Expectativa de novos movimentos estratégicos no setor de saúde

O United Health Group (UHG), uma das maiores empresas de saúde do mundo, com valor de mercado de US$ 445 bilhões, confirmou que está retomando as iniciativas para a venda de seus ativos no Brasil, o que inclui a Amil, com 5,4 milhões de segurados, além de uma rede de hospitais com 38 unidades e 4.100 leitos.
Se a venda de ambos os ativos acontecer, tem potencial de mexer com a estrutura competitiva do setor.
Hoje, parece haver um consenso de que os grupos mais competitivos no setor de saúde no Brasil são os verticalizados, isto é, os que possuem atividades de hospitais, clínicas especializadas e seguro saúde.
No momento, Rede D’or e Hapvida são os dois grupos que podem já ser considerados verticalizados.
Vejo 3 principais motivos para que ambas não se envolvam com os ativos da UHG:
- Rede D’or e Hapvida estão ainda em processo de absorção de suas aquisições recentes, processo que vem se mostrando mais complexos do que o esperado;
- Grupos estão alavancados; existe espaço limitado para tomar dívida adicional para financiar novas aquisições relevantes e,
- Seria bastante difícil para ambos aprovar novas aquisições relevantes no CADE.
Dentre as empresas listadas, sabemos que no passado a DASA se interessou em comprar a Amil. Estrategicamente seria um bom fit pois tornaria o grupo verticalizado.
O desafio aqui é viabilizar a aquisição dado que nos últimos 3 anos a DASA vem lutando para absorver a compra de alguns hospitais e adicionar agora ativos complexos poderia adicionar novos problemas gerenciais.
Um player mais low profile, mas não menos “musculoso” é o Bradesco Saúde.
Vale lembrar que o Grupo Bradesco Saúde possui hoje um dos principais negócios de seguro saúde do Brasil, além de participação relevante em Fleury. Além disso, está expandindo sua atuação em hospitais com a construção de novas unidades, algumas em parceria com outros players do setor.
A aquisição da rede de hospitais no Brasil da UHG seria um movimento estratégico importante para tornar o Bradesco Saúde ainda mais relevante no setor.
Um movimento estratégico interessante para o Grupo Bradesco seria:
- Aquisição dos hospitais da UHG (aquisição da Amil acho que seria barrada pelo CADE);
- Spin off dos ativos de saúde em uma nova empresa chamada de Bradesco Saúde;
- IPO desta nova empresa que muito provavelmente negociaria a múltiplos mais elevados dos que as ações de Bradesco negociam no momento;
Além destes players do setor, fundos de private equity, ou um consórcio deles, devem mostrar interesse em adquirir os ativos da UHG.
Acho pouco provável que outros grupos estrangeiros demonstrem um apetite real para investir de forma relevante no país neste momento.
Por quê?
- Custos da saúde vêm aumentando no país acima da inflação geral e parece não haver uma intenção real de tentar achar uma posição conciliadora que agrade planos de saúde e prestadores de serviços;
- Muitas das empresas do setor, listadas e não listadas, estão bastante alavancadas;
- A população tem tido muita dificuldade para manter seus planos particulares de saúde. O percentual de segurados no Brasil é de 25% apenas há muitos anos. Parte relevante dos segurados vem mudando seus planos para opções menos custosas;
- Envelhecimento da população brasileira é uma realidade que requer visão estratégica do setor para se preparar para demandas ainda mais complexas.
Para aqueles investidos em ações do setor, oportunidades e riscos existem.
Uma estratégia que pode ser interessante é se posicionar nos players de nicho, principalmente aqueles que muito provavelmente serão consolidados, mais cedo ou mais tarde.
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Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.