A palavra do próximo ano é FUTURO

Para o Brasil avançar, é necessário um planejamento de longo prazo que supere ciclos políticos. Pensar no futuro, segundo ele, é gestão de riscos, não adivinhação.
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PorSérgio Goldman - 16/12/2024
4 min de leitura

Investir em renda variável é pensar no futuro. Quem discorda desta afirmação não entende e não está preparado para investir em renda variável. Infelizmente, vemos vários profissionais de investimentos que teimam em sugerir que não é possível prever o futuro, portanto, para que pensar nele?

Discordo frontalmente deste pensamento.

Para investir com sucesso em renda variável, seja no mercado de ações, seja nos mercados privados tais como private equity ou venture capital, ou seja, comprando a participação em uma empresa, é fundamental pensar no futuro.

Não me interprete mal: pensar no futuro não significa adivinhar o que irá acontecer. Significa sim analisar os possíveis cenários e definir caminhos em caso deles se materializarem.

Poucas empresas no Brasil se preocupam em pensar no futuro. A desculpa é conhecida: o ambiente de negócios no Brasil é tão incerto que não vale a pena alocar recursos e energia para pensar no futuro. Vale a Lei de Zeca Pagodinho: “… deixa a vida me levar…” E muitas e muitas vezes, ao acreditar na mentalidade deixa a vida me levar, as empresas se esborracham.

Fora do Brasil, é muito mais comum vermos a preocupação das empresas em se preparar para os possíveis cenários geopolíticos, econômicos e dos ambientes de negócios em geral e setorial. 

Conceitos e ferramentas que facilitem a análise de cenários futuros são respeitados e utilizados e vão desde os mais tradicionais planejamento estratégico e foresight até os mais modernos tais como o conceito de future-readiness que busca analisar se as empresas estão preparadas para lidar com as transformações em seus mercados.

Há alguns dias, a prestigiosa empresa de inovação IDEO publicou um artigo cujo título é:

“Why Every Company Needs a Futurist-in-Residence”

Um futurista é um profissional que busca identificar sinais que hoje não passam de sussurros, mas que podem sinalizar que mudanças profundas estão a caminho. A atividade do futurista envolve principalmente:

  1. Buscar sinais no meio do ruído;
  2. Mapear os drivers de mudanças;
  3. Considerar os possíveis cenários futuros;
  4. Se preparar para mudanças estruturais que possam estar a caminho;
  5. Criar “artefatos vindos do futuro”, isto é, colocar em prática algumas das possíveis mudanças que a atividade de futurismo sinaliza com alta probabilidade de acontecer.

Sugiro a todos lerem o artigo e depois me respondam: Pensar no futuro é realmente energia jogada fora?

Voltemos para o título do artigo. Futuro é a minha palavra do ano de 2025. Sim esta ideia contém ironia.

Ao final de cada ano, define-se a palavra do ano que passou. A palavra do ano definida pela Oxford University Press é talvez aquela que ganha mais evidência em todo o mundo. Vocês já devem ter lido que para 2024, a palavra do ano foi “brain rot” (no caso uma expressão e não uma palavra apenas).

Achei ótima a expressão. “Brain rot”, cuja tradução literal significa apodrecimento do cérebro, ficou popular ao descrever os efeitos negativos de se consumir em excesso informação de baixa qualidade, principalmente nas mídias sociais.

Se você ainda não identificou que isso está acontecendo com todos nós, já está mais do que na hora de acordar e se tornar muito mais criterioso com as fontes de informação que você acessa.

No âmbito do mercado financeiro, não querendo generalizar, mas já generalizando, se você dá ouvidos a alguém que diz que é fácil ganhar dinheiro investindo e dando dicas muito simples de como ficar rico rapidamente, você está em processo avançado de “brain rot”.

Concluindo, porque “FUTURO” precisa ser a palavra do ano de 2025:

  1. O Brasil, que já foi considerado o país do futuro, necessita de um choque de realidade e para isso, precisa ter um projeto de país que coloque sua economia em trajetória de crescimento sustentável a taxas elevadas. Só assim veremos uma redução significativa da pobreza e das demais demandas sociais. Isso só será atingido se houver um plano de longo prazo que não seja interrompido a cada 4 anos, com a mudança do Governo de plantão. É fácil fazer isso acontecer? Claro que não. Mas sem pensamento estratégico, infelizmente, iremos continuar a patinar como país e sociedade e a expressão “país do futuro” que antes era usada com orgulho, continuará a ser usada como ironia;
  2. No âmbito das empresas, elas devem deixar de lado o pensamento que pensar no futuro é tentar adivinhar o que vai acontecer e assumir a ideia que pensar no futuro é parte da gestão de risco já que envolve antecipar como a empresa deve agir no caso de alguns diferentes cenários se materializarem e,
  3. No mundo dos investimentos, para aumentar a probabilidade de sucesso em investimentos em renda variável, investidores, gestores e analistas devem assumir que investir em equities sem pensar no futuro é caminho rápido para não entregar os retornos esperados;
  4. Na sua vida pessoal, o gradual aumento da expectativa de vida, é fundamental planejar como será a vida quando atingirmos idades avançadas. Aqui estou me referindo não apenas aos aspectos financeiros, mas também a fatores psicológicos e de qualidade de vida.

Espero que após ler esse artigo, você esteja convencido que, ao contrário daqueles que consideram pensar no futuro energia desperdiçada, de verdade, é fator de sucesso para tanto para vida profissional quanto para  pessoal.


Leia também:
Non-deal valuation: o dever de saber como aumentar o valor de sua empresa

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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