Fórum Econômico Mundial 2022: 7 debates relevantes para o Brasil

O Fórum Econômico Mundial 2022 abordou, entre outros temas, o futuro da globalização, Amazônia, recuperação econômica na América Latina e criptomoedas, debates relevantes para o Brasil.
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Por Daniel Keny - 27/05/2022
Atualizado em 25/07/2022
7 min de leitura

O Fórum Econômico Mundial 2022 aconteceu em Davos, na Suíça, entre 22 e 26 de maio, pela primeira vez em dois anos. Neste intervalo, aprendemos a conviver com a pandemia e vimos uma guerra iniciar no leste europeu, trazendo implicações econômicas para todo o mundo. Além disso, o recente relatório climático da ONU alerta – de novo – sobre os perigos do aquecimento global.

A lista de desafios continua. A inflação nas alturas em países ricos afeta o crescimento global – mais do que isso, prejudica o padrão de vida das pessoas, fato que eleva a temperatura dos ressentimentos políticos e mina, cada vez mais, a credibilidade das instituições.

Diante da enorme importância dessas pautas, líderes políticos de diversos países, representantes da sociedade civil e do setor privado discutiram alternativas para o clima, para a recuperação econômica global, além de inovações tecnológicas.

Neste artigo, nós focamos nas repercussões do Fórum Econômico Mundial 2022 sobre recuperação econômica, com foco na América Latina e no Brasil. Mas abordamos, também, as tendências globais em finanças e tecnologia. Boa leitura!

O futuro da globalização

Se, por um lado, a lógica empresarial aponta para integração cada vez maior, por outro, há o risco de uma dinâmica geopolítica de fragmentação. Um relatório do Fórum Econômico Mundial 2022, intitulado “Quatro Futuros para a Globalização Econômica: Cenários e Suas Implicações”, puxa debates sobre pandemia, guerra na Ucrânia, aumento de preços da energia e dos alimentos e crise climática, sendo estes os desafios que podem desestabilizar a globalização.

Há uma demanda dos países de baixa e média renda por integração aos mercados globais, e o comércio internacional é apontado com um bom caminho de recuperação diante das crises atuais. Embora a globalização tenha criado oportunidades para milhões ao redor do mundo, hoje há desconfianças que se manifestam na forma de guerras econômicas ou cibernéticas, além de crises políticas, por exemplo.

No Fórum Econômico Mundial 2022, especialistas debateram sobre o tema. Você pode conferir o vídeo aqui (com legendas em inglês).

Guerra na Ucrânia

A Rússia, grande financiadora do evento há tempos, foi cortada da conferência este ano, mas não deixou de ser um dos focos dos debates. Como mencionado anteriormente, a guerra da Ucrânia tem fomentado a transformação geopolítica mundial, aumentando a preferência dos países em produzir internamente ou negociar apenas com economias próximas.

O discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi um dos destaques da abertura do Fórum. Por vídeo, ele ressaltou a importância de utilizar o que ocorreu no país como precedente à criação de ferramentas que previnam novas invasões antes que governos autoritários avancem contra outras nações. Ainda, foi salientada na ocasião a necessidade de um esforço mundial trilionário para a reconstrução da Ucrânia, além de mais armamentos e novas sanções à Rússia.

Para o mundo, os principais riscos levantados pelo Fórum, tangenciando o conflito do leste europeu, foram:

1. Interrupção do fornecimento de matérias primas e desorganização de diversas cadeias produtivas, com repercussão principalmente sobre a distribuição de alimentos e a elevação da insegurança alimentar;

2. Disparada do preço das commodities, principalmente energéticas, desencadeando uma onda de inflação global transmitida para todos os setores da economia;

3. Elevados riscos de recessão global pela contração da política monetária por parte dos Bancos Centrais mundiais na tentativa de conter a aceleração da inflação.

Leia também:
Rússia e Ucrânia: como a guerra afeta o preço das commodities

Amazônia e recuperação econômica

Em linhas gerais, líderes políticos da América Latina enfatizaram a agenda verde, a criação de empregos e o foco em bem-estar social como medidas que possibilitaram a reativação da economia. As mudanças climáticas que ameaçam a biodiversidade na região também foram discutidas.

Protagonista quando o tema é biodiversidade, a Amazônia foi abordada em um dos painéis realizados com líderes brasileiros no Fórum Econômico Mundial 2022. Helder Barbalho, governador do Pará, falou sobre parcerias subnacionais para a Amazônia, destacando ações para a redução do desmatamento, geração de renda e redução de emissões de carbono.

Barbalho ressaltou a importância dos grandes operadores financeiros globais compreenderem o valor da preservação e a necessidade de um modelo de desenvolvimento econômico sustentável, que traga equilíbrio climático, mas garanta emprego e renda para os brasileiros que moram na região amazônica. Para tanto, destacou a necessidade de demostrar para os investidores estrangeiros que o Brasil atua contra o desmatamento ilegal.

O tema também foi discutido por Gustavo Montezano, presidente do BNDES e um dos representantes do Brasil em Davos. Montezano defendeu que sejam feitos investimentos na bioeconomia e nas formas de exploração mais sustentáveis, afirmou, ainda, que a regulamentação e a legislação são basilares nesta transição.

Paulo Guedes faz projeções econômicas para a América Latina

O ministro da Economia comentou sobre a possibilidade de uma moeda comum entre Brasil e Argentina, o peso-real, ao defender maior integração na América Latina nos próximos 15 anos.

Sobre a crescente inflação no mundo, Guedes disse que teremos “águas turbulentas pela frente”. Mas ressaltou que considera o Brasil e a América Latina essenciais para garantir segurança energética e alimentar à Europa – vale lembrar que, durante o Fórum Econômico Mundial 2022, o governo brasileiro também busca atrair investimentos estrangeiros.

O ministro ainda discutiu práticas de governança, sociais e ambientais na região, o tão falado ESG. Guedes afirmou que o Brasil tem enorme potencial em energia limpa:

“Quinze por cento da nossa energia são eólica e solar e vamos dobrar isso, 65% são de hidrelétrica. Praticamente 80% são energia limpa. Quem vai produzir hidrogênio limpo para a Europa? Porque eles não podem depender do gás natural russo. Nós somos os candidatos, então quem quer produzir energia eólica vem para o Brasil.”

Saiba mais:
Fundos ESG: alternativa de investimento sustentável

Guedes ainda apontou a necessidade de maior integração da Europa com a América Latina e defendeu a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Quais foram as tendências em investimentos abordadas no Fórum Econômico Mundial 2022?

Com o mercado financeiro global sendo transformado pela digitalização, as empresas envolvidas nas cadeias de pagamentos, compensação e liquidação de transações têm a oportunidade de criar um novo mercado híbrido, que combina títulos tradicionais com ativos digitais.

Confira a visão de Michael C. Bodson, integrante do Fórum Econômico Mundial 2022 e CEO da empresa Depository Trust & Clearing (DTCC):

  • A digitalização oferece ao mercado de pós-negociação uma oportunidade de definir uma nova estrutura;
  • Acelerar a liquidação da negociação para D+1 é uma das principais iniciativas atuais;
  • Ao coletar e organizar digitalmente informações de negociações, as infraestruturas de pós-negociação ajudam os clientes a entenderem como os mercados estão se comportando.

 Neste vídeo da B3, você confere uma explicação rápida sobre o que é pós-negociação.

E sobre as criptomoedas?

Segundo relatório da ONG Oxfam, apresentado no Fórum Econômico Mundial 2022, o mundo ganhou 573 novos bilionários durante a pandemia. Alguns deles fizeram fortunas com criptomoedas, ainda que os últimos meses tenham sido ruins para esse tipo de ativo.

Apesar do momento não ser dos melhores, as criptomoedas chegaram às discussões do Fórum Econômico Mundial 2022 com a presença de importantes players do setor, mostrando sua grande relevância. Entre os especialistas, uma certeza: a necessidade de clareza regulatória para impulsionar mais inovações e remessas.

Leia também:
Melhores criptomoedas para investir em 2022: veja o top 5

Metaverso: busca por ética e segurança

O metaverso, claro, não ficou de fora. Foi lançada uma iniciativa que busca trazer mais ética e segurança ao metaverso e às tecnologias imersivas a ele relacionadas. Organizações dos setores público e privado, sociedade civil e órgãos reguladores falaram sobre ética e inclusão no metaverso, que tem potencial para ultrapassar US$ 800 bilhões até 2024.

O aperfeiçoamento de estruturas de governança foi uma das áreas em debate, com o desenvolvimento de tecnologias interoperáveis e inclusivas ocupando espaço destacado. Outro ponto reforçado foi a necessidade de uma estrutura cooperativa entre o setor privado, legisladores e os demais players, incluindo os usuários. 

Acessibilidade, segurança e inclusão foram apontados pelos players no Fórum Econômico Mundial 2022 como caminhos para a democratização da tecnologia.

Visão geral

O Fórum foi tido como mais eurocêntrico esse ano por conta tanto da ênfase dada ao conflito armado no continente, quanto pela falta de representantes chineses devido às políticas de restrição social adotadas no país e ao banimento de sua principal economia aliada, além da alteração da data do encontro, que, não fosse a variante Ômicron, teria ocorrido em janeiro.

A principal visão que permeia o noticiário ao final do evento foi de maior pessimismo para o crescimento global, devido à perpetuação da inflação elevada corroendo o poder de compra da população, à elevação da insegurança alimentar predominantemente nos países mais pobres, à elevação dos riscos de escassez energética nos países ricos e à fragmentação das economias mundiais.

A próxima edição do Fórum Econômico Mundial será realizada em janeiro de 2023, em Davos. 

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