Futuro do Open Finance: apoio ao regulador e comunicação mais clara são a nova demanda

O Open Finance avança no Brasil em 2025 como um processo de abertura e compartilhamento de dados financeiros, com impactos que vão além do sistema bancário. O modelo que começou com contas em instituições bancárias, agora alcança investimentos e o mercado de capitais. Open Investments e Open Capital Markets ampliam o escopo, permitindo que dados sobre aplicações financeiras, posições em fundos e ativos negociados em bolsa circulem de forma padronizada e com o consentimento do cliente. No FEBRABAN TECH 2025, especialistas discutiram os próximos passos dessa transformação e os desafios para ampliar o uso efetivo dessas novas integrações.
A experiência do cliente no centro
Num mundo em que a tecnologia avança em ritmo acelerado, entender o rumo das transformações já é difícil hoje e tende a ser ainda mais desafiador amanhã. As inovações chegam antes que o mercado consiga absorver plenamente a anterior.
Nesse cenário, Guilherme Assis, CEO do Gorila, chama atenção para o que permanece constante: a necessidade de entregar uma boa experiência ao cliente. Segundo ele, a sofisticação tecnológica só faz sentido quando está a serviço da qualidade de atendimento e da hiperpersonalização na jornada do investidor. “O mercado acaba sempre evoluindo para experiência”, afirmou.
Para Ana Carla Abrão Costa, economista e Diretora-Presidente do Open Finance Brasil, a evolução do Open Finance representa uma mudança na forma de se relacionar com o cliente. Segundo ela, o sistema financeiro aberto quebra um paradigma histórico do setor: entender as preferências do consumidor já não basta. Agora, é preciso ter capacidade de entregar o que ele deseja, no momento certo e no canal de sua escolha.
União entre regulador e mercado abre espaço para reforçar o ecossistema
O Brasil figura entre os países mais avançados em Open Finance, fruto de uma agenda regulatória sólida e executada com método. Desde 2019, o Banco Central lançou memorandos, circulares e resoluções (como as de julho de 2024) definindo padrões técnicos, governança e obrigatoriedade de participação.
As autoridades reguladoras acompanham cada etapa do rollout em quatro fases, assegurando interoperabilidade via APIs padronizadas, credenciamento formal de participantes e evolução para produtos financeiros mais complexos, como investimentos e seguros.
Apesar dos avanços, o fortalecimento institucional ainda é um desafio na seara dos investimentos. Rafael Furlanetti, Sócio Diretor Institucional XP e Presidente da Ancord, analisou que a capacidade técnica da CVM é inegável, mas falta orçamento para acompanhar o ritmo das transformações. “A CVM é muito competente, mas não tem orçamento”, afirmou. Na visão dele, o mercado precisa contribuir para reforçar as estruturas regulatórias e garantir que o processo de abertura financeira avance com segurança.
Mais do que o nome “Open Finance”, é preciso comunicar o valor para o cliente
A comunicação sobre o valor do Open Finance ainda é um desafio para o mercado. Muitos clientes não entendem claramente os benefícios práticos do compartilhamento de dados, o que dificulta a adesão em larga escala.
Na visão de Furlanetti, essa aceitação depende de estímulo ao cliente. Segundo ele, o setor financeiro deve criar incentivos claros para mudar comportamentos.
Furlanetti citou o exemplo do cartão XP, que enfrentou resistência inicial dentro do próprio ecossistema da empresa por parte dos assessores. A adesão só ganhou força após campanhas de incentivo, como a recente ação que ofereceu facilidade na compra de ingressos para jogos da NFL. “Quase gamificar a experiência”, resumiu.
Em consonância, Patricia Peck, CEO do Peck Advogados e especialista em direito digital, apontou um caso de uso concreto para demonstrar o valor do Open Finance ao cliente. Ela sugere aproveitar a interoperabilidade do ecossistema para bloquear rapidamente o acesso a todas as contas e investimentos em caso de roubo. Esse tipo de funcionalidade reforça a segurança e serve como um incentivo eficaz para que os clientes concedam seus consentimentos.
O futuro transversal do Open Finance
Os especialistas concordam que a governança de dados permanece como o maior desafio para o avanço do Open Finance. No entanto, projetam que essa dificuldade será superada nos próximos anos. A inteligência artificial surge como ferramenta central para enfrentar essa complexidade com sua capacidade de automatizar processos, garantir segurança e aprimorar a gestão dos dados dentro do ecossistema.
Ana Carla Costa resume o ecossistema aberto como um conceito transversal. Para a CEO do Open Finance no Brasil, instituições financeiras, bancos e fintechs são realidades distintas, mas coexistem num ecossistema plural. Nesse cenário, o Open Finance funciona como um trilho, garantindo que o cliente navegue com segurança dentro desse universo amplo de opções.