O que irá influenciar o mercado de ações no Brasil nas próximas semanas…

Execução da política fiscal, juros longos, bolsas dos EUA e China são algumas das variáveis para se ter no radar.
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PorSérgio Goldman - 04/09/2023
4 min de leitura

No ano, até o final de agosto, o Ibovespa acumula uma alta de +5,5%, valor bem menor que a rentabilidade do CDI no período, que foi de aproximadamente +8,6%.

O Índice de Small Caps subiu +8,1% no ano até o final de agosto, variação esta também inferior à variação do CDI no mesmo período.

Olhando no retrovisor (coisa que não devemos fazer, mas muita gente faz), a variação da Bolsa no ano, apesar da euforia demonstrada por muitos agentes de mercado recentemente, pelo menos até agora, não foi suficiente para remunerar os investidores pelo risco adicional de se expor em ações.

Olhando para frente, que é a postura certa para aqueles que investem no mercado de capitais, quais devem ser os principais drivers a influenciar a precificação dos ativos brasileiros?

Execução da política fiscal

O arcabouço fiscal foi aprovado. Muitos ficaram satisfeitos com sua aprovação, mas acho que esta reação é prematura. Primeiro porque o novo arcabouço levará a um aumento adicional da carga tributária que, como venho defendendo sempre que posso, já é excessivamente elevada. E, segundo que com ou sem arcabouço aprovado, no fim das contas o que vale é o resultado fiscal a ser reportado. No Brasil, já vivemos várias situações em que, apesar de termos uma política fiscal vigente, os resultados efetivos foram negativos o que levaram a uma deterioração da relação dívida/PIB.

Comportamento da taxa de juros nos títulos longos

A probabilidade de a trajetória de queda da Selic ser mantida nas próximas reuniões do COPOM é alta. Entretanto, considero que para os preços de ações, o comportamento das taxas longas de juros é mais relevante. O nível das taxas de juros de longo prazo é bastante influenciado pelas expectativas quanto à execução da política fiscal. Portanto, mais um motivo para considerar os resultados fiscais como drivers para o mercado de ações. A taxa real de juros do título pós-fixado do Tesouro com vencimento em 2032 está em 5,31% ao ano. Uma execução fiscal dentro do esperado por alguns meses pode trazer esta taxa para abaixo de 5,0% ao ano, o que teria impacto positivo sobre o mercado de ações. 

Crescimento econômico no Brasil

O PIB do 2T23 divulgado na 6ª feira surpreendeu positivamente. Mas já é dado de retrovisor. O mercado incorpora expectativas baixas para o crescimento econômico em 2024. Surpresas positivas nos dados de atividade a serem divulgados deverão impactar positivamente o mercado de ações. 

Desempenho das bolsas nos Estados Unidos.

Existe uma correlação forte entre o comportamento da bolsa brasileira com o Nasdaq e o S&P500. Dificilmente o mercado de ações local conseguirá se desconectar do que acontecerá nas bolsas daquele país no futuro próximo. A decisão do FED em aumentar ou não a taxa básica de juros na sua próxima reunião de 19 e 20 de setembro e como se comportará a taxa do título de 10 anos do Tesouro Norte Americano (hoje em 4,19%) devem ser acompanhados de perto.  

China

Desempenho da economia chinesa, eventuais medidas para aceleração da economia que tenham credibilidade são fatores relevantes para o desempenho do mercado brasileiro. 

Fluxo de recursos para os fundos de ações no Brasil

Em agosto, apesar da queda da taxa Selic, houve uma saída adicional de R$1,8 bilhões no volume investido em fundos de ações no Brasil. No ano, a saída acumulada dos fundos de ações foi de R$39,9 bilhões. Nos fundos multimercados, que investem parte de seus recursos em fundos de ações, houve uma entrada líquida de R$ 7,4 bilhões em agosto, revertendo um período de fortes saídas de recursos. No ano, houve uma saída acumulada de R$49,3 bilhões dos fundos multimercados.

Conclusão: 

Vocês podem observar que várias variáveis irão influenciar o mercado brasileiro no futuro próximo. As incertezas em relação ao comportamento de curto prazo do mercado de ações no Brasil permanecem altas. Mantenho minha visão de que os investidores com visão de médio/longo prazo devem aproveitar alguns preços de ações atraentes para aumentar posição. Para aqueles com visão de curto prazo, acho as incertezas ainda elevadas e sugiro cautela.

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 foi contribuidor da coluna Palavra do Gestor no jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC do Rio Janeiro, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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