O veredicto é simples: EBITDA é métrica simplista e errada para se medir real geração de caixa de uma empresa

O bom profissional do mercado deve saber que a decisão com base no EBITDA tem limitações importantes.
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PorSérgio Goldman - 15/01/2024
2 min de leitura

Na semana passada, o time de research em telecomunicações e tecnologia do BTG Pactual publicou um relatório em inglês cujo título traduzido é “O Conto de Fadas do EBITDA”.

A principal mensagem do relatório pode ser resumida pela seguinte frase: “…But the (disturbing) reality is that it has become a misleading metric and a bad proxy of a business’ cash generation and operating performance…”.

(… mas a (preocupante) realidade é que ele (EBITDA) se tornou uma métrica enganosa e uma aproximação errada da geração de caixa e de desempenho operacional de um negócio…”).

Em seu relatório, o BTG foca no setor de tecnologia. Mas não se engane: essa visão do EBITDA como métrica errada da geração de caixa se aplica a qualquer setor.

Não é à toa que o falecido Charlie Munger se referia ao EBITDA como: “bullshit earnings”.

O EBITDA é usado principalmente na análise de múltiplos, através do EV/EBITDA, e como indicador de alavancagem das empresas através dos indicadores Divída-Liquida-Sobre-EBITDA e EBITDA-Sobre-Despesas-com-Juros.

Para que os leitores entendam melhor os problemas de usar o EBITDA como ferramenta para tomada de decisões, gostaria de responder a duas perguntas:

  1. Porque o EBITDA não é uma aproximação razoável para a real geração de caixa de uma empresa?

    Porque o cálculo do EBITDA não considera as saídas de caixa para pagar investimentos, na aquisição de ativos e na gestão do capital de giro, e para pagar impostos, item que no Brasil é bastante representativo.
  2. Se o uso do EBITDA pode causar tantos problemas, porque é tão usado, até mesmo por profissionais do mercado?

    A resposta nua e crua: porque é fácil de usar.

    O cálculo do EBITDA é muito mais simples do que o cálculo do fluxo de caixa livre, que é a real medida de geração de caixa de uma empresa. Como profissional do mercado, algumas vezes estamos pressionados por tomar rapidamente uma decisão de compra ou venda de uma ação. Nestas situações, o múltiplo EV/EBITDA se torna útil para nos ajudar na tomada da decisão. Entretanto, o bom profissional deve saber que a decisão com base no EBITDA tem limitações importantes.

Não acho que o mercado passará a usar menos o EBITDA como proxy de geração de caixa.

Apesar de todas as evidências de suas limitações, como mencionei acima, a simplicidade do cálculo e uso do EBITDA continuará a atrair boa parte dos agentes de mercado.

E, infelizmente, aqueles que preferem seguir a multidão, não entender os conceitos e não exercer o pensamento crítico, vão reforçar o coro pelo uso de uma métrica que, como demonstrado de forma bem simples neste artigo, é inadequada para tomada de decisões importantes no mercado financeiro.

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