais os executivos da empresa podem extrair do modelo do fluxo de caixa descontado. Seguem as mais relevantes:

Drivers de valor

Chamamos de drivers de valor aquelas variáveis com maior impacto para a determinação do valor intrínseco de uma empresa. Em geral, os drivers de valor mais “populares” são crescimento da receita e margens operacionais. Sugiro que se investigue com um pouco mais de carinho o investimento do capital de giro e a estrutura de capital que podem ser drivers de valor importantes e passam batidos em muitas análises de valuation.

Estrutura de capital

Por envolver um menor risco de pagamento, o custo de dívida é menor que o custo do capital próprio. E mais: o custo de dívida tem o benefício de ser dedutível do pagamento de impostos. Portanto, é quanto mais dívida uma empresa tiver, menor será seu custo de capital médio ponderado. Uma empresa com pouca alavancagem, pode criar valor assumindo mais dívida, desde que esta dívida adicional não aumente significativamente seu risco de default.

Custo do capital próprio (CCP)

Variável fundamental para a gestão de qualidade de uma empresa e com pouca atenção dada a ela na maioria das companhias. Além de seu impacto no valuation de uma empresa, o CCP é a taxa de retorno mínima requerida para um novo projeto financiado com capital próprio.

Impactos do investimento em capital de giro no valor da empresa

O investimento em capital de giro é redutor do fluxo de caixa livre em uma empresa em crescimento. Portanto, qualquer redução nas necessidades de capital de giro terá impacto positivo no valor da empresa, e vice-versa. Como reduzir as necessidades de capital de giro? Redução do prazo de recebimento dos clientes, aumento no prazo de pagamento dos fornecedores, melhoras na gestão do estoque.

Criação de valor

Quando pensamos em medir criação de valor para o acionista, pensamos no EVA, o Economic Value Added que, grosso modo compara o Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) da empresa ao seu custo do capital médio ponderado (WACC). ROIC maior que o WACC significa que empresa está criando valor e ROIC menor que WACC significa destruição de valor. Mas uma outra maneira de se medir criação de valor é comparando os resultados do valuation pelo fluxo de caixa descontado em diferentes cenários e ver a diferença dos resultados; quanto maior o valor final do equity, maior o valor criado.

Concluo o artigo com uma pergunta:

Ficou claro para o leitor que a modelagem do fluxo de caixa descontado é mais que uma metodologia de valuation; que é na verdade uma ferramenta de gestão que qualquer empresa deveria considerar?

Leia também:
Inovação é risco e oportunidade

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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