Como a macroeconomia impacta as intenções de M&As e IPOs?

Um crescimento econômico baixo, inflação moderada, déficit fiscal e juros altos são fatores que não favorecem essas operações.
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PorSérgio Goldman - 21/10/2024
3 min de leitura

Nos últimos dias, li uma série de artigos mencionando expectativas de diversos atores do mercado de um aumento na atividade de fusões e aquisições (M&As) e de IPOs em 2025.

A pergunta que não quer calar é: como esta expectativa de aquecimento na atividade de aberturas de capital e de compra e venda de empresas casa com o cenário macroeconômico esperado?

Para analisar esse possível “casamento”, devemos começar sumarizando a expectativa do mercado para o comportamento dos principais indicadores macroeconômicos em 2025:

  • Crescimento do PIB próximo de 2%;
  • Inflação ao redor de 4%;
  • Resultado primário consolidado de aproximadamente -0,7%;
  • Taxa de câmbio com leve apreciação em relação ao patamar atual, mas com elevada volatilidade;
  • Selic deve fechar em 11,5% em 2024, caindo levemente para 11% no fim de 2025 e,
  • Muito importante: visibilidade do cenário macro futuro bastante limitada.

 Esse não é um cenário amigável para operações de M&A e IPOs.

Acredito que um cenário mais positivo para essas operações deveria ter crescimento econômico mais forte, juros em queda e mais importante: os players do mercado e da economia real deveriam estar mais confortáveis com a visibilidade do desempenho da economia brasileira.

Com isso em mente, fico me perguntado o porquê das expectativas de aquecimento das atividades de M&A e IPOs.

Com relação às operações de M&A, vejo 2 possíveis motivos:

1. Existe um universo de empresas que são pressionadas por acelerar seu ritmo de crescimento. Essa pressão pode vir da necessidade de a empresa crescer a fim de manter ou até evoluir em sua relevância no seu setor de atuação. Mas pode vir também dos investidores que alocaram recursos nela e, através de um maior crescimento, esperam ver uma apreciação do valor do negócio onde investiram.

2. Ao mesmo tempo, com a alta de juros dos últimos meses e consequente aumento de alavancagem, muitas empresas estão tendo dificuldades para manter sua rentabilidade e vem perdendo parcela de mercado. Isso cria oportunidades para empresas com maior acesso a capital adquirir empresas que enfrentam alguma dificuldade financeira ou de mercado.

Em relação a IPOs, vejo uma maior correlação entre cenário macro e atividade de operações.

Por isso, acredito que só haverá aquecimento de IPOs se e quando o mercado se sentir mais confortável com o cenário macro. Para isso, é fundamental que haja mais confiança com a situação fiscal do país e, em função disso, a taxa de juros voltasse à sua trajetória de queda.

A busca por crescimento continuará sendo um dos principais tópicos de discussão estratégica por parte da alta administração das empresas.

No Brasil, esse tema é ainda mais complexo uma vez que o crescimento econômico tem sido medíocre há mais de 40 anos e olhando para frente, me parece haver uma probabilidade baixa desta tendência ser invertida.

Gosto de olhar para a fórmula de crescimento implícito para analisar as possibilidades que uma empresa tem para acelerar seu crescimento:

Crescimento Implícito = (Retorno sobre Patrimônio Líquido) x (1-payback)Portanto, para uma empresa aumentar as expectativas de crescimento ela precisa aumentar seu retorno e/ou reduzir seu payback, isto é, reduzir o montante de recursos distribuídos como proventos.

Leia também:
Fatos e falácias da política, da economia e das finanças

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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