Como as empresas brasileiras se preparam para as incertezas do futuro?
Um dos calls macroeconômicos mais evidentes dos últimos 10 anos foi prever a alta da Selic quando ela estava em 2% ao ano durante a pandemia.
Entretanto, passados alguns anos e com a Selic chegando a 13,75% ao ano, empresas passando por dificuldades financeiras usaram a alta das taxas de juros para justificar esta situação.
Com todo respeito a essas empresas, eu diria que, das duas uma: ou as dificuldades financeiras foram causadas por outros fatores ou essas empresas tinham um processo de planejamento que não funcionou (ou talvez as duas coisas).
Há alguns anos, perguntei ao responsável pela área de RI de uma das principais construtoras listadas na B3 como a empresa analisava o cenário macroeconômico.
A resposta foi:
Fazemos reuniões periódicas internas para discutir os dados econômicos, as vezes com a presença de algum economista do mercado.
Fiquei um pouco preocupado, dada a forte correlação do setor de construção com os dados de inflação, juros e renda.
Esperaria que a empresa tivesse um processo mais estruturado de pensar o futuro.
Quando começamos a olhar empresas menores, a falta de uma metodologia para pensar o futuro me parece bem mais evidente.
Eu sugeriria fortemente que empresas de qualquer tamanho criem uma metodologia para pensar em 2 tipos de “futuro”:
Primeiro tipo seria o cenário macroeconômico e como ele impactará o setor de atuação da empresa.
Vale a pena trazer pessoas de fora da empresa, mas é importante que estas pessoas tragam uma visão diferente da do consenso; a visão consensual qualquer um que leia os jornais tem acesso.
O segundo tipo seria uma visão mais abrangente, englobando aspectos competitivos e estratégicos, riscos ao setor e à empresa, impacto de inovações, aspectos ESG etc.
Para esta visão mais abrangente o uso de ferramentas e metodologia de foresight estratégico são recomendadas.
Enquanto fora do Brasil existe muita atividade de pesquisa acadêmica e aplicada em foresight estratégico, incluindo seu uso por empresas, o chamado foresight estratégico corporativo, pouco escutamos sobre seus usos por empresas brasileiras, mesmo as grandes empresas listadas em Bolsa.
A visão de boa parte dos agentes de mercado parece ser que pensar no futuro é uma atividade inútil, considerando as incertezas inerentes à economia e ambiente de negócios no Brasil.
Meu argumento seria diferente.
É exatamente por vivermos em um ambiente de extrema incerteza que precisamos pensar em como o futuro poderá se desfraldar.
Pensar no futuro é pensar em cenários e em como as empresas deverão se posicionar para navegar em cada cenário antecipado.
De maneira nenhuma pensar no futuro significa apostar em eventos específicos ou, como se diz popularmente, usar bola de cristal.
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Sua empresa está preparada para o futuro?
Sobre o colunista
Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.
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