Planejadores financeiros precisam disputar atenção com finfluencers, diz CEO da Planejar

Pesquisa nacional sobre investidores brasileiros abre debate sobre papel de influenciadores digitais e aponta necessidade de comunicação mais assertiva por parte de certificados.
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PorEdnael Ferreira - 10/11/2025
4 min de leitura

A primeira pesquisa nacional sobre planejamento financeiro da Planejar, apresentada durante o Congresso Internacional da entidade em São Paulo, gerou debate sobre quem está efetivamente educando os brasileiros em finanças. Os dados mostram que 57% da população não conta com ajuda profissional e apenas 2% já contrataram um planejador financeiro. No espaço deixado em aberto, influenciadores digitais ganharam protagonismo, para o bem e para o mal.

No painel sobre o perfil dos investidores no Brasil, especialistas discutiram o que fazer para reverter o cenário de baixa adesão a serviços qualificados. A pesquisa revela que 49% dos brasileiros considerariam contratar um planejador, mas não dão o passo seguinte. Entre as razões, falta de clareza sobre o que o profissional efetivamente entrega.

“A pessoa quer saber o que fazer hoje e o que precisará fazer no futuro”, resumiu Felipe Paiva, Managing Director na B3. A frase sintetiza o desafio do profissional de wealth management: traduzir expertise técnica em orientação prática e acessível. Não basta dominar os pilares do planejamento financeiro — gestão orçamentária, investimentos, previdência, seguros, tributação e sucessão. É preciso comunicá-los de forma que o cliente compreenda o valor imediato e o impacto de longo prazo de cada decisão.

A questão é que essa tradução, quando existe, vem cada vez mais de quem não tem formação adequada. Influenciadores digitais de finanças — os chamados finfluencers — conquistaram audiência ao falar de dinheiro com linguagem simples e alcance massivo nas redes sociais. A pesquisa da Planejar mostra que 34% dos brasileiros preferem se informar sozinhos, via internet ou cursos e é justamente nesses canais digitais que os influenciadores se consolidaram.

Falha regulatória?

Altay de Souza, sócio na Naruhodo! e professor de psicologia na UNIFESP, trouxe ao debate uma medida recente da China que entrou em vigor em 25 de outubro. O país passou a exigir que influenciadores comprovem formação ou certificação técnica antes de publicar conteúdo sobre temas como finanças, medicina, direito e educação. A norma busca coibir disseminação de informações incorretas ou arriscadas em áreas sensíveis.

No Brasil, não há regulação equivalente. Qualquer pessoa com celular e audiência pode dar dicas de investimento sem nenhuma comprovação de conhecimento técnico. O risco não é apenas a informação errada, é o conflito de interesse não declarado, a simplificação excessiva de produtos complexos e a promessa de enriquecimento rápido.

Ana Leoni, CEO da Planejar, reconhece que os influenciadores “ocuparam um espaço que estava vago”. Trata-se do espaço de comunicar com assertividade, gerar interesse no tema e engajar pessoas que nunca considerariam procurar um escritório de planejamento financeiro. Para Leoni, profissionais podem e devem fazer isso também.

A declaração não é trivial. A certificação CFP®, representada pela Planejar no Brasil, exige formação técnica rigorosa e adesão a padrões éticos internacionais. São mais de 11 mil profissionais certificados no país — o quinto maior contingente do mundo. A oportunidade está em levar esse conhecimento qualificado para os canais onde o brasileiro busca informação.

O gap não é só de mercado, é de comunicação

A pesquisa mostra que o interesse existe: 97% dos entrevistados afirmaram pensar em situações como ter reserva emergencial, aposentar-se com tranquilidade ou planejar sucessão patrimonial. A questão é que essas pessoas não associam automaticamente esses objetivos à contratação de um planejador.

Entre os 43% que buscam ajuda, a maioria recorre a parentes e amigos (32%) ou profissionais bancários (11%). Planejadores financeiros aparecem em apenas 6% das menções.

Felipe Paiva tocou nesse ponto ao destacar que o brasileiro quer saber “o que fazer hoje”. A maior parte da população não busca otimização fiscal sofisticada ou blindagem patrimonial. Busca entender se consegue comprar um imóvel, quanto precisa poupar para aposentar, se o seguro de vida faz sentido. São perguntas básicas que, quando bem respondidas por um profissional qualificado, abrem caminho para relacionamento de longo prazo.

O desafio da linguagem acessível

Os dados da Planejar deixam claro: há mercado, há interesse, há disposição para pagar. As motivações declaradas para contratar um planejador são objetivas — 24% querem organizar a vida financeira, 17% buscam esclarecer dúvidas, 11% desejam controlar gastos. Não são demandas sofisticadas. São necessidades práticas mal atendidas.

O setor de planejamento financeiro enfrenta agora o desafio de construir presença nos canais digitais onde os brasileiros se informam. A certificação técnica é necessária, mas não suficiente. Sem tradução acessível e distribuição ampla, o conhecimento permanece distante do público que mais precisa dele.

Esta cobertura foi publicada com exclusividade na Wealth Trends Newsletter. Todas às segundas-feiras, mais de 7.000 advisors brasileiros recebem uma curadoria de conteúdo com tudo o que é preciso saber sobre o mercado de wealth no Brasil — de notícias a estudos robustos.

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