[Expert XP 2023] Boris Johnson fala sobre a possível nova ordem mundial
O último painel do primeiro dia da Expert XP 2023, maior feira de investimentos do mundo, contou com a presença de Boris Johnson para discorrer sobre os tópicos de geopolítica atuais. A conversa com o ex-primeiro-ministro do Reino Unido teve o suporte de Fernando Ferreira, Estrategista Chefe e Head of Research da XP, e Rachel de Sá, Chefe de Economia e Head de Conteúdo da Rico.
Ao ser questionado sobre sua visão sobre o estado atual do Brasil, Johnson lembrou que essa é a sua primeira passagem pelo país e afirmou ter gostado de conhecer Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo: “Ele me lembrou muito a mim mesmo, tem muitas ideias de infraestrutura. Ele quer privatizar a área de saneamento”.
“Esse é o caminho certo”, aprovou Johnson, que também falou de sua surpresa na recente visita ao MASP: “Vi Van Gogh, Vi Monet. Esse museu é custeado pelo setor privado. No meu país seria custeado pelo governo, seria custeado pelos cidadãos”. O ex-primeiro ministro disse que, apesar das controvérsias, a privatização deu certo em seu país.
Johnson também argumentou que a privatização foi importante também durante a pandemia, na colaboração entre Reino Unido e Brasil no programa de distribuição da vacina AstraZeneca. “[A vacina] salvou milhões de pessoas. Quem salvou? Foi o mercado, não os contribuintes”.
O britânico também defendeu a democracia liberal: “Eu adoro o BRICS, foi uma ótima ideia, mas, no final, que música as pessoas vão querer ouvir? A música das democracias liberais. Astro do rock chinês? Não é o que as pessoas querem. O direcionamento está nas democracias liberais”.
“Putin jamais atacaria a Ucrânia se vivesse numa democracia parlamentar”, argumentou logo após afirmar que, apesar das tensões, é necessário manter os regimes democráticos pelo mundo.
A separação de sistemas políticos
Johnson se declarou cético sobre a tese de desacoplamento global. “A China está crescendo e isso não é um risco, é um desafio. O país representa 1/5 da humanidade, possui povos brilhantes, por que iríamos querer fazer deles nossos inimigos? A gente não quer eles controlando o sistema crítico”.
“A minha mensagem é: não subestimem as democracias liberais”, reiterou. O político mostrou entusiasmo com o crescimento estadunidense e exemplificou a expansão citando o aumento de carros elétricos da Tesla no Reino Unido e pagamentos que o governo fez à empresa para aumentar a banda larga no país.
Guerra na Ucrânia
Johnson elogiou a postura do Brasil em relação à Ucrânia e disse acreditar na vitória do país europeu. “Vai ser difícil, mas vai acontecer. Os ucrânianos estão lutando pelo seu lar e pela sua família. É um sentimento nacionalista. É o sentimento mais forte que há na política”, falou.
“Os ucranianos têm todas as chances nas próximas semanas ou meses de avançar no sul e causar um pesadelo para os russos”, acrescentou.
O ex-primeiro ministro disse que não acha coerente fazer um acordo com Putin e analisou que não há possibilidade de escalonamento da guerra. “Eu não acho que ele [Putin] seria tão insano, porque ele imediatamente perderia o apoio da China. Perderia imediatamente o meio termo que ele tem. Perderia o apoio de muitos países que dão a ele o benefício da dúvida. Seria a primeira vez que alguém usaria uma arma militar com raiva desde 1945”.
“A gente precisa perder o medo de Putin. Ele tem essa aura ridícula de invencibilidade, mas ele vem perdendo cada vez mais na Ucrânia e nós não precisamos nos preocupar com o futuro político dele”, aconselhou.
“Be cool, São Paulo. Be cool, XP. Be cool, Brazil”, reforçou em seu idioma nativo.
Brasil x Reino Unido
Sobre as relações entre Reino Unido e Brasil, Johnson lembrou: “O Reino Unido é o seu 4° maior investidor e o Brasil é o único do BRICS que não tem um acordo de dupla tributação. Isso é loucura, tem que acabar”.
O britânico mencionou também a ideia de um acordo de livre comércio. “Como vocês podem tolerar um valor tão mais alto em um whisky Johnnie Walker?”, brincou.
Mudanças climáticas
O ex-primeiro ministro também validou o trabalho brasileiro na custódia das florestas tropicais e disse que “o resto do mundo precisa fazer isso também”. Também reconheceu a responsabilidade europeia na agenda ambiental: “O Reino Unido começou a construir fábricas no século XVIII. Eu aceito, levanto a mão. Mas agora estamos cortando as emissões de CO2”.
Eleições nos Estados Unidos
Johnson preferiu se abster quando questionado sobre as próximas eleições dos Estados Unidos. “Não quero danificar a chance de nenhum candidato oferecendo meu apoio”, disse. Porém, ele acredita que, independentemente do resultado, o país manterá a mesma posição em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.
Instabilidade política no Reino Unido
Ao analisar a recente crise no Reino Unido, onde três primeiros-ministros renunciaram ao cargo em poucos meses, o político exprimiu: “Não se enganem com o que está rolando de negatividade da mídia britânica. Estamos muito bem”.
Johnson elencou a independência do sistema jurídico da União Europeia e a pungência do sistema financeiro do país para justificar seu argumento. “Temos um unicórnio a cada semana”, disse.
Ao final do painel, Johnson foi questionado sobre seus planos futuros. Em tom jocoso, evitando falar sobre seus próximos passos na política, o britânico revelou ter um jantar marcado para o final da noite e, talvez, considerar uma expedição futura ao Brasil para encontrar um parente longínquo sobre o qual ouvira da mãe ainda criança. Na anedota, Boris Johnson contou como esse parente teria desaparecido ao adentrar as florestas tropicais de nosso país.
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