Longevidade empresarial deveria ser um objetivo a ser perseguido

Existe hoje muito ceticismo em relação a pensar o longo prazo no Brasil.
Curioso eu estar escrevendo isso na semana do cultuado evento de inovação SXSW em Austin no Texas, com recorde de presença de brasileiros, no qual diversos pensadores apresentam suas visões para o mundo no longo prazo.
Quando um sujeito cria uma startup, na maioria dos casos ele (ou ela) está pensando em como irá viabilizar o exit, isto é, a venda de parte ou de toda a empresa que irá tornar tangível o seu retorno financeiro.
Mas será que em muitos casos não seria mais interessante criar uma empresa que irá viver centenas de anos?
No Brasil dos últimos 50 anos (ou mais), aqueles que pensam no longo prazo são tachados de ingênuos, sonhadores ou mesmo “burros”.
Como pensar em longo prazo se no Brasil “até o passado é incerto?”
Confesso que não dá para refutar completamente as alegações que no Brasil pensar no longo prazo é quase um exercício acadêmico.
Mas eu bato o pé: se queres administrar com excelência a tua empresa, pensar o longo prazo é necessário, traz insights bem relevantes e é atividade importante no processo de colocar a empresa da longevidade empresarial.
Grande parte de empresários e executivos no segmento de pequenas e médias empresas enfrentam as seguintes “dores”:
- Dificuldades em crescer ou mesmo manter sua posição de mercado;
- Ansiedade com o futuro do negócio;
- Métricas de desempenho inadequadas;
- Processo de tomada de decisão pouco ou nada estruturado;
- Qualidade deficiente dos relatórios gerenciais;
- Ceticismo com pensar cenários de médio/longo prazos;
- Dificuldades no relacionamento com bancos, investidores e demais stakeholders (clientes, fornecedores, comunidade, funcionários);
Para aliviar as dores descritas acimas recomendo a adoção das seguintes 5 ações:
1-Qualificar métricas de desempenho e relatórios gerencias; definir tese de investimentos de médio e longo prazo;
Resultados esperados:
- Melhoras na qualidade da tomada de decisões;
- Facilitar a comunicação com bancos, investidores e demais stakeholders;
- Redução do custo de capital;
- Estar preparado para busca de funding estratégico quando necessário.
2-Criar a prática de fazer benchmarking com empresas pares locais e internacionais
Resultados esperados:
- Se manter atualizado com as melhores práticas e desempenho médio de empresas do seu setor;
- Buscar sinais de onde pode haver fontes para melhoras operacionais e/ou estratégicas;
3-Responder a seguinte pergunta: Qual a estratégia corporativa da tua empresa?
Resultados esperados:
- Entender qual o posicionamento competitivo da empresa e quão sustentável esse posicionamento é;
- Ajustar ou mudar estratégia se necessário;
- Buscar diferenciação e clara proposta de valor;
- Se tornar relevante para seu cliente.
4-Implementar conceitos de gestão baseada em valor onde gestão privilegia ações que impactem positivamente a criação sustentável de valor para seus stakeholders
Resultados esperados:
- Estruturar e qualificar as tomadas de decisão estratégicas da empresa;
- Identificar métricas e iniciativas que impactem positivamente o valor do negócio;
- Usar o processo de valuation da empresa como ferramenta de gestão.
5-Criar prática de reuniões periódicas para discutir cenários de curto e longo prazo para economia, setor no Brasil e setor no mundo
Resultados esperados:
- Antecipar necessidades de ajustes operacionais e/ou estratégicos em casos de mudanças no ambiente de negócios;
- Redução de riscos operacionais e estratégicos;
Pensar estratégicamente em como a empresa pode se preparar para aumentar sua relevância em seu setor de atuação.
Ao implementar as 4 propostas descritas acima, a empresa será capaz de:
- Aumentar sua relevância em seu mercado de atuação;
- Reduzir seu custo de capital;
- Estar preparada para financiar sua expansão com o melhor funding estratégico disponível;
- Criar valor de forma sustentável para acionistas, clientes, funcionários, fornecedores e comunidade e,
- Reduzir a probabilidade de ser surpreendida com mudanças estruturais no ambiente de negócios e em seu mercado de atuação.
Concluindo:
Pensar o longo prazo é qualificar a gestão da empresa que por sua vez, aumenta muito a probabilidade de se atingir a almejada longevidade empresarial.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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