A análise de cenários dentro das empresas brasileiras

Sugiro às empresas, independentemente de seu tamanho, criar um grupo interno para pensar como elas devem se preparar para lidar com seus desafios, em diferentes cenários.
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PorSérgio Goldman - 07/10/2024
4 min de leitura

Na conversa com empresas e demais players do nosso ambiente de negócios, é comum escutar que em uma economia tão volátil como a nossa não faz sentido pensar em longo prazo.

Apesar de a maioria não admitir abertamente, ao não acreditar em pensamento de  longo prazo, muitas empresas não dão a importância devida à atividade de planejamento e de análise de cenários.

Mas é exatamente a análise de cenários que permitirá às empresas se prepararem para lidar com as incertezas do futuro.

A relevância de se pensar no médio e longo prazo é diretamente proporcional à volatilidade do cenário macroeconômico.

Sugiro às empresas, independentemente de seu tamanho, criar um grupo interno para pensar como elas devem se preparar para lidar com seus desafios, em diferentes cenários.

Esse grupo deve ser composto por profissionais de diferentes áreas e diferentes perfis e deve também ter a presença eventual de consultores que poderão preencher possíveis gaps de conhecimentos específicos.

Quanto pensamos em análise de cenários dentro das empresas, devemos dividir o tema em 3 universos: 1) a economia, 2) seu setor de atuação e 3) aspectos internos ligados ao seu posicionamento competitivo.

Cenários macroeconômicos

No Brasil, é comum vermos empresas de um certo tamanho contratar um consultor econômico para apresentar e discutir sua visão sobre o futuro da economia.

Mas a experiência mostra que a visão de futuro é limitada ao ano corrente e eventualmente ao ano seguinte. O longo prazo é negligenciado. Mas o objetivo de se pensar em cenários é exatamente buscar antecipar potenciais desenvolvimentos que não estão no radar da maior parte do mercado.

Uma outra questão sobre consultorias econômicas é que no Brasil, a grande maioria dos consultores pensam da mesma maneira e a pior coisa que pode existir em análises de cenário é se basear apenas em consensos muito arraigados.

Portanto, apesar de a análise de cenários macroeconômico não ser algo raro entre empresas médias e grandes, é importante que haja diversidade cognitiva no grupo de discussão de cenários e eventuais consultores.

Cenários no setor de atuação

As principais perguntas que o grupo de análise de cenários deverá discutir e responder são:

  • Qual a probabilidade do cenário competitivo ser modificado de forma relevante nos próximos 3, 5 ou 10 anos?
  • Nestes períodos, será que os líderes permanecerão líderes?
  • Riscos de novos entrantes dominarem o setor nos períodos considerados?
  • Como mudanças tecnológicas tais como inteligência artificial, big data, transformação digital etc. irão transformar a competitividade do setor?
  • Quais devem ser as principais transformações que a tecnologia irá causar sobre o supply chain e sobre os hábitos de consumo do seu cliente?

Esses são alguns exemplos das perguntas a serem feitas e que irão contribuir para a análise de cenários no setor de atuação da empresa.

Análise de cenários para o posicionamento da empresa

Onde a empresa gostaria de estar em um período de 3, 5 ou 10 anos?

Considerando a discussão sobre cenários macro e setoriais, o grupo de trabalho deverá ser capaz de pensar como a empresa deve se preparar para atingir seus objetivos.

Nestas reflexões, provavelmente aparecerão questionamentos em relação às decisões estratégicas que a empresa precisará tomar para atingir seus objetivos.

Alguns dos tópicos que deverão ser discutidos são: a) investimentos em inovação, b) necessidade de a empresa comprar algum novo negócio ou de vender algum negócio existente, c) mudanças na estrutura organizacional para lidar com os desafios futuros, d) campanhas de endomarketing para fortalecer ou mesmo modificar aspectos da cultura da empresa etc.

Reforço que o uso de análise de cenários é fermenta importante para a empresa se preparar para o futuro e é útil para gestão de riscos.

E ao contrário do que muitos consideram, não é uma atividade que deva ficar restrita a empresas grandes.

Leia também:
O que é uma empresa moderna em 2024?

Sobre o colunista

Sergio Goldman é colunista no Blog do Gorila e possui mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais da América Latina com foco em Equity Research, Distribuição de Renda Variável e Wealth Management. Possui vasta experiência na venda de produtos de renda variável para investidores institucionais locais e estrangeiros, tendo trabalhado em instituições financeiras como Baring Securities, Bear Stearns, Santander, Unibanco e Safra. Desde junho de 2023 atua com gerenciamento de portfólios na Barra Peixe Investimentos. Entre 2019 e 2023 atuou como gestor do FIA Esh Prospera, e entre 2014 e 2016 contribuiu na coluna Palavra do Gestor do jornal Valor Econômico. Formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RJ, tem mestrado em administração na COPPEAD, escola de negócios da UFRJ.

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