Teses de investimentos: lideranças do venture capital analisam o uso de IA nos negócios

Investidores de capital de risco falam de aplicações promissoras de IA e destacam modelos de negócios alavancados em ecossistemas como uma das transformações que a tecnologia trará.
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Por Ednael Ferreira - 01/12/2023
5 min de leitura

As iniciativas de democratização da IA (Inteligência Artificial) feitas por organizações como a OpenAI apresentam o poder transformador dessa tecnologia para a sociedade e economia. No contexto atual de rápidas mudanças tecnológicas, investidores de venture capital têm direcionado seus olhares para as teses de investimentos que envolvem a aplicação da IA nos negócios. 

Grandes investidores do mercado de capital de risco se reuniram no C-Summit 2023 para discutir o tema e compartilhar suas teses de investimentos no maior encontro de C-Levels da América Latina. 

Atualmente, as aplicações de IA que estão surgindo com maior frequência estão relacionadas a ferramentas de vendas e customer success, além de soluções para aumentar a eficiência do próprio processo de desenvolvimento de tecnologia. 

Nesse contexto, Bianca Martinelli, sócia na Alexia Ventures, analisa que muitos negócios podem surgir “sem necessariamente terem uma barreira de entrada que vai fazer com que essas empresas sejam sustentáveis a longo prazo”. 

“A gente sempre espera, mas não dá pra contar com o desenvolvimento de tecnologia de IA vindo do Brasil em escala muito grande”, afirma Carlos Medeiros, sócio na VR Investment. Para ele, o cenário nacional possui um número reduzido de casos onde há desenvolvimento de tecnologias globais, havendo uma tendência maior de implementação de tecnologias já existentes.

Modelos de negócios alavancados em ecossistemas

Os investidores acreditam que novos modelos de negócios surgirão alavancados em ecossistemas. Isso porque essa estratégia revela uma barreira de entrada considerável. Com investimentos substanciais, é possível replicar plataformas e tecnologias, no entanto, o que se desenvolve ao redor delas pode ser o verdadeiro diferencial.

Laura Constantini, Chief Strategy Officer da Astella, destaca a importância não apenas dos canais proprietários, mas também da construção de sistemas de informações proprietários. Com a presença da IA, o cruzamento dessas informações proprietárias com outras fontes de dados torna-se uma prática fundamental. 

A ideia de que um produto completo, especialmente em estágios avançados, pode ser entregue não apenas por canais próprios, mas também por meio de parcerias e terceiros, alinha-se com o potencial da IA. 

Essa sinergia permite a geração de insights valiosos para diversos stakeholders, ampliando a compreensão do ecossistema em torno de uma plataforma ou tecnologia. A capacidade da IA em processar e analisar dados de maneira abrangente contribui significativamente para a eficiência e a inovação dentro desse contexto.

“Servir a muitos e beneficiar a muitos, inclusive complementando a oferta de serviços de tecnologia, acaba criando o irreplicável”, pondera Constantini. 

Nesse sentido, Martinelli ressalta que a distribuição desempenha um papel crucial, indicando três componentes-chave no processo. O primeiro componente refere-se à entrega da tecnologia para o cliente final, o segundo envolve a implementação interna na própria empresa e o terceiro está relacionado à colaboração com parceiros estratégicos.

Encontrar o parceiro adequado não é uma tarefa trivial, segundo a investidora da Alexis Ventures. Ela destaca o papel dos investidores em fornecer aprendizados valiosos provenientes de outras empresas em seus portfólios. Essa abordagem sublinha a importância não apenas da tecnologia em si, mas também da estratégia de parcerias eficazes como elemento crucial para o sucesso nos negócios.

Curiosidade pela IA em reuniões estratégicas

Constantini afirma que em suas reuniões de conselho “Não há nenhuma startup que não esteja conversando sobre [a implementação de IA]”. Para ela, os marketplaces despontam como uma entrada promissora para iniciar o desenvolvimento da IA, dada a robustez de seu modelo de negócios, que abraça uma vasta quantidade de dados proprietários. 

“Pedimos para todo o nosso portfólio refletir sobre o tema, terem uma opinião, uma avaliação clara sobre como a IA pode otimizar a proposta de valor inicial”, corrobora Martinelli. 

A investidora também afirma que, em empresas cuja estruturação de dados são parte principal da oferta de valor, a discussão é mais densa. O custo alto de GPU para processar dados a longo prazo é uma questão crucial nos conselhos para escolha das tecnologias, modelos e como priorizá-los.

Medeiros assinala a necessidade de exame sobre competências e sistemas que podem ser substituídos por IA. O sócio da VR Investment alerta que com mais tecnologia o número de seres humanos é reduzido, mas, em contrapartida, os seres humanos que ficam são substancialmente mais importantes.

“Eu acho que as questões de escala e escassez de talentos vão tomar um outro patamar com a discussão de IA. Não ficaria surpreso em ver empresas com receitas de U$50 e U$100 milhões com times menores que 100 ou 200 pessoas”, analisa Medeiros. Diante dessa situação, “trate muito muito bem o talento que você conseguir trazer pra dentro de casa”, completa. 

Aplicações de IA promissoras

Martinelli revela que algumas das apostas da Alexia Ventures para aplicações de IA estão no setor da saúde e do varejo. A investidora destacou a NeuralMed no seu portfólio. A empresa realiza a triagem de pacientes de forma mais efetiva usando cerca de 200 algoritmos proprietários e IA. “Eles fazem uma redução de custos enorme para uma seguradora e para o paciente trazem o impacto de prevenir a doença”, avalia.   

No âmbito de conteúdo, uma aplicação comum, Martinelli enfatizou a preferência por plataformas “all in one” que permitem a utilização de diversos Learning Management Systems (LMS) e a criação de fluxos de trabalho intuitivos, aplicáveis a diferentes equipes de empresas. 

“Temos olhado muito para os SaaS verticais com possibilidade de monetização por transação, saindo um pouco da parte de subscrição. Tipicamente, são soluções que podem ser muito aprofundadas, vão se tornando cada vez melhores no que fazem , aumentando a barreira de entrada”, expõe Constantini, além de destacar os marketplaces como investimentos da Astella. 

A inovação do setor financeiro brasileiro é vista como uma oportunidade para Medeiros. O investidor afirma que tecnologias como o Pix e o Drex são pioneiras em todo o mundo e por isso será possível criar aqui um “ambiente único de IA e finanças”, com soluções inovadoras para prevenção de fraudes e risco de crédito, por exemplo. 

Por fim, Martinelli enfatiza a importância do c-level em reconhecer a necessidade de educar talentos no campo da inteligência artificial. Em um cenário empresarial cada vez mais impulsionado pela inovação, a capacitação e compreensão aprofundada desses talentos são elementos cruciais para desencadear o pleno potencial das novas tecnologias. 

Leia também:
Do Open Finance aos “Super Apps”: a nova era das finanças

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