FEBRABAN TECH 2025 é marcado pelo amadurecimento nas discussões sobre IA

Em comparação com 2024, as conversas ganharam mais corpo com casos de uso, IA agêntica, debates éticos e mais. Leia o panorama com os principais destaques sobre IA que marcaram os três dias de evento.
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PorEdnael Ferreira - 13/06/2025
Atualizado em 17/06/2025
6 min de leitura

Nos dias 10, 11 e 12 de julho, o Transamerica Expo Center, em São Paulo, foi palco da 35ª edição do FEBRABAN TECH, maior evento de tecnologia e inovação do setor financeiro da América Latina. Com o tema central “A aceleração do Setor Financeiro na Era da Inteligência”, especialistas e líderes do mundo inteiro se reuniram para discutir os rumos da economia digital em diversas perspectivas. Neste ano, mais uma vez, a inteligência artificial (IA) foi protagonista. O que mudou em relação à edição anterior foi a maturidade das conversas. 

Com o crescimento dos casos de uso, os painelistas se aprofundaram nas questões estratégicas, na adoção de agentes de IA autônomos e nos debates éticos de uso da tecnologia. Confira o resumo das principais discussões. 

Aplicações de IA ganham tração nos grandes bancos

No tradicional encontro dos presidentes dos grandes bancos, os líderes destacaram a aplicação de IA nas suas instituições, com aumento expressivo de casos de uso em relação ao ano passado. “Chegamos na fase da colheita”, disse Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, se referindo ao retorno vindo dos investimentos feitos na tecnologia e na capacitação dos times. 

Richard Flavio Silva, CIO do Santander e CEO da F1RST (braço tecnológico do banco) exemplificou esse ROI ao explicar o “Pitch Maker”. Trata-se de uma ferramenta de IA que promete reduzir de 30 minutos para 1 minuto o tempo que assessores de investimentos levam para se preparar para conversas com clientes. A proposta é dar mais assertividade e escalabilidade ao atendimento da instituição.

O avanço da IA mantém aquecida a demanda por infraestrutura de dados. Diversos palestrantes reforçaram que, sem bases sólidas — bem estruturadas, acessíveis e confiáveis —, a promessa de destravar o potencial da IA se dilui. 

Simbiose entre as áreas de negócio e tecnologia precisa se fortalecer

Além disso, a intersecção entre as áreas de negócios e tecnologia foi bastante mencionada.

Christian Flemming, COO e CIO do BTG, disse que é necessário explicar com diligência para as unidades de negócio o uso não óbvio da inteligência artificial. Ele pontuou que já há algum tempo a indústria fala da necessidade dos times de tecnologia entenderem do negócio, mas somente agora chegou o momento dos times de negócio entenderem mais de tecnologia também. 

“A grande transformação vai acontecer quando business entender de IA com propriedade”, falou o executivo de tecnologia. Para ele, o letramento tecnológico dos profissionais da área de negócios vai permitir o aprofundamento das conversas. 

IA agêntica: sistemas ganham autonomia nas decisões

Outro tema quente no FEBRABAN TECH, a Agentic AI (ou IA agêntica) refere-se a sistemas de IA capazes de tomar decisões e agir de forma autônoma para cumprir objetivos definidos. Mais do que executar tarefas sob comando, esses agentes operam com certo grau de iniciativa, aprendendo com o ambiente e ajustando rotas conforme o contexto.

No debate sobre o impacto desses autômatos no mercado de trabalho, o Head de IA e Analytics do Banco do Brasil, Rafael Rovani, conjeturou um cenário heterogêneo: “as equipes serão mistas. Gestores serão, também, curadores”.

A implementação dessa integração entre seres humanos e máquinas envolve desafios. Por isso, Marcelo Braga, President and Technology Leader da IBM Brasil, acredita no aumento de áreas de IA Ops, que contarão com profissionais responsáveis por garantir o alinhamento, ética e resultados dos agentes de IA. 

Braga chamou atenção para a mudança cultural que acompanha a adoção da nova tecnologia nas empresas. “Querer aprender é diferente de ter que aprender. A curiosidade agora é mandatória em qualquer área”, afirmou. Para ele, a transformação digital exige uma postura ativa diante do desconhecido. Não é simples para lideranças seniores se abrirem para voltarem a ser aprendizes, reconheceu, mas é justamente essa disposição que define quem seguirá relevante.

Questões políticas e de sustentabilidade no desenvolvimento de IA

Conhecida por suas previsões certeiras, Elizabeth Bramson-Boudreau, referência mundial na avaliação de tendências e CEO e publisher da MIT Technology Review, também subiu ao palco principal do FEBRABAN TECH.

A especialista comentou a edição deste ano da lista “10 Breakthrough Technologies”, renomada publicação anual da MIT Technology Review. Ela destacou o aprimoramento da busca por IA generativa e o crescimento dos “small language models” como tecnologias inovadoras mais promissoras em 2025.

Enquanto a primeira marca uma diminuição nas alucinações da IA generativa, a segunda representa um potencial de entregar eficiência com menos custo.

Boudreau não deixou passar despercebido o tema da sustentabilidade. “Estamos prestando muita atenção no custo de energia”, disse. A fala aponta para um desafio crescente: conter o impacto financeiro e ambiental do processamento intensivo de IA.

“Nós não temos que aceitar passivamente, podemos direcionar o rumo da tecnologia”, falou a CEO da MIT Technology Review. A afirmação reforça a ideia de que o desenvolvimento tecnológico depende de escolhas conscientes sobre onde investir, como regular e quais prioridades adotar.

A visão otimista de Boudreau, no entanto, está sendo testada, segundo ela mesma. A palestrante afirmou que questões políticas impactam o avanço tecnológico. Nesse sentido, a estadunidense criticou as medidas restricionistas de Donald Trump em relação aos imigrantes. Para ela, o MIT e Harvard já estiveram entre as melhores instituições de pesquisa do mundo e a ideia de não permitir que “pessoas talentosas” do mundo inteiro façam parte desse ecossistema é alarmante. “Precisamos pensar a pesquisa universitária como uma grande fonte de ideias”, frisou.

Pela leitura dela, os próximos três anos serão marcados por uma lacuna na conexão entre academia e mercado, especialmente nos Estados Unidos. Nesse contexto, Boudreau acredita que países como o Brasil — que já demonstraram capacidade de liderança em ciência aplicada, como no desenvolvimento pioneiro de biocombustíveis — podem aproveitar a oportunidade para fortalecer sua posição e alçar mais protagonismo no cenário global de inovação.

Debate ético: Paul Romer afirma que “a inteligência artificial não é confiável”

Na contramão dos debates correntes, Paul Romer, ex-presidente do Banco Mundial, economista premiado e um dos convidados mais aguardados do evento, surpreendeu a todos ao afirmar que “a inteligência artificial não é confiável”.

A fala de Romer foi marcada por opiniões contundentes. Para ele, “os medos e as esperanças em relação à IA são exagerados”, pois ainda não há dados e pesquisas suficientes para mensurar o impacto dessa tecnologia em sua capacidade máxima.

O ex-presidente do Banco Mundial também avaliou que a IA não está pronta para a aplicação que se faz dela atualmente. A crítica se baseia na baixa taxa de precisão dos sistemas, que, segundo o especialista, é de aproximadamente 50%. “Ninguém quer uma resposta perto de ser confiável, queremos uma resposta confiável”, declarou. 

Romer também afirmou que as alucinações da IA comprometem o progresso humano, que “depende do compartilhamento honesto de ideias e da busca pela verdade”. Ele exemplificou com o caso de um advogado estadunidense que apresentou um parecer gerado por IA a um juíz e um Tesla em piloto automático. O parecer estava repleto de citações inexistentes, enquanto o carro atropelou e matou uma mulher. “Erros são caros”, disse. 

O economista analisou que o futuro da IA não deve ser construído por companhias que “buscam o lucro ao invés da verdade”. O desenvolvimento desses sistemas precisa acontecer como uma iniciativa pública, com base científica e de forma aberta, afirmou. 

O compromisso de Romer com a verdade também foi perceptível em suas correções durante a fala em relação à sua biografia. Ele foi anunciado erroneamente como vencedor do Prêmio Nobel de Economia. O economista, na verdade, é vencedor do Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, outorgado pelo Banco da Suécia. A comunicação de que ele é vencedor do Prêmio Nobel, no entanto, foi amplamente divulgada internamente no evento e na grande mídia.

O tom crítico de Romer foi um dos principais contrapontos ao entusiasmo que marcou boa parte das discussões sobre IA no FEBRABAN TECH. Porém, outros especialistas também mencionaram riscos relevantes e a necessidade de agir com responsabilidade, ainda mais em um cenário marcado pela forte pressão por inovação. O saldo é de que os próximos passos em direção à transformação digital impulsionada pela IA exigirão uma reflexão mais profunda sobre a construção da ética de uso dessa tecnologia.

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