Governança sem criação sustentável de valor não é governança

A adoção de melhoras práticas de governança, começando pela montagem de um Conselho comprometido com geração sustentável de valor, é condição necessária para que uma empresa atinja a longevidade empresarial.
Foto de perfil do autor
PorSérgio Goldman - 09/09/2024
3 min de leitura

No mundo do ESG, minha percepção é que o E e o S são os popstars enquanto o G de governança corporativa fica como ator coadjuvante.

Entretanto, se uma empresa busca de fato poder falar que implementa as melhores práticas de ESG, ela precisa colocar os três conceitos no mesmo nível, pelo menos.

Digo pelo menos porque na minha visão, as atividades de governança corporativa, o G, serão aquelas que, se bem, definidas e implementadas, irão garantir que a empresa possa dizer que de verdade, aplica ao melhores práticas de ESG.

No Brasil, o conceito de governança corporativa ficou muito ligado a regulamentos, procedimentos e controles que garantam que as empresas atuem de forma ética, respeitando seu relacionamento com todos seus principais stakeholders, a saber: acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, comunidade e governo.

Mas é muito importante que tenhamos em mente que para uma empresa ter governança de qualidade, é necessário que ela tenha na composição do seu Conselho um grupo de pessoas que estejam comprometidas com a criação sustentável de valor, ou em outras palavras, comprometidas com a longevidade empresarial.

Comprometimento com a criação sustentável de valor para todos os seu stakeholders é para mim o principal benefício para uma empresa implementar as melhores práticas de governança corporativa.

Volto a insistir que a composição do Conselho é fator-chave para a empresa buscar criação sustentável de valor.

Por exemplo, nos dias de hoje, é injustificável ver um Conselho de Administração sem um membro que seja um especialista de verdade no tema inovação.

Para empresas de capital aberto, ou que estão considerando um IPO, é adequado que o Conselho tenha alguém com experiência comprovada em como funciona de verdade o mercado de capitais.

Toda empresa, independente de tamanho, deve buscar minimizar seus vários tipos de risco: riscos operacionais, riscos de mercado, riscos estratégicos, risco de imagem, riscos cibernéticos etc. Com isso, gestão de risco é outra competência relevante para empresas que busquem longevidade.

Quando pensamos em valuation, um questionamento que sempre faço é como a percepção de boa governança se comunica com os parâmetros utilizados na metodologia do fluxo de caixa descontado.

Vejo dois canais de comunicação entre as práticas de governança e o valuation de uma empresa.

O primeiro canal é operacional: um conselho bem montado e funcionando de forma adequada irá ser capaz de proteger a geração de fluxo de caixa da empresa, principalmente em tempos de turbulência, além de ser capaz de contribuir ativamente na busca de novas oportunidades para expansão do fluxo de caixa.

O segundo canal está ligado com a percepção que investidores e demais stakeholders terão da empresa. Com a implementação de práticas corretas de governança, a expectativa é que o retorno esperado por investidores para investir na empresa se reduza ou, em outras palavras, espera-se uma redução no custo de capital próprio da empresa. Quanto menor o custo de capital próprio, maior será o valuation da empresa.

Portanto, a adoção de melhoras práticas de governança, começando pela montagem de um Conselho comprometido com geração sustentável de valor, é condição necessária para que uma empresa atinja a longevidade empresarial.

Leia também:
A importância do aconselhamento independente

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

Compartilhe

Este artigo foi útil?

Artigos Relacionados

Compartilhe