Especialistas destacam a importância da interoperabilidade em um Brasil com múltiplas bolsas

A chegada de novas bolsas e a expansão das registradoras no Brasil estão redesenhando as engrenagens do mercado de capitais. A multiplicação de infraestruturas amplia as possibilidades, mas também exige novas respostas sobre integração, concorrência e segurança. Foi a partir dessas provocações que o ANBIMA Summit 2025 reuniu especialistas internacionais para discutir os caminhos possíveis nesse cenário de fragmentação e interoperabilidade.
A experiência de mercados mais maduros, como o dos Estados Unidos, mostra que múltiplas bolsas podem operar de forma coordenada, desde que exista uma base sólida de integração. A interoperabilidade entre plataformas permite que liquidez, ordens e informações circulem sem fricção. Quando isso falha, o risco é um mercado desarticulado, com baixa eficiência e visibilidade comprometida.
E, para especialistas, o Brasil precisa se antecipar e criar uma boa base tecnológica para fomentar a expansão da indústria de investimentos local. O desafio está em garantir consistência entre os dados, integração ponta a ponta e padrões claros entre as estruturas
Fernando Fairbanks, Head of Latin America Trading na Franklin Templeton, afirmou que a “A interoperabilidade permite que as bolsas possam se especializar em um tipo específico de produto”. Essa segmentação, segundo ele, pode gerar mais eficiência e competitividade.
Mas esse cenário mais aberto também expõe fragilidades. Com mais concorrência, aumenta a pressão por segurança e governança. A interoperabilidade exige estruturas tecnológicas robustas, capazes de proteger o sistema de riscos operacionais e ataques.
Nesse novo desenho de mercado, a atuação dos reguladores é ainda mais sensível. Fairbanks defendeu que todas as partes precisam ter acesso igualitário. Sem isso, a concorrência se desequilibra na largada. Não basta abrir o mercado. É preciso garantir que as condições de participação sejam as mesmas para todos, defende o executivo.
Patrick Ludden, Global Product Manager na State Street, afirmou que além dos bancos centrais reguladores, a responsabilidade de coordenar esse ambiente deve ficar com os provedores de tecnologia. São eles que podem garantir que o sistema opere com segurança e rastreabilidade, disse.
O cenário brasileiro de múltiplas bolsas começa a engatinhar
A competição à B3 no mercado brasileiro ganhou contornos mais concretos com o avanço da Base Exchange, projeto liderado pela Flowa Technologies, que planeja lançar uma infraestrutura de negociação e liquidação até o fim de 2025.
A Base Exchange aposta em tecnologias modernas, como liquidação em D+0 e conectores API que facilitam a integração com diversos participantes do mercado, reduzindo custos e aumentando a eficiência operacional.
O projeto visa oferecer uma alternativa competitiva ao modelo tradicional, ampliando a diversidade de players e promovendo maior resiliência ao sistema financeiro brasileiro.
Com a entrada de uma nova infraestrutura, a capacidade de integrar sistemas entre bolsas passa a ser um aspecto relevante para garantir a fluidez das operações e a consistência dos dados em um mercado brasileiro mais competitivo.